O especial multiplataforma “Sonhar e empreender: a receita para movimentar a economia”
conta com personagens que encontraram no empreendedorismo a base para construir uma nova vida
Sonhar e empreender: a receita para movimentar a economia
Os empreendedores Juliana Cavalcante, Rejane Colares e Victor César, um dos idealizadores do “Pratinho da Madrugada”, vivem ou planejam viver do “sonho de empreender” na cidade de Fortaleza, no Ceará. O grupo integra e reflete os dados do relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, realizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), que indicou que 60% dos brasileiros citaram ter uma empresa como um dos maiores desejos.
Empreender é apontada como uma tendência no Brasil, “apenas interrompida por causa de eventos excepcionais como a pandemia de Covid-19”, conforme o GEM. A taxa de 2022 repetiu o recorde de 2021 com 53% da população. A título de comparação, em 2017, essa proporção era de 15,3% da população. Em 2019 chegou 30% e, em 2020, já pandemia, chegou a 52% da população considerada como potencial empreendedora.
Em 2022, 53% da população brasileira era considerada como potencial empreendedora
“Os pequenos negócios têm um poder de inclusão muito grande. Eles estão em todos os municípios, eles contratam mais, eles são mais inclusivos e tenho defendido que o empreendedorismo é um dos caminhos para o Brasil sair novamente do mapa da fome e da pobreza. Temos 60 milhões de brasileiros na miséria e o empreendedorismo é um dos caminhos para reverter esse triste quadro”, analisa o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima, que traça um perfil das Micro e Pequenas Empresas brasileiras (MPEs).
Diante da importância dos Micro e Pequenas Empresas (MPEs) para a economia brasileira, o GCMais preparou o especial multiplataforma “Sonhar e empreender: a receita para movimentar a economia”, com narrativas de personagens que encontraram no empreendedorismo a base para construir uma nova vida.
No bairro Pequeno Mondubim, na capital cearense, com a empreendedora Juliana Cavalcante, que une a teoria e a prática na arte confeitar. Na Beira Mar, com o trio de empreendedores Victor César, Maria Luiza e Roberto dos Santos, que uniram as forças das amizades e lançaram o “Pratinho da Madrugada”, considerado hoje um dos pontos mais famosos de Fortaleza. E do outro lado da cidade, com a simpatia de dona Rejane, que garante o afeto dos moradores do bairro Parque Dois Irmãos pelo “Ponto do Café”. Boa leitura!
REPORTAGEM: GLAUBER SOBRAL e TIAGO LIMA
“Pratinho da Madrugada” é referência de empreendedorismo na Beira Mar de Fortaleza
A curiosidade de conhecer o “Pratinho da Madrugada” fez a técnica de enfermagem Clécya Pinheiro, de 20 anos, se deslocar do bairro José Walter, onde ela mora com a família, para provar o “tão famoso pratinho que está fazendo sucesso na Beira Mar de Fortaleza”. Pela primeira vez no point, a jovem avaliou o prato. “O tempero é bem diferente. É algo que você vê que tem um um sabor mais gostoso do que os outros, porque os outros, a maioria, são muito típicos”, elogiou a jovem.
A fila para comer o pratinho chama a atenção de quem passa pelo calçadão. Quem para, espera ansiosamente para comer todas as guarnições disponíveis. “Eu já tinha ouvido falar muito daqui e vim conhecer para provar. Fiquei, esperei na fila, comi e fiquei muito satisfeita. Com certeza pretendo vir outras vezes”, afirma Clécya.
“Fiquei muito satisfeita. Com certeza pretendo vir outras vezes”, prometeu Clécya
O pratinho dá água na boca. Tem no cardápio baião, creme de galinha, escondidinho de carne de sol, feijão tropeiro, salpicão, suflê de frango, vatapá e as opções de calabresa, carne de sol trinchada, filé de frango e linguiça toscana na chapa.
O ‘segredo’ do “Pratinho da Madrugada”
O cenário de frente ao mar encanta. O cheiro da carne sendo assada atrai quem passa pelo calçadão. Quem para no point pergunta: “quanto é o pratinho?”. O cliente pode escolher uma das quatro opções de tamanho: R$ 15, R$ 19, R$ 22 e R$ 25. E o movimento do público é “bem melhor no fim de semana”, detalha Victor César, um dos idealizadores do ‘Pratinho da Madrugada’.
