Lucidez não tem a ver com distorcer as coisas por compaixão ou alienação, mas se trata de ver as coisas através da serenidade e do equilíbrio de quem está no comando de si próprio.
À luz da filosofia, o que seria a lucidez? por Lúcia Helena Galvão
Se estivermos em uma praia, apreciando uma vista maravilhosa e de repente anoitecer, toda beleza que observamos há pouco não deixa de existir. Só não a estamos vendo mais. A lucidez é algo parecido com isso, com o papel exercido pela luz: ela ilumina as situações para que a gente possa ver com mais equilíbrio e profundidade. Passamos a ver algo que sempre esteve lá, mas que estava vedado aos olhos da nossa compreensão.
Lucidez não tem a ver com distorcer as coisas por compaixão ou alienação, mas se trata de ver as coisas através da serenidade e do equilíbrio de quem está no comando de si próprio. Assim, vemos com mais profundidade, com mais exatidão e podemos dar um bom direcionamento a nossa vida. A lucidez é a capacidade de gerar o discernimento, de fazermos boas escolhas.
No mundo de hoje, a falta dessa luz sobre as coisas se dá pela incapacidade de domínio de si próprio para vê-las de maneira sensata e sóbria. Somos muito passionais e, quando as emoções sobem à cabeça, a razão desce aos pés como se fosse uma gangorra. Dessa forma, decidimos as coisas de uma maneira impulsiva, passional, contaminada, normalmente, por interesses e por egoísmo. Não temos muita capacidade de tomar uma decisão verdadeiramente humana, considerando todos os nossos princípios e valores, o que é próprio da lucidez. A pessoa lúcida tem autocontrole, tem comando sobre si próprio.
Portanto, a dificuldade de superação dos desafios do mundo atual está ligada ao egoísmo, à incapacidade de decisões que não sejam baseadas exclusivamente no pessoal, à falta de fraternidade, à falta de empatia. Além disso, há uma insegurança muito grande, porque já não sabemos como será o futuro; há uma falta de confiança nas informações que recebemos, porque somos bombardeados por notícias muito contraditórias. Enfim, o homem se sente sozinho e desprotegido, optando por erguer uma muralha apenas a sua volta
A principal atitude que podemos tomar para trabalhar a nós mesmos em direção à lucidez é o autoconhecimento, o autodomínio e o altruísmo; três palavras semelhantes, com significados complementares. Ou seja, se eu me conheço e sou capaz de me dominar, de não deixar que as emoções subam à minha cabeça, consigo ver as coisas com clareza, ter um bom discernimento, e, portanto, torno-me uma pessoa lúcida. O altruísmo também me faz não contaminar todas as coisas a minha volta com uma visão passional e carregada de desejos pessoais. O altruísmo e a fraternidade, são muito bons para limpar a nossa vista e nos permitir ver as coisas com mais amplitude.
Nesse sentido, uma régua que podemos utilizar para avaliar se estamos mais lúcidos seria a frase bíblica: ‘Pelas vossas obras, vos conhecerei’. Muitas vezes vemos que a nossa vida está pontuada de equívocos, de consequências de decisões precipitadas, de decisões que não consideraram o outro, que é o que cada vez mais nos isola dentro da sociedade. Basta examinarmos os nossos passos dados e veremos se há consequências de decisões lúcidas ou não. Assim, podemos ver melhor e atuar sobre nós mesmos.
Lúcia Helena Galvão é filósofa, escritora, palestrante e voluntária há 35 anos da Organização Internacional Nova Acrópole do Brasil.
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