REPORTAGEM ESPECIAL

Pequenos negócios e startups: a parceria que deu certo para a economia do Brasil

Os pequenos negócios representam 99% do total de empresas do País e são responsáveis por 30% do PIB nacional. E as startups estão cada vez mais oferecendo as ferramentas certas para o desenvolvimento desses negócios.

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29 de junho de 2022
Igor Silveira

Em 2021, foram abertas 682,7 mil microempresas e registrados 3,1 milhões de cadastros de Microempreendedor Individual (MEI) no Brasil, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O número representa recorde na abertura de novos negócios durante o ano. Os dados, calculados com base nos valores divulgados pela Receita Federal, sinalizam um aumento no número de empreendimentos de 19,8% em relação a 2020.

Pequenos negócios e startups: a parceria que deu certo para a economia do Brasil

Para o economista Wanderberg Almeida, a abertura de novos negócios é positiva porque estimula o crescimento do PIB brasileiro.

“Cerca de 60% dos empregos gerados no Brasil vem das micro e pequenas empresas, fazendo diminuir a desigualdade social. O nosso País é um empreendedor. Se olharmos os dados do IBGE, vemos que eles contribuem de forma direta com o PIB do Brasil. Isso porque os micro e pequenos empresários acabam contribuindo em diversos segmentos econômicos. O que faz com que a economia local seja fortalecida. As pequenas empresas trazem renda e geram emprego, principalmente”, afirma.

Olhando para o universo dos pequenos negócios, de acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae, hoje eles representam 99% do total de empresas do País e são responsáveis por 30% do PIB nacional. Por esse motivo, os investimentos e a transformação digital dessas novas empresas têm se tornado um assunto cada vez mais presentes nos cenários econômicos de diferentes estados brasileiros. Além disso, numa perspectiva de inovação, muitas têm sido também as ferramentas desenvolvidas por startups para ajudar esses pequenos negócios a desenvolverem suas atividades.

A tecnologia a serviço da gestão eficaz em pequenos negócios

A transformação digital envolve o uso de inovação e tecnologia nos processos de uma empresa. Devido às constantes mudanças da era digital, negócios que não marcam presença online ou não inovam na estrutura da empresa tendem a ter poucos resultados e até mesmo falir.

De acordo com a pesquisa Sobrevivência de Empresas (2020), a taxa de mortalidade de pequenos negócios pode ser de até 29% após 5 anos de existência, e o principal motivo pode ser o gerenciamento ineficaz. Os donos das microempresas ficam imersos em vender seus produtos ou serviços e acabam deixando a administração das outras áreas do negócio em segundo plano.

Com Wesley Albano, não foi bem assim. Ele é CEO da Multglass, empresa que oferece serviços de vidros para automóveis, como aplicação de fumê. A Multglass fica localizada no bairro Messejana, em Fortaleza, no Ceará. E, há algum tempo, o microempresário Wesley Albano resolveu transformar o seu negócio digitalmente. Para isso, com ajuda de uma startup, ele passou a potencializar a eficiência da gestão da sua empresa.

“O sistema atende todas as minhas necessidades e facilitou demais a vida da minha equipe, com ele passei a ter mais controle da empresa e assim melhorar nossos resultados”.

O sistema a que Wesley se refere foi criado pela startup Simplifica Gestão. A startup cearense oferece uma plataforma que integra o CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente) com Gestão de Negócios. Assim, o empreendedor tem acesso à toda a jornada do seu cliente. Além de fazer o gerenciamento da parte financeira e do estoque, é possível coletar dados que ajudam a identificar a satisfação do consumidor.

A nutricionista Sabrina Oliveira também utiliza a ferramenta Simplifica Gestão em seu dia a dia de trabalho. “Utilizar o CRM é uma experiência maravilhosa pra mim, como nutricionista e empresária. Pois, consigo ter todas as informações do meu negócio em todas as bases (comercial, financeiro, marketing e operacional) acompanhando os dados de ponta a ponta”, ressalta.