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O negócio funciona todos os dias, exceto no último domingo de cada mês, das 20h à meia-noite. São cerca de quinze opções de guarnições. “Temos uma mistura de comidas típicas do Brasil, o que agrada muito nosso público. A gente foi pegando um pouquinho da culinária do Brasil e colocou ali naquele carrinho. Acho que a fama vem por causa que a comida é muito boa. E acho que gente está agradando todos os públicos”, analisa César.
“Acho que gente está agradando todos os públicos”, comenta o empreendedor César
O farmacêutico macapense Luís Otávio, de 37 anos, e que mora em Fortaleza há 11 anos, gostou dos sabores do “Pratinho da Madrugada”. Ele comparou a refeição com as que ele já experimentou em outras cidades. “A diferença daqui é o preço, a quantidade de comida, o atendimento e também a simpatia das pessoas que trabalham aqui. O ambiente também passa uma vibe bem boa”, elogiou ele, após degustar o pratinho.
Atualmente, a empresa possui 15 funcionários e produz comida para mais de 400 pessoas por noite.
“A diferença daqui é o preço, a quantidade de comida e o atendimento”, pontua Otávio
O trio e a força das redes sociais
Um conjunto de fatores fez o “Pratinho da Madrugada” ganhar visibilidade nas redes sociais, o que impactou positivamente na divulgação orgânica do negócio. Apesar da concorrência em uma área onde há diversidade de estabelecimentos comerciais, o “Pratinho” conseguiu um feito importante para quem deseja empreender: fidelizar os clientes. Com oito anos na Beira Mar, o negócio também conseguiu se reinventar e ganhar destaque em Fortaleza.
Mas o percurso para o “sucesso” dos empreendedores não foi tão “rápido assim”. “O Pratinho da Madrugada já existe aqui há esse tempo, mas não no ponto que é hoje. Até chegar aqui, nós passamos por quatro lugares diferentes”, destaca o empreendedor Victor César.
Saiba como surgiu o “Pratinho da Madrugada”, idealizado pelos amigos Victor César, Maira Luiza e Roberto dos Santos. Ouça:
Os idealizadores do “Pratinho da Madrugada” garantem o interesse de continuar empreendendo ali, naquele trecho da Beira Mar. “Nossa empresa já se tornou uma equipe. E nós estamos sendo observados por todos da sociedade. Por enquanto, nós vamos continuar no mesmo ponto. A Prefeitura autorizou a gente trabalhar por mais dois anos aqui. E agora que a gente está com oito meses. Então a gente tem mais um ano e quatro meses aí para dar continuidade ao ‘Pratinho da Madrugada’ neste ponto da Beira Mar. Futuramente, se Deus abençoar em um lugar maior, possa ser que a gente vá, mas o nosso foco é ficar aqui mesmo e agradar todos os públicos, o cearense, nacional e internacional”, frisa o empreendedor Victor César.
“O nosso foco é ficar aqui mesmo e agradar todos os públicos”, detalha o empreendedor Victor César
Todas os pontos comerciais em operação na Beira Mar são monitorados pela Prefeitura de Fortaleza, afirmou a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE). “A autorização para o uso de espaços públicos é uma concessão da Regional em que o equipamento/negócio está instalado. Por exemplo, na avenida Beira Mar todos os ambulantes, feirantes e permissionários em geral têm autorização da Regional 2 para atuar naquela área”, informou, em nota, a pasta municipal.
Os bolos da Ju têm sabor de infância
A paixão da empreendedora Juliana Cavalcante, de 32 anos, por bolos começou na infância. Tem sabor de molecagem. “Os bolos fazem parte da minha vida desde quando eu era criança, porque minha mãe fazia aqui em casa e eu sempre fui apaixonada por todos os sabores. Só na minha fase adulta tive interesse em aprender a fazer também, até que passei a ver vídeos no Youtube de bolos confeitados e me apaixonei pela decoração. E comecei a testar decorações sempre que minha mãe fazia um bolo simples em casa. Ainda lembro do primeiro bolo que confeitei, foi o de aniversário da minha mãe. Um bolo com chantilly branco sem corante e morangos frescos em cima. Mal eu sabia que ali começava meu sonho de vida”, emociona-se a jovem.
“Lembro que o primeiro bolo que confeitei foi do aniversário da minha mãe”, emociona-se a empreendedora Juliana
Despertada pela curiosidade de empreender, em 2015, Juliana deu um passo considerado hoje, por ela mesma, o mais importante de sua vida: “fazer bolo para vender”. E ao lado dela, a companheira fiel, dona Salete, “a mãezinha”, foi primordial para a concretização do sonho. “Nessa época, por gostar muito de comer bolo comecei a fazer de forma muito amadora e sem divulgação. Na verdade eu só confeitava, porque minha mãe fazia massa e recheio”, conta.
