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Pela primeira vez na história, as três novelas da Globo têm protagonistas negros

O portal do jornal britânico The Guardian traz em destaque representatividade de negros em novelas, um momento inédito na TV brasileira

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21 de maio de 2023
Portal GCMAIS

Um dos principais jornais do do Reino Unido publicou um artigo enaltecendo o protagonismo negro nas novelas da TV Globo. Atualmente a emissora possui, pela primeira vez, protagonistas pretos em todas as produções que fazem parte da programação durante o horário nobre.

Pela primeira vez na história, as três novelas da Globo têm protagonistas negros
Foto: Reprodução

O “The Guardian” publicou um artigo sobre o ineditismo nas novelas da Globo. Agora, a emissora tem protagonistas negros nas novelas das 18h, 19h e 21h. O jornal pontuou o momento como uma reparação do que antes era comum no canal de televisão, que já apresentou novelas com minoria negra.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 56,1% dos brasileiros se autodeclaram negros, grupo que reúne pretos e pardos. No entanto, boa parte das produções da Globo anteriormente tinham elencos com destaque apenas para atores e atrizes brancos. “Amor Perfeito” (18h), “Vai na Fé” (19h) e “Terra e Paixão” (21h), que apresentam histórias mais próximas da realidade brasileira, especialmente por retratar questões comuns entre as pessoas não-brancas.

Um dos destaques negativos da emissora foi “Segundo Sol”, novela das 21h ambientada em Salvador, na Bahia, que tinha um elenco majoritariamente branco, incluindo os protagonistas da trama. Isso, no entanto, era diferente da realidade do estado, que é o mais negro do país. De acordo com o IBGE, mais de 80% da população soteropolitana é negra.

Além disso, até os anos 2010, era comum ver personagens negros em cargos de inferioridade nas produções, como empregados ou escravos. “A grande vitória agora é que você não tem apenas atores negros […] Você tem personagens que têm direito aos seus próprios objetivos, personagens que não estão contando sua história pelas lentes do olhar branco ou como consequência de racismo”, comentou Elisio Lopes Jr, um dos autores de “Amor Perfeito”.

Rosane Svartman, autora e escritora do sucesso “Vai na Fé“, também falou com o jornal britânico sobre sua trama, que segue os passos de uma família negra do subúrbio carioca. “A sociedade quer se ver melhor representada na tela, e isso atrai o público”, opinou.

Confira o artigo na íntegra

As três principais novelas agora apresentam protagonistas negros após anos de branqueamento da maquiagem étnica do Brasil

Com sua dose diária de melodrama, suspense, romance e lágrimas, as telenovelas brasileiras nunca se furtaram de levar o comentário social para as salas de estar dos telespectadores.

Ao longo dos anos, as novelas de sucesso abordaram uma série de questões polêmicas, desde classe e sexualidade, até ditadura e desmatamento.

Mas, há décadas, a questão da desigualdade racial é notória por sua ausência: apesar de 56% da população brasileira se identificar como preta ou parda, suas novelas exibem uma gritante falta de diversidade – em alguns casos notórios, atores brancos chegaram a ser contratados para interpretar papéis negros.

Agora, pela primeira vez, as três telenovelas do horário nobre da Globo contam com protagonistas negros de destaque.

Seis dias por semana, Amor Perfeito (às 6h), Tenha Fé (às 7h) e Terra e Paixão (9h) servem a tradicional mistura de brigas familiares, romance, traição e resistência – mas interpretados por um elenco racialmente diverso.

Marca um momento inédito na TV brasileira, que há muito tempo não representa seus telespectadores.

“Quando havia [uma personagem negra] eles estavam sempre no papel de escrava ou trabalhadora doméstica, nunca em uma posição social mais elevada”, disse Marisa Silva da Paixão, funcionária municipal aposentada de 66 anos e observadora de telenovelas de Salvador. Como mulher negra, Silva disse que questionava a ausência de personagens que se parecessem com ela na tela.

A sub-representação de negros brasileiros em posições de poder continua sendo um problema arraigado em um país que ainda enfrenta o apagamento de seu passado afro-brasileiro. Ainda em 2018, a Globo foi repreendida publicamente 1 por exibir uma novela com elenco quase todo branco, apesar de se passar na Bahia, o estado mais negro do Brasil.

“A grande vitória agora é que você não tem apenas atores negros […] Você tem personagens que têm direito aos seus próprios objetivos, personagens que não estão contando sua história pelas lentes do olhar branco ou como consequência do racismo”, disse Elisio Lopes Jr, escritor negro de TV coautor de Amor Perfeito, drama de época dos anos 1940 cheio de personagens negros e desprovido de tensões raciais.

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Para produtoras como a Globo, que vem perdendo espectadores para a TV a cabo e plataformas de streaming nos últimos anos, abordar a preocupação com a diversidade também é uma forma de reconquistar audiência.

“A sociedade quer se ver melhor representada na tela, e isso atrai os espectadores”, disse Rosane Svartman, autora e criadora de Have Faith.

O programa de Svartman impressionou o público, marcando mais audiência do que seus antecessores recentes na faixa das 7h. Ambientado no Rio de Janeiro contemporâneo, Have Faith conta a história da mãe trabalhadora Sol, uma go-getter dos subúrbios sem glamour cujo sonho adolescente de ser dançarina não morreu completamente. A novela tem sido elogiada por apresentar uma ampla gama de personagens e dar palanque a temas antes ignorados, como a fé evangélica e o sincretismo afro-brasileiro.

“Have Faith for me é muito interessante porque trata de diversidade, diversidade real, diferentes tipos de pessoas negras”, disse Raquel Oliveira, uma guia turística carioca de 39 anos que se lembra de assistir a novelas quando tinha apenas quatro anos. “Somos um grupo diverso de pessoas, dentro da comunidade negra há pessoas que são evangélicas, há conservadores, progressistas, membros da comunidade LGBTQ+… A novela mostra isso.”

Esse é um esforço consciente da Globo, que no ano passado criou um novo departamento para melhorar a diversidade de seus conteúdos. Terra e Paixão, que estreou neste mês, conta com um elenco que inclui atores indígenas e trans, além de um ator mirim com albinismo, além de uma protagonista negra.

As atenções também estão voltadas para a representação por trás das câmeras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na semana passada um fundo de 3,8 bilhões de reais (US$ 760 milhões) para o setor audiovisual, que impõe cotas para representação negra e indígena em projetos de subsídios.

“Se você não constrói uma cadeia móvel dentro do setor cultural, o protagonismo [negro] das estrelas, da estética, da tela, é efêmero”, disse Samantha Almeida, que lidera o novo impulso de diversidade da Globo.

Como espectador, Oliveira concorda. “Essa representatividade só vale a pena se tivermos também pessoas negras escrevendo roteiros, dirigindo, produzindo.”

Mas isso ainda é um trabalho em andamento, segundo Lopes, o roteirista. “Não está conquistado, não consolidado.”

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