Monara Shainny, CEO da Simplifica Gestão, resume a proposta da sua startup da seguinte forma: “Não precisa ser complicado para ser completo. A nossa plataforma funciona online e roda em qualquer browser, desde um desktop a um mobile. Isso traz flexibilidade para o empreendedor que está às vezes na rua e precisa checar alguma informação.”

Ainda segundo Monara, ao começar no mundo do empreendedorismo, é necessário focar na experiência do cliente. Por isso, a ferramenta da Simplifica oferece serviços que podem identificar qual o consumidor ideal para a empresa e verificar a satisfação em toda a jornada do cliente. O sistema oferece tudo em um só lugar para facilitar os processos empresariais do micro e pequeno empreendedor.

A inovação e as possibilidades tecnológicas para os novos negócios

E a tecnologia não está só nos processos de gestão, está também no modelo de negócio proposto. Por exemplo: já pensou em chegar em uma loja e não encontrar um vendedor? É isso mesmo: você só precisa escolher o produto e utilizar um QR Code para pagar sua conta. Tudo isso de forma automatizada. Rodrigo Sandei Oliveira, de Palmas, no Tocantins, viu nessa ideia “futurista” uma oportunidade de criar um novo negócio. A Smart Door, empresa de Rodrigo, nasceu a partir da tecnologia que oferece essa experiência, tecnologia, inclusive, desenvolvida pela Klavi, startup cearense.

“Quando eu estava pesquisando uma ideia para montar um negócio, autônomo, eu descobri a Klavi. Eles me deram todo suporte”, conta o empresário.

Conheça mais sobre a Smart Door

Além do suporte tecnológico, Rodrigo ressalta que a facilidade de acesso ao sistema da startup tem garantido o sucesso e o reconhecimento da Smart Door. “É um sistema muito fácil de operar, prático, e eu estou muito satisfeito com o resultado. Espero que a tecnologia se expanda pelo Brasil. Contratei a Klavi para usar a tecnologia de automação e eu estou muito satisfeito”, elogia Oliveira.

A startup Klavi tem o propósito de auxiliar as vendas do varejo e criar lojas modernas, em pequenos espaços e sem a obrigatoriedade de funcionários. Com demanda de baixo custo, a startup cearense possibilita a expansão do negócio utilizando a tecnologia de inteligência artificial.

CEO da Klavi, Alderi França Jr explica que a startup trabalha para impulsionar o desenvolvimento de pequenos negócios.

“Os clientes Klavi quando vem até nós, eles buscam um parceiro de tecnologia para implementar nos seus negócios, que podem ser micromarketings ou varejos autônomos. E isso com a aplicação de aplicativo próprio, com o nome do cliente, com a identidade do cliente, com baixo custo e uma implantação rápida. Essas ferramentas permitem que esses negócios se posicionem como grandes empresas que investiram pesado em tecnologia e desenvolvimento, sem que eles precisem desembolsar ou montar times para isso”, afirma.

A partir da experiência que une startups e pequenos negócios, como no caso da Klavi com a Smart Door ou mesmo da Simplifica Gestão com a Multglass ou com profissionais autônomos, é possível perceber que esse é um “match” que dá muito certo. Entretanto, para que os novos negócios possam ter acesso tanto à tecnologia como à inovação se faz necessário investimentos e também informação relevante. Por isso, inúmeros programas de incentivo financeiro e também formativos são oferecidos tanto para os pequenos negócios.

Incentivo às pequenas microempreendedoras

Em Fortaleza, no Ceará, uma política pública de acesso ao crédito tem mudado a vida de mulheres empreendedoras, por exemplo. O Programa Nossas Guerreiras, iniciativa da Prefeitura de Fortaleza em parceria com o Governo do Estado do Ceará, fornece “crédito orientado de até R$ 3 mil para 17 mil mulheres de baixa renda, maiores de 18 anos, prioritariamente chefes de família e que desejem empreender”.

De acordo com informações da gestão municipal, o programa já capacitou 10.308 mulheres, beneficiando 782 mulheres com crédito orientado. O Nossas Guerreiras nasceu em 2021, no momento em que o mundo enfrentava as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19.