“Quero ser confeiteira”
O primeiro passo foi dado. Era preciso ir além. E Juliana foi. “Em 2022 vi um story de uma amiga de trabalho sobre um curso profissional de chantininho do zero. Daí deu um estalo na minha cabeça depois daquela publicação. Algo maior dentro do meu coração que eu não sabia que existia gritou para que eu fizesse aquele curso e eu segui meu coração sem pretensão nenhuma e fiz o curso em fevereiro daquele ano”, recorda a empreendedora.
Dia 23 de fevereiro de 2022 mudou a trajetória da hoje empreendedora Juliana Cavalcante. Nesta data ela fez o curso de chantininho, que “foi um marco” na vida dela. “Aprender a fazer e confeitar um bolo do zero despertou uma paixão fulminante no meu coração. Ali, naquele exato dia eu tinha descoberto o que eu queria pra minha vida: ser confeiteira!”, sorri a jovem.
“Aprender a fazer e confeitar um bolo do zero despertou em mim uma paixão fulminante”, lembra a empreendedora Juliana
Sonho x realidade
Juliana tem o apoio e divide o “sonho de trabalhar fazendo bolos” com os familiares. Dona Salete e o esposo Igor Lima a ajudam, sempre que possível. “Hoje conto muito com a ajuda da minha mãe na produção porque ainda me desdobro com os dois trabalhos, o CLT e os bolos. Às vezes, surge um pedido no meio da semana enquanto estou no trabalho, e peço para minha mãe adiantar algumas coisas antes que eu chegue em casa pra dar continuidade. E assim a gente vai dando conta de tudo. Hoje produzimos tudo na cozinha da nossa casa mesmo. E é o local que os clientes fazem a retirada dos seus pedidos. Tudo é pedido antes pelas redes sociais”, explica a jovem.
A empreendedora despertou para o digital no período de diminuição dos casos de Covid-19 em Fortaleza, em 2022. Foi naquele ano que a jovem decidiu realizar o sonho da sua vida: “trabalhar para ela mesma e fazer um perfil nas redes sociais para divulgação”. Hoje, Juliana se desdobra em um trabalho de carteira assinada e soma forças para garantir os pedidos do “Bolos da Ju”.
“Em um clique, o pedido tá feito”
A empreendedora aguarda com o celular na mão as encomendas chegarem. Moradora do bairro Pequeno Mondubim, na capital cearense, a jovem encontrou na força do digital o apoio que precisava para o seu negócio deslanchar. Fim de semana é o “melhor” período para os pedidos, entrega Juliana.
Nas redes sociais, o “Bolos da Ju”, exibe, com orgulho, as “delícias feitas com amor”. O perfil foi criado em 2022.
“Toda a encomenda é feita pelo Instagram e Whatsapp. Profissionalmente já iniciei no Instagram porque a página foi criada após um curso profissional que fiz. Por lá eu divulgo os bolos e doces feitos, e vão surgindo perguntas e pedidos. O cliente entra em contato, tira as dúvidas sobre valores, sabores e faz a retirada aqui. Mas antigamente era de boca a boca mesmo”, detalha Juliana, enquanto confeitava um bolo.
“A venda digital é mais econômica e despojada”, reconhece a empreendedora Juliana
De segunda a sexta-feira, Juliana desempenha funções no setor administrativo de uma empresa, no bairro Aldeota. No fim de semana, o foco é dar conta das encomendas. Por semana, a empreendedora recebe cerca de três a quatro pedidos.
Algumas vezes durante a semana, Ju, como gosta de ser chamada, também faz o preparo do bolo. Para isso, ela “madruga” quando precisa. É um esforço, que para a jovem, vale a pena. A estratégia de focar as encomendas nas redes sociais ajuda a jovem na organização das tarefas, como também garante um “boom” no número de vendas.
“Bolos da Ju” é 100% digital
A aposta no “Phydigital” foi uma virada de chave para Juliana no período da retomada econômica. Para o superintendente do Sebrae Ceará, Joaquim Cartaxo, as vendas no mundo digital contribuíram, de forma positiva, na mudança do perfil das micro e pequenas empresas (MPEs) brasileiras.
