Erro técnico ou negligência?

Quixadá: Manuseio incorreto teria esvaziado seringa antes da aplicação em secretária de Saúde

Vídeos e fotos que registraram o momento circularam nas redes sociais durante esta quarta-feira (20)

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20 de janeiro de 2021
Ninho Digital

A campanha de vacinação foi iniciada em Quixadá, 168,6 km de Fortaleza. Entre as primeiras pessoas que deveriam receber a aplicação, está a enfermeira Benedita Oliveira, atual secretária municipal de Saúde do município. Na hora de receber a dose da CoronaVac, no entanto, a seringa estaria vazia. Vídeos e fotos que registraram o momento circularam nas redes sociais durante esta quarta-feira (20), e ocasionaram um questionamento: houve aplicação da vacina? 

Quixadá: Manuseio incorreto teria esvaziado seringa antes da aplicação em secretária de Saúde
Foto: Reprodução

Jornalistas do Grupo Cidade de Comunicação analisaram a live, sem cortes, realizada na página do Facebook da Prefeitura de Quixadá.

A aplicação é feita pelo médico e prefeito do município, Ricardo Silveira. No vídeo, uma profissional de saúde insere a dose na seringa. Na primeira tentativa, o líquido, que já estava na seringa, retorna para a ampola. A funcionária muda a posição da mão para, mais uma vez, tirar a dose. Em seguida, repassa a seringa para o aplicador. 

Ricardo higieniza o braço da secretária de Saúde, retira a proteção da agulha e uma gota cai da seringa pela haste. Na aplicação no braço, já não haveria mais nada além de ar.

Após a suposta vacinação, Ricardo chama a profissional que entregou o material a ele ainda com a seringa na mão. Ela se aproxima, os dois conversam e, ao lado do prefeito, passa a conferir cada ampola. Confira o vídeo:

A Prefeitura de Quixadá classificou o vídeo com a aplicação com uma seringa vazia como uma fake news que pode “prejudicar substancialmente o rendimento do trabalho realizado pela Secretaria Municipal de Saúde”. Em nota divulgada pelo município,

Embora não tenha recebido nenhuma denúncia oficial sobre a vacinação feita com seringa vazia, o Ministério Público do Estado informou que requisitou ao município informações sobre quem já recebeu a aplicação e qual é o enquadramento do paciente na lista de prioridades do Ministério da Saúde.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (CREMEC) disse que nenhuma denúncia foi formalizada no órgão para iniciar a investigação.

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Possível vazamento

O GCMAIS conversou com a enfermeira Karla Torres, que já atuou em campanhas de vacinação no Interior do Ceará. Segundo a profissional de saúde, o possível erro aconteceu no momento em que o aplicador foi retirar o ar, antes de colocar a agulha no braço da secretária. “Quando tirou o ar, ele acabou deixando vazar o imunobiológico, por isso, comprometeu a dose. Ele deve ter tirado muito e vazou o líquido”.

Segundo a enfermeira, o procedimento padrão consiste em: “o profissional deve retirar o imunobiológico de dentro da caixa térmica, confere para ver se a vacina é a correta, aspira o conteúdo do frasco e retira o ar da seringa com cuidado para não vazar o líquido”.

As primeiras doses da CoronaVac recebidas no país e encaminhadas aos estados são unidose, ou seja, cada vidro é destinado a uma aplicação. Até fevereiro, o Instituto Butantan deve entregar porções multidose, em que cada ampola deve ter quantidade suficiente para mais de um paciente. “Não pode aplicar mais ou menos. Cada paciente deve receber a dosagem indicada para não comprometer a eficácia da vacina”, diz a enfermeira.

“Tem que retirar o ar da seringa sem desperdiçar o líquido. Se fizer isso, desperdiça a vacina, recurso público. Sem falar que deixa de imunizar alguém”, detalha Karla Torres. 

No caso de Quixadá, caso a seringa tenha sido injetada sem o imunizante, a secretária deve ter apenas incômodos musculares, avalia a enfermeira. “Caso a injeção fosse intravenosa, poderia causar embolia pulmonar. No músculo, a maior possibilidade é de desconforto”.

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