A contribuição do estudo do traseiro dos frangos serviu para que os cientistas entendessem o mistério da imunidade humana
Conheça o estudo sobre o traseiro dos frangos que revelou o mistério sobre imunidade humana
Bruce Glick, cientista avícola, tinha um interesse acentuado por frangos. De forma particular, ele buscava estudar o órgão localizado na cloaca, cavidade que, nas aves, funciona como fim do aparelho digestivo e também meio de reprodução. Certa vez, durante suas pesquisas*, Glick procurou seu orientador para perguntar o nome de uma glândula que ele removeu do traseiro de uma ave. O orientador explicou que aquele órgão se chamava “bursa de Fabricius”. E, tempos depois, esse órgão ajudou os cientistas a entenderem o mistério da imunidade humana.
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O nome do órgão era uma homenagem ao italiano pai da Embriologia, Hieronymus Fabricius ab Aquapendente (1533-1616), especialista em anatomia. Ele foi o primeiro a escrever sobre o assunto no início do século 17. Fabricius, no seu estudo, afirmou que a bursa era um órgão feminino no qual o galo liberava seu sêmen. Contudo, ele não estava certo. Pesquisas posteriores mostraram que a bursa estava presente tanto no macho como na fêmea. Por isso, não poderia conceber a função proposta por Fabricius.
A missão de descobrir qual era a função desse órgão foi dada a Glick que, estimulado por seu orientador, começou a revisar tudo o que se sabia até aquele momento sobre a enigmática glândula. Entretanto, ele não encontrou muita coisa, porém o que encontrou já era suficiente para fazê-lo suspeitar que ela tinha relação com o desenvolvimento. Para comprovar, ele chegou a remover cirurgicamente o órgão de dezenas de pintinhos, mas não conseguiu identificar nada relevante que o fizesse avançar na hipótese.
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A função da bursa de Fabricius e mistério da imunidade
Um pouco frustrado pelos resultados negativos, Glick devolveu os frangos que havia utilizado em sua pesquisa para a universidade. Outro estudante chamado Tony Chang pegou, sem saber, alguns desses frangos sem as bursas para demonstrar como eles produziam proteínas, também conhecidas como anticorpos, contra a salmonela se fossem vacinados.
Os frangos sem as bursas não produziram os anticorpos. Chang ficou surpreso com o resultado, pois, para ele, era certo que os animais produziram as proteínas. Somente depois, ele descobriu que os frangos estavam sem a bursa. Então, os dois estudantes perceberam que só os frangos que tinham bursa de Fabricius haviam produzido os anticorpos. Claramente, esse órgão misterioso era fundamental para que os animais realizassem a produção das proteínas.
O artigo dos estudantes sobre a importância da bursa, publicado na revista Poultry Science, em 1955, se tornou, tempos depois, um dos artigos mais citados da história sobre imunologia.
Contribuição para desvendar o mistério
Na Universidade de Wisconsin, nos EUA, uma equipe de pesquisadores estava procurando informações sobre a produção de hormônios quando se deparou com o estudo de Glick sobre a bursa de Fabricius. Eles repassaram o artigo para um médico que fazia experimentos semelhantes aos de Glick com o intuito de confirmar uma descoberta feita em 1961: que os linfócitos eram provenientes do timo.
Este médico se chamava Robert Good e, em 1968, foi responsável por liderar a equipe que realizou o primeiro transplante bem-sucedido de medula óssea humana entre não gêmeos idênticos. Inclusive, ele é considerado o fundador da imunologia moderna. Contudo, naquela época, seus experimentos que envolviam a remoção do timo de coelhos não haviam funcionado muito bem. Ele não notou nenhuma mudança significativa após as cirurgias.
Entretanto, com o artigo de Glick, Good e sua equipe vislumbram a possibilidade de haver uma dupla resposta para a questão que buscavam responder. Isso porque, talvez, o sistema imunológico dependesse de dois órgãos, e não apenas de um. Um dos colaboradores de Good, inclusive, era o pediatra Max Cooper. Cooper removeu o timo de um grupo de pintinhos e a bursa de Fabricius de outro grupo. Ele fez isso para testar a tese sobre a dependência dos dois órgãos.
De fato, Good comprovou que aqueles que não tinham a bursa de Fabricius não conseguiam produzir anticorpos, enquanto aqueles que não tinham timo produziam, mas em níveis reduzidos. A conclusão foi a seguinte: cada órgão produzia um tipo diferente de glóbulo branco, que atuavam juntos para combater uma infecção.
A imunidade humana
Antes de continuar, vale pontuar que os seres humanos não têm bursa de Fabricius, como os frangos. Contudo, eles apresentam dois tipos de linfócitos que atuam na resposta imune adquirida, assim como as aves estudadas. Todos os linfócitos são produzidos na medula óssea. Entretanto, vale ponderar que, enquanto as células T amadurecem e se diferenciam no timo, as células B amadurecem e se diferenciam na própria medula óssea (quando se trata dos homens). Esta última seria a bursa de Fabricius dos humanos, podemos dizer de forma leiga.
Por isso, no combate às doenças, as células B são capazes de produzir os anticorpos que atacam e memorizam os vírus que invadiram o corpo, dirigidas pelas células T. Estas também são responsáveis por matar as células já infectadas. Em conclusão, fica claro que a contribuição do estudo do traseiro dos frangos serviu para que os cientistas entendessem que, assim como as aves, os seres humanos também têm dois órgãos responsáveis pela produção de anticorpos. Além disso, fica claro que a imunidade humanada depende dos dois órgãos.
* com informações da BBC
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