“A pandemia mostrou às empresas a necessidade de estarem presentes no mundo digital, mas isso não significou o fim das lojas físicas. Com o retorno das atividades, o comportamento dos consumidores vem demonstrando que eles buscam cada vez mais por experiências, o que a acaba exigindo dos empreendedores novas formas de lidar. Na pesquisa Transformação Digital nos Pequenos Negócios, que o Sebrae realizou no ano passado, 57% dos pequenos negócios entrevistados afirmaram possuir redes sociais ou website, 65% disponibilizavam em suas páginas e perfis catálogos de produtos e serviços e 45% realizavam reservas ou vendas online”, destacou o gestor.
“57% dos pequenos negócios entrevistados afirmaram possuir redes sociais ou website”, informa Cartaxo
O “Phydigital” apresenta-se como uma “tendência” de mercado, analisou Cartaxo. “Nós ainda não temos dados sobre o resultado das vendas das empresas que adotam esta estratégia em comparação às vendas das empresas tradicionais. Mas percebemos uma tendência cada vez maior de pequenos negócios que atuam no meio físico, também buscarem estar presentes no mundo digital. As empresas precisam cada vez mais entenderam que esses pontos físicos não devem ser eliminados, mas sim potencializados para oferecerem experiências cada vez melhores para os consumidores”, analisou o superintendente do órgão estadual.
Formalização e ponto físico nos planos
A empreendedora Juliana Cavalcante tem interesse em formalizar o “Bolos da Ju”. O interesse pela formalização do negócio faz parte dos planos da jovem. “Me tornando MEI e registrando minha marca acredito que será um bom começo. Nunca solicitei apoio ao crédito para viabilizar o meu negócio, mas tenho vontade sim. Já vi muitos pequenos negócios se consolidarem no mercado após terem esse ‘empurrãozinho’. Tenho planos de muito em breve focar só nos bolos e doces. Sendo assim, tendo tempo para produzir e vender todo dia, acredito que meu pequeno negócio possa crescer e prosperar”, projeta.
A formalização do negócio traz benefícios para o empreendedor, explica Cartaxo. “O principal deles é que a empresa passa a ter direito a sua ‘cidadania empresarial’, ou seja, a empresa passa a existir de fato e de direito na economia formal, ficando em situação de regularidade junto aos órgãos federais, estaduais e municipais e eliminando, assim, o risco de sofrer multas e sanções por não estar legalizada no seu mercado de atuação. Além disso, os empreendedores passam a ter acesso a direitos previdenciários, como aposentadoria, pensão por morte, licença em caso de acidentes de trabalho ou gravidez; ganham a possibilidade de acessar linhas de crédito diferenciadas, ao mesmo tempo que possuem mais chances do que os informais de fechar novos negócios e parcerias”, enumera o gestor.
O presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima, destaca dados dos benefícios da formalização dos MPEs Brasil afora. “Da perspectiva do negócio, a formalização permite que o proprietário faça negócio com grandes e médias empresas e com o governo, uma vez que possibilita a emissão de nota fiscal. Na 5ª edição da pesquisa Perfil do MEI, 69% afirmaram que a formalização ajudou a vender mais. Em 2019, foram 71% e em 2017 foram 78%. Ao conquistarem um CNPJ, eles aumentam sua renda entre 7% e 25%”, contextualiza.
Já a busca pelo ponto físico é pensado “futuramente”, confessa Juliana. “No momento não consigo manter um ponto físico. Precisaria investir em decoração, climatização e equipe. Com o faturamento atual esse custo ainda não é viável”, lamenta. “Acredito que haja necessidade de um ponto físico quando for preciso de mais pessoas trabalhando comigo, que a produção não seja mais adequada na cozinha da minha casa como é hoje em dia. E isso seria um up enorme”, prevê a empreendedora.
“Viver dos bolos”
O “Bolos da Ju” garante uma renda extra para a família da empreendedora Juliana Cavalcante. “Ajuda a pagar as contas”, pontua a jovem. Ela encontra suporte financeiro no emprego formal que desempenha durante a semana.
Mas o sonho dela é que toda a renda de casa brote dali, do que ela mais gosta de fazer que é “confeitar com amor”. Atualmente, o perfil nas redes sociais conta com pouco mais de 750 seguidores.
A meta é ganhar mais visibilidade, “é crescer ainda mais a produção de bolos”. “Meu objetivo é que trabalhar com os bolos seja minha maior fonte de renda, mas até que eu chegue nesse momento, continuo tentando. Tem meses que vendo muito e tem meses que vendo pouco, mas graças a Deus sempre tem. Mesmo sendo uma renda extra, consigo contribuir com as despesas de casa”, pontua.
