REAL DIGITAL

Especialista faz análise sobre implantação de moeda digital, no Brasil

Falta de acesso à internet e educação financeira do brasileiro podem ser entraves

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24 de maio de 2021
André Rabelo

Ao que tudo indica, o Banco Central do Brasil está trabalhando na criação do “Real Digital”, a primeira moeda digital brasileira. A autoridade financeira segue a tendência mundial de digitalização do dinheiro, a exemplo da China, primeira potência mundial a lançar sua moeda digital, e dos Estados Unidos, que prometem o dólar digital até julho de 2021.

Especialista faz análise sobre implantação de moeda digital, no Brasil
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

O que é uma moeda digital

Segundo o professor de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Matheus Albergaria, pode ser visto como moeda virtual todo “dinheiro digital” criado e armazenado eletronicamente.

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É preciso delimitar algumas definições:

– A moeda digital é uma versão digital do dinheiro e, teoricamente, deve cumprir as funções básicas de uma moeda. Ou seja, deve funcionar como: (i) meio de troca, (ii) unidade de conta e (iii) reserva de valor.

– As cryptomoedas, como o Bitcoin, são um subgrupo das moedas digitais. Toda cryptomoeda é uma moeda digital, mas nem toda moeda digital é uma cryptomoeda.

– Serviços como o Pay-pal, que cria uma carteira digital para o usuário, que pode adicionar cartões de crédito como forma de pagamento, podem ser comparados às moedas digitais, embora apresentem diferenças em termos de funcionalidades específicas.

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Vantagens

Segundo Albergaria, “as moedas digitais devem ter as mesmas três funções clássicas de uma ‘moeda física’: ser meio de troca, ser uma reserva de valor e ser unidade de conta, como falam os economistas, tecnicamente. A grande vantagem é que ela reduz o que os economistas chamam de tempo de transação.”

O ex-professor da Universidade de Chicago e Nobel de Economia de 1991, Ronald Coase (1910-2013), teorizou sobre a importância dos chamados “custos de transação” em economia.

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Basicamente, os custos de transação correspondem aos custos de utilização do mercado, segundo Coase. Exemplos de custos dessa natureza são os recursos gastos com a utilização de moedas físicas, como as idas ao banco para sacar dinheiro, os custos de armazenamento e moeda, o transporte das cédulas pelas instituições bancárias, dentre outros.

“Se imaginarmos que, nos anos de 1980 e 1990, quem precisasse de dinheiro tinha que obrigatoriamente se dirigir a um banco, em dias e horários específicos, e esperar em uma fila para sacar o dinheiro, para a partir daí realizar transações, podemos notar que as moedas digitais facilitam muito o funcionamento dos mercados em economias capitalistas, uma vez que reduzem consideravelmente os custos de transação”, diz Albergaria.

Entraves no Brasil

O professor diz que a criação de moedas digitais deve ser uma tendência para os próximos anos, mas vê entraves para sua concretização no país no momento atual.

“Veremos cada vez mais iniciativas de empresas e bancos centrais para criar moedas digitais. Contudo, no Brasil, há desafios: a falta de educação financeira do brasileiro médio, e o acesso à internet, que não é universal. Mais do que isso, durante a pandemia, fica a dúvida de como a economia brasileira vai reagir aos efeitos adversos da Covid-19, assim como a maneira a partir da qual a instauração de uma moeda digital se daria no atual contexto econômico, que se encontra bastante fragilizado, na verdade”.

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O especialista

Matheus Albergaria é Pós-doutor em Economia pela USP, Doutor em Administração de Empresas pela USP, Mestre em Artes pela The Ohio State University, Mestre em Teoria Econômica pela USP e graduado em Ciências Econômicas pela UFMG. Atua como professor na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado desde o ano de 2003.

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