Para participar, o empreendimento deve estar localizado em Fortaleza, preferencialmente, em bairros de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-b). Esta é uma das condições apontadas pela gestão municipal como primordial para a continuidade da política social.

“Nossa ideia é garantir crédito orientado para compra de equipamentos, materiais e insumos, desde que os produtos estejam relacionados ao negócio. As beneficiadas terão carência de seis meses e poderão efetuar o pagamento em até 30 meses sem juros”, explica o secretário do Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Nogueira.

Adriana Gomes, de 41 anos, estava desempregada e com medo do futuro. Moradora do bairro São João do Tauapé, a costureira conheceu o Programa Nossas Guerreiras e resolveu se arriscar. Ela participou da capacitação, se inscreveu, se formalizou como MEI e já recebeu o valor do programa para a compra de insumos de trabalho.

“Eu estava desempregada, eu estava até preocupada com o que eu ia fazer.  Quando eu vi o anúncio no site, não pensei duas vezes, fiz o cadastro e recebi o dinheiro para investir”, conta.

De acordo com um recorte em uma análise por gênero, as últimas pesquisas realizadas pelo Sebrae apontam que existem cerca de 24 milhões de negócios liderados por mulheres no País. Esse número mostra a força do empreendedorismo feminino Brasil afora. A maioria dessas mulheres começaram a empreender por necessidade (55% delas) e depois de terem filhos, para conciliar a vida de mãe e como uma forma ter uma independência financeira.

Alice Mesquita, articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Sebrae no Ceará, explica a diferença do empreendedorismo entre homens e mulheres.

“As donas de negócios, comparadas com os homens, têm maior grau de escolaridade mesmo assim a maioria delas empreende em negócios como alimentação fora do lar e beleza, com estrutura de negócios mais simples e gestão tradicional, por terem afinidade com essas atividades. Enquanto os homens focam na inovação e tecnologia, isso faz com que os negócios comandados pelos homens acabem tendo um desempenho maior em termos de faturamento”.

Contudo, para incentivar o empreendedorismo feminino, o Sebrae desenvolve uma série de ações para inserir as mulheres nesse universo da criatividade e da inovação. Uma delas é o Projeto Sebrae Delas, que visa aproximar empreendedoras em uma troca de experiência e conexão com ecossistema de inovação e empreendedorismo, levando conhecimento nos diversos setores empresariais, desenvolvendo lideranças, valorizando competências e habilidades.

Vale destacar também que, além do crédito, o Programa Nossas Guerreiras oferece também curso Elaboração de Proposta de Negócios, que é gratuito e tem duração de 8h/a, realizado em formato on-line ou presencial.

Mais oportunidades para pequenos negócios e startups

Para ajudar os empreendedores a se adaptarem à realidade de constantes inovações, o Sebrae oferece também cursos e eventos gratuitos sobre transformação digital. De forma presencial e online, as oportunidades podem ser conferidas diretamente no site da entidade. Além disso, também é possível acessar diversos materiais gratuitos sobre o tema.

As startups também são contempladas por ações do Sebrae, pois elas têm contribuído para a sustentação e aprimoramento de pequenos negócios no Brasil. Tal prática é valorizada bastante. No Ceará, a unidade regional do Sebrae busca alternativas e disponibiliza formações para potencializar o sucesso desses microempreendedores, através, por exemplo, do programa ‘StartupCE’.

“O StartupCE é um programa realizado pelo Sebrae no Ceará que trabalha a Pré-Aceleração de Startups e a capacitação de empreendedores para colocarem suas ideias de negócios inovadoras no mercado de forma rápida e consistente. Ao longo de sua trajetória, mais de 200 startups já receberam mentorias e, desde 2020, o programa abrange também participantes do interior do Estado”, descreve o site da unidade cearense.

Neste ano, os 26 projetos escolhidos serão contemplados com a Bolsa Sócio Empreendedor, que pode chegar ao valor de R$ 78 mil. As inscrições seguem abertas até o dia 29 de junho, por meio do link.

Reportagem: Jonas Viana, Camila Mathias, Leilane Freitas e Glauber Sobral

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