“Meu objetivo é que trabalhar com os bolos seja minha maior fonte de renda”, planeja a empreendedora
Apesar das dificuldades, para chegar até o ponto de encantamento que chegou com o seu negócio até hoje, Ju investiu em outros ramos. Os projetos ajudaram na renda, mas não vingaram por decisão da própria Juliana. Ela encontrou no ramo da confeitaria o propósito de vida. Ouça:
Perguntada como se vê daqui a 5 a 10 anos, a jovem foi enfática. “Eu tinha pavor dessa pergunta porque eu nunca tive resposta pra isso. Essa pergunta sempre me incomodou por anos desde que comecei a trabalhar de carteira assinada. Porque de fato eu não tinha essa visão pra minha vida, não tinha resposta pra essa pergunta. E hoje eu tenho! Eu quero ser confeiteira, quero viver e me sustentar com frutos do meu trabalho. Quero ser dona do meu próprio negócio, quero ter condições de gerar emprego para alguém, quero ter autonomia na minha profissão”, projeta a empreendedora.
“Quero ser dona do meu próprio negócio”, projeta a empreendedora Juliana
Com a perspectiva de incentivar o empreendedorismo, o Sebrae atua na orientação e suporte para as MPEs, assegura Décio Lima. “Estamos em todos os estados brasileiros, temos mais de cinco mil pontos de atendimento, além do nosso portal e da central 0800. Em 2022, atingimos a marca de 10 milhões de empreendedores atendidos. Ao todo, foram 20 milhões de atendimentos, o dobro do que havia sido registrado em 2018. Além das capacitações e consultorias, também trabalhamos juntos aos governos Federal e estaduais na formulação de políticas públicas que melhorem o ambiente de negócios, como incentivo a crédito, redução de impostos e estímulos a iniciativas que incentivem o empreendedorismo”, conclui o presidente do órgão.
Empreender requer organização
“É lorota”. É assim que o articulador da Unidade de Inteligência Estratégica do Sebrae, Felipe Melo, responde a afirmação “Trabalhe com aquilo que você ama e não precisará mais trabalhar”.
“Trabalhe com aquilo que você ama e não precisará mais trabalhar?”
Para além da frase de efeito – É lorota -, a resposta contém muito mais que uma fala forte. É que empreender requer daquele que empreende uma dedicação integral, um conhecimento profundo e composição quase perfeita da equipe, quando necessária, reforça Felipe Melo.
Outra palavra obrigatória para quem empreende é gestão. 67% dos brasileiros possuem ou gostariam de abrir o próprio negócio. E desde a pandemia de Covid-19, esse número só aumenta. De acordo com a edição 2022 do relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, realizado pelo Sebrae e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), o Brasil está entre as nações que mais empreendem no mundo. 93 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos já cuidam do próprio negócio ou têm intenções pra isso.
E mais, os números demonstram realmente como o país se destaca em relação à força do povo para criar soluções e dar um jeito de ganhar a vida pelo empreendimento. O Brasil tem 42 milhões de empreendedores na ativa, conquistando a liderança mundial quando se fala sobre empreendedorismo, e os outros 51 milhões de potenciais empreendedores. Os dados foram coletados entre junho e agosto de 2022.
Retomada econômica
Para o economista Marcus Lima, após o “difícil momento” da pandemia de Covid-19, que fez o micro e o pequeno empreendedor sofrer pelos motivos da queda na atividade econômica, o período é de recuperação. Contribuem para um princípio de retomada o aumento no emprego e crescimento (ainda que muito tímido) do PIB, sustenta o especialista.
Marcus Lima reforça alguns problemas econômicos que podem prejudicar a manutenção de pequenos e micro negócios como a falta de uma âncora fiscal, ainda em debate no Congresso Nacional. “O pequeno tem passado por um momento de dificuldade por causa da falta duma segurança econômica. Arcabouço fiscal e aumento e tributação podem causar uma demora na retomada do avanço desse público”, contextualiza o economista.
Confira a entrevista na íntegra de Marcus Lima ao jornalista Tiago Lima. Ouça:
Boa gestão é sinônimo de sucesso
E parece que todos os sinais demonstram uma ligação muito próxima entre todos esses conhecimentos necessários pra ter sucesso no empreendimento. Para Felipe Melo, a gestão é a base para a possibilidade de sucesso.
“Todo mundo precisa planejar”, ensina Felipe Melo
“A gestão começa a partir do momento que você define seus fornecedores. Seja numa grande empresa, seja numa barraca de tapioca. Todo mundo precisa planejar. Que tipo de produto você vai comprar pra produzir sua tapioca? Você vai vender a tapioca a quanto? Isso vai ser suficiente para eu manter o negócio ou pra me sustentar? Todas essas questões entram, ou precisam entrar, na hora de começar um negócio, independente do tamanho”, ensina o articulador do Sebrae.
