A CPI da pandemia encontrou um objeto mais eletrizante
A Comissão Parlamentar inaugurada em 27 de abril de 2021 no senado federal pretendia, inicialmente, investigar os atos do governo federal para enfrentar o caos instalado em Manaus em janeiro de 2021. Com uma manobra política, o escopo foi enormemente ampliado para dar margem ao exame do comportamento, supostamente corrupto, de Governadores e de Prefeitos no combate à Pandemia.
Durante quase dois meses de trabalho, os depoimentos reforçaram o que era conhecido da população: a insistência do governo federal no uso de determinados medicamentos; a demora na aquisição de vacinas; a formação de um “gabinete paralelo”, com posicionamentos muitas vezes contrários aos do Ministério da Saúde, para decidir sobre as intervenções.
Todavia, no dia 25 de junho a comissão recebeu do deputado Luís Miranda e do seu irmão, Luís Ricardo Miranda, informações que ensejaram a suspeita sobre algo ainda desconhecido: supostas irregularidades no acordo do governo federal com a Bharat Biotech para a aquisição da Covaxin, vacina da empresa indiana contra a Covid-19
Mesmo com a manutenção das linhas anteriores de investigação, certamente o tema da corrupção concentrará os próximos esforços da maioria dos membros da CPI, pois atinge frontalmente as bases nas quais foi construída a imagem do então candidato Jair Bolsonaro e que permanecem caras ao governo.
No cenário formado para a eleição de 2018, após sucessivas denúncias de escândalos de corrupção envolvendo quadros do PT e dos seus principais aliados no Congresso Nacional, o postulante Bolsonaro apresentou-se como a solução para debelar a promiscuidade política no Brasil e reprimir os desvios de recursos públicos. Assim, defensores da moralidade pública foram convertidos em eleitores do candidato.
Ao assumir a presidência, a indicação do ex-juiz Sergio Moro foi o aceno para o público ansioso pela “limpeza” do Brasil. Com pouco mais de um ano no governo, o ministro Moro deixou o cargo provocando desconfianças ao denunciar a ingerência indevida do Presidente na Polícia Federal.
No inicio de 2021, a pactuação do presidente Bolsonaro com membros do parlamento para a eleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado, o aproximou de partidos políticos excessivamente apegados às benesses do poder, independente de quem seja o presidente de plantão.
Os eventos somados provocam o descrédito na proferida honestidade do governo e, com a vitrine montada pela CPI, o desgaste poderá se aprofundar ainda mais.
Finalmente, a política é um campo de disputa. Quando os interesses estão sendo contemplados, as forças convergem. Do contrário, o vale tudo torna-se a regra na busca por espaços de visibilidade e de sobrevivência.
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