A boa gestão garante uma uma vida longa para os negócios, argumenta Felipe Melo. Confira a entrevista na íntegra de Felipe Melo ao jornalista Tiago Lima. Ouça:
O superintendente do Sebrae Ceará, Joaquim Cartaxo, defende a importância da organização na hora de empreender. “Em geral, a sobrevivência e o crescimento do negócio estão diretamente relacionados a fatores como o conhecimento do ramo de atuação, planejamento, gestão da empresa e capacitação. Empresas que sobrevivem mais tempo são aquelas que atendem a estes fatores. No caso dos informais, na maioria dos casos, o que se verifica são pessoas que exercem atividades pela necessidade de geração de renda, motivadas pela falta do emprego formal. Então, muitas vezes estes negócios deixam de existir ou porque o empreendedor conseguiu um emprego formal, ou porque o negócio não conseguiu se estabelecer no mercado, forçando este empreendedor a buscar uma nova atividade como fonte de renda”, costura.
Serviço
É bem verdade que a realidade da vida e a necessidade de sobrevivência levam o brasileiro a buscar no empreendedorismo a saída. Mesmo assim, planejamento, gestão, dedicação integral, tudo isso precisa estar na mesa na hora de tomar essa decisão.
Mesmo sendo uma busca contínua, por causa do dinamismo do negócio, existem dicas básicas e fundamentais pra seguir em frente. O Portal do Sebrae disponibiliza informações didáticas e de fácil acesso.
Saber que negócio abrir, entender se o negócio faz o seu perfil, obter informações sobre o negócio, se organizar, encontrar os meios de obtenção de crédito e trabalhar, botar a mão na massa. Essas são apenas algumas dicas, que podem ser aprofundadas no portal do Sebrae.
Clique AQUI e acesse as orientações do Sebrae.
Dona Rejane e o dom de empreender
Aos 60 anos, Rejane Alves Colares é dona do “Ponto do café”, quiosque de comida no Parque Dois Irmãos, na periferia de Fortaleza. Há dez anos “conquistando clientes no local”, a empreendedora vende lanches (bolos, cuscuz, café, sucos, salgados e tapiocas) todos os dias da semana. Tudo feito a mão. O apreço por empreender uniu ao amor de cozinhar, que nasceu pela necessidade de ajudar a mãe durante a adolescência.
“Eu sempre tive vontade de ter um negócio. Eu venho de uma família de seis irmãos e minha mãe nos criou, porque meu pai saiu de casa cedo, vendendo tapioca, café e cuscuz na porta de uma fábrica. E eu sempre acompanhei minha mãe nessas ‘vendinhas’ dela. E eu tinha muita curiosidade de aprender a cozinhar porque eu tinha ‘dó’ dela pois ela trabalhava muito. Ela nunca me ensinou, mas eu ficava sempre observando para aprender como ela”, conta Rejane.
“Eu sempre tive vontade de ter um negócio. E eu sempre acompanhei minha mãe nas ‘vendinhas’ dela”, lembra dona Rejane
Anos depois, já adulta, ela viu, mais uma vez, a necessidade de unir o “útil ao agradável”. “Com três filhos para criar, porque casei muito jovem e sem o apoio do pai das crianças, eu tive que fazer merenda para contribuir na renda de casa. Eu também tinha um emprego formal”, detalha dona Rejane. Até então, a já empreendedora usava a renda das vendas das “merendinhas” para completar o sustento da família.
Sem deixar de lado as formações, durante o período em que teve um emprego formal, Rejane investiu parte dos salários em cursos. “Eu sempre gostei muito da parte da panificação e confeitaria. Sempre gostei muito de cozinhar. Em 1988, fiz meu primeiro curso de gastronomia. E de lá para cá, continuei fazendo muitas formações. Mas nessa época, ter o próprio negócio ficou em segundo plano”, recorda.
“Em 1988, fiz meu primeiro curso de gastronomia. Mas nessa época, ter o próprio negócio ficou em segundo plano”, esclarece dona Rejane
“Vendinhas” na porta de casa
Com os três filhos ainda menores de idade, Rejane chegou a conciliar trabalho formal com outros pontos de comida em Fortaleza. Tudo para “ajudar a criar as crianças”. Mas nada foi tão promissor como o “Ponto do café”. Ouça:
Foi depois de ficar desempregada, aos 49 anos, em 2012, que ela decidiu tomar uma atitude: “botar uma garrafa de café com bolo mole e umas tapiocas na porta de casa”. “Nessa época, quem me ajudou a comprar a primeira farinha de trigo foi minha mãe. O dinheiro que eu tinha não deu para comprar tudo. E daí pronto. A partir daí comecei a vender e contei também com ajuda de uns familiares, com minhas irmãs, e depois o negócio foi crescendo um pouquinho. E depois, já formada, minha filha fez um alpendre e o pessoal foi entrando, se sentando”, lembra, entusiasmada.
Acesso ao crédito
Com as vendas de “vento e polpa”, o “Ponto do Café” precisava crescer ainda mais. Foi aí que dona Rejane decidiu procurar acesso ao crédito. “Eu nunca entrei nessa onda de empréstimo porque eu sempre tive medo. Daí comecei a ver esses empréstimos voltados ao social, mas nunca fui chamada”, lamenta.
Assistindo à TV, a empreendedora viu a possibilidade de ter o tão esperado apoio financeiro e capacitação adequada para o mercado de trabalho. Foi ali que dona Rejane viu o sonho de ver o negócio crescer ao conhecer o programa municipal Nossas Guerreiras. O mês e o ano marcaram: dezembro de 2022.
O Programa Nossas Guerreiras “foi um divisor de águas” na vida da empreendedora. O crédito de R$3 mil foi usado para a compra de insumos e materiais de trabalho. “Com o empréstimo eu comprei o meu forno, por exemplo. O equipamento me ajudou a aumentar a produção dos meus produtos”, afirma.
A partir dali, o “Ponto do café” começou a ganhar novos ares e se transformar em potência para a economia do bairro. “O Nossas Guerreiras foi importante porque tive a oportunidade de conseguir o dinheiro sem passar por aquele todo aquele processo de ver se o nome está limpo, que é todo aquele obstáculo que os bancos colocam. É uma parcela que cabe no meu orçamento, não tem juros, não tem nada. São trinta parcelas iguais de R$100. E isso ajudou muito no crescimento do meu negócio”, explica a empreendedora.
Dona Rejane espera na janela o clientela chegar. De longe, os “velhos clientes” percebem a mudança na ‘vendinha’ do bairro. “É sonho que se tornou realidade”, frisa. O acesso ao crédito foi parte fundamental para o ‘empurrãozinho’ que a empreendedora precisava.
“É sonho que se tornou realidade”, frisa a empreendedora Rejane Colares
Impacto das políticas públicas
O programa – lançado em outubro de 2021 – já beneficiou 7.650 mil mulheres com o crédito de até R$ 3 mil e já capacitou mais de 30 mil mulheres com o curso “Elaboração de Proposta de Negócios”, por meio do Programa Fortaleza Capacita, tornando-as aptas a receber o financiamento orientado.
A Prefeitura de Fortaleza tem como meta, até dezembro de 2024, beneficiar com crédito orientado de até R$ 3 mil um quantitativo de até 17 mil mulheres de baixa renda e chefes de família, moradoras da capital cearense, projetou a Secretário do Desenvolvimento Econômico (SDE).
No “Programa Nossas Guerreiras” já foram investidos R$22,6 milhões. Os principais segmentos são: comércio, gastronomia, beleza/estética, artesanato e serviços. A SDE divulgou o ranking de atuação da política pública de acesso a crédito em Fortaleza:
José Walter: 430 mulheres
Bom Jardim: 292 mulheres
Mondubim: 233 mulheres
Jangurussu: 214 mulheres
Bom Sucesso: 212 mulheres
Canindezinho: 166 mulheres
Barra do Ceará: 157 mulheres
Passaré: 156 mulheres
Granja Portugal: 148 mulheres
Vila Velha: 145 mulheres
(Fonte:SDE)
“A Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico possibilita o acesso às capacitações gerenciais gratuitas e crédito orientado sem juros para a implantação ou ampliação de um negócio. Além disso, a SDE oferece em parceria com o Sebrae, consultorias gerenciais especializadas para fortalecer e dar sustentabilidade a estes pequenos negócios”, salientou secretário do Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Nogueira.
“A SDE oferece em parceria com o Sebrae, consultorias gerenciais especializadas aos pequenos negócios”, informa Rodrigo Nogueira
Serviço
O Nossas Guerreiras continua com inscrições abertas. Para se inscrever é preciso, primeiro, ter feito o curso “Elaboração de Proposta de Negócios”, que é gratuito e tem duração de 8h/a, com inscrições AQUI. É necessário ser hipossuficiente em renda e não ter sido beneficiada com recursos em edições de programas similares da Prefeitura. Além disso, a beneficiária deve, prioritariamente, morar em Fortaleza em bairros de baixo IDH-b.
Força da economia local
O “Ponto do café” é um ponto de partida e chegada no bairro Parque Dois Irmãos. Dali, dona Rejane não quer sair. É do negócio, “construído a base de muito esforço” e com o apoio do Programa Nossas Guerreiras, que a empreendedora tira o próprio sustento.
“Esse ponto aqui que eu trabalho na minha casa, ele não só me ajuda na renda de casa. Ele é a minha fonte de renda. É o meu sustento. Até porque eu moro sozinha. Aqui é meu sustento e de onde eu pago minhas contas”, reforça a empreendedora.
“Esse ponto aqui é a minha fonte de renda. É o meu sustento”, frisa a empreendedora
Dona Rejane fincou os pés no bairro há 41 anos, e garante a força do comércio local. “Eu vendo só no bairro mesmo. Uma vez ou outra aparecem umas encomendas porque eu posto os produtos nas redes sociais e o povo vê. Mas eu não entrego, não faço entrega ainda, não tenho uma ação de entregador. A não ser que eu levo os lanches em ‘parceria’ com comerciantes de outros bairros. E aqui o ponto é bem visto porque temos posto de saúde perto, parada de ônibus, por exemplo”, observa.
O secretário do Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Nogueira traça um panorama entre o Programa Nossas Guerreiras e força do “Ponto do Café” para a economia local.
“O Programa Nossas Guerreiras contribui para o crescimento da economia local e para a criação de novos empregos. O empreendedorismo feminino consegue transformar, também, as relações sociais. Hoje muitas mulheres assumem a chefia das suas famílias integralmente ou complementam a renda familiar. O crédito orientado do Programa Nossas Guerreiras surgiu como um fator importante, pois além de financiar pequenos empreendimentos, permite e fornece condições necessárias para quem não possui recursos financeiros. O objetivo é impulsionar o início de negócios para as pessoas que querem iniciar ou ampliar”, acrescenta o representante da pasta municipal.
“Tenho orgulho do meu negócio”
O orgulho de ter construído o próprio negócio enche dona Rejane de entusiasmo. “Eu estou aqui no meu local, isso aqui é meu e eu posso abrir a boca e bater nos peitos e dizer que é meu. É tudo fruto do meu trabalho. Fruto de uma ideia que eu tive. Um sonho realizado. É como se fosse um filho, que você gerou, você criou. E está vendo ele crescer. Então eu tenho orgulho sim de ter meu negócio”, entusiasma-se a empreendedora.
E Rejane quer ir além e projeta “crescer” e realizar mais um sonho, o “de trabalhar com pães caseiros e bolos”. “O negócio hoje está bom, mas eu penso em fazer mais uma reforma aqui e transformar o espaço em uma confeitaria ‘bonitinha’. É o que eu sonho em fazer futuramente”, sonha dona Rejane.
“Posso abrir a boca e bater nos peitos e dizer que é meu. Fruto de uma ideia que eu tive”, comemora dona Rejane
MPEs ajudam a sustentar o PIB
As micro e pequenas empresas e os microempreendedores individuais (MEI) somam mais de 20 milhões de CNPJ no país, o equivale a 99% das empresas brasileiras. “Esse segmento é responsável por 30% do PIB brasileiro e tem sido o principal gerador de novas vagas de empregos do país, respondendo por 70% a 80% dos novos empregos”, afirma o presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima.
O protagonismo dos empreendedores contados no especial multiplataforma “Sonhar e empreender: a receita para movimentar a economia” reforçou o debate sobre a importância desse segmento para a economia Brasileira. Do “Bolos da Ju” – que ainda engatinha e pretende registrar formalização, do gostinho de comida caseira do “Pratinhos da Madrugada” e do poder da comércio local do “Ponto do Café”. Todos os papéis desempenhados com maestria por aqueles que empreendem e vive do sonho de empreender.
“Os pequenos negócios respondem por 98% das empresas formais do Brasil”, pontua Cartaxo
E como no restante do País, os pequenos negócios cearenses cumprem um “papel fundamental na geração de emprego, renda e receitas públicas na economia brasileira”. “Eles respondem por cerca de 98% das empresas formais do país e cerca de 97% das empresas formais do Estado. Além disso, são responsáveis por gerar mais de um terço do Produto Interno Bruto brasileiro (34%), situação semelhante ao que acontece no Ceará (37%)”, finaliza o superintendente do Sebrae Ceará, Joaquim Cartaxo.
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