O Cinema do Dragão, em Fortaleza, presta uma homenagem especial ao renomado diretor africano Ousmane Sembène, entre os dias 14 e 19 de julho. A mostra intitulada “O Cinema de Ousmane Sembène – um tributo ao centenário do pioneiro dos cinemas africanos” traz uma seleção de sete longas-metragens inéditos na cidade, além de oferecer masterclass gratuita e sessões comentadas pela curadora da Mostra, Janaína Oliveira.
Organizada pela Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, por meio da Gerência de Cinema do Cine Humberto Mauro em Belo Horizonte, a mostra chega a Fortaleza pela primeira vez, proporcionando aos cinéfilos locais a oportunidade de conhecer o legado de Ousmane Sembène. Para participar das sessões, os interessados devem retirar convites gratuitos na bilheteria do Cinema a partir das 14h do dia de cada exibição.
O evento celebra o centenário de nascimento de Ousmane Sembène, considerado um dos mais importantes diretores da história do cinema. Nascido em Ziguinchor, no Senegal, Sembène é reconhecido como o grande pioneiro do cinema africano e um incansável ativista. Ele escolheu o cinema como ferramenta para dar voz ao continente africano e lutar em defesa dos povos africanos contra os danos causados pela colonização europeia, que persistiram mesmo após a independência nas décadas de 1960. Os filmes de Sembène abriram novas possibilidades para enxergar e refletir sobre a África, estabelecendo bases estéticas e políticas para um cinema feito por africanos, com histórias africanas e destinado ao público africano.
A filmografia de Ousmane Sembène aborda temas sensíveis, colocando o matriarcado africano como centro de resistência no continente. Além disso, ele tratou sobre a mutilação genital feminina e explorou o islamismo em suas obras. O estilo cinematográfico de Sembène é caracterizado por planos abertos, panorâmicos e longos planos-sequência, proporcionando uma experiência imersiva para o espectador.
As sessões
A mostra será aberta com a exibição do primeiro longa-metragem dirigido por Sembène, ‘A Negra de’ (La Noire de?, 1966), na sexta-feira (14), às 18h. O filme traz a história de Diouana, jovem senegalesa que se muda de Dakar para a Riviera Francesa para trabalhar na casa de um casal francês e se vê cada vez mais presa em um sistema opressor e racista.
Outro destaque da programação é ‘Mandabi’ (Le Mandat, 1968), primeiro filme do diretor falado em Wolof, sua língua natal. No filme, o chefe de família desempregado, Ibrahim Dieng, tenta receber uma ordem de pagamento enviada da França por seu sobrinho, mas esbarra constantemente na burocracia e entraves deixados pelo colonialismo.
Também será exibido ‘Moolaadé’ (2004), que aborda de forma crítica a questão da mutilação genital feminina. Filmado em Burkina Faso, esse foi o último filme de Sembène, que faleceu em 2007.
Contemplando as cinco décadas de produção do realizador (dos anos 1960 ao início dos anos 2000), a mostra também exibirá os filmes: ‘Ceddo’ (1977), ‘Xala’ (1975), ‘Campo de Thiaroye’ (Camp De Thiaroye, 1988) e ‘Guelwaar’ (1992).
As quatro sessões do final de semana serão apresentadas pela curadora e pesquisadora Janaína Oliveira, que também ministra uma masterclass gratuita sobre o tema na sexta (14/07), na Escola Porto Iracema das Artes.
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Masterclass
Na próxima sexta-feira (14), às 19h30, a curadora da mostra e pesquisadora Janaína Oliveira ministra a masterclass “Ousmane Sembène, o cinema e a África”. A palestra gratuita é uma parceria com a Escola Porto Iracema das Artes. O seu objetivo é refletir sobre as múltiplas dimensões da obra do realizador senegalês, considerando ainda suas ações no campo das políticas de cinema no continente, o diálogo com os cineastas de sua geração e sua influência nas gerações seguintes. Considerado por muitos como o “pai do cinema africano”, a atuação de Sembène foi muito além das telas. O cineasta é considerado um verdadeiro catalisador na criação de meios de produção e circulação de filmes, fundando e estimulando o desenvolvimento de debates e festivais que hoje marcam a trajetória das cinematografias africanas.
Sobre a curadora da Mostra
Janaína Oliveira é pesquisadora e curadora independente. É doutora em História, professora no IFRJ – Instituto Federal do Rio de Janeiro, e foi Fulbright Scholar no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Howard, em Washington D.C. (EUA). Desde 2009, desenvolve pesquisa sobre as cinematografias negras e africanas, atuando também como curadora, consultora, júri e painelista em diversos festivais e mostras de cinema no Brasil e no exterior. Em 2019 realizou a mostra “Soul in the eye: Zózimo Bulbul’s legacy and the Contemporary Black Brazilian Cinema” no IFFR – International Film Festival Rotterdam (Países Baixos). Foi também consultora de filmes da África e da diáspora negra para o Festival Internacional de Locarno (Suíça) entre 2019 e 2020. É idealizadora e coordenadora do FICINE – Fórum Itinerante de Cinema Negro e foi a programadora do Flaherty Film Seminar (EUA) em Julho de 2021. Entre 2021 e 2022, Janaína fez a curadoria internacional das mostras principais das duas edições da Semana de Cinema de Negro de Belo Horizonte (Brasil). Atualmente, além de participar de outras iniciativas curatoriais, é presidente do Comitê de Seleção de filmes de documentário de longa-metragem do BlackStar Film Festival (EUA).
Programação
14 de julho (sexta-feira)
18h – A Negra De (La Noire de?) – (Senegal, França – 1966) // 67 min // 12 anos
Sinopse: Uma senegalesa (Mbissine Thérèse Diop) sonha com uma vida melhor no exterior. Ela aceita um emprego como governanta de uma família francesa, mas seus deveres são reduzidos aos de uma empregada após a família se mudar para o sul da França. No novo país, ela é consciente de sua raça ao ser maltratada por seus empregadores.
19h30 – Masterclass “Ousmane Sembène, o cinema e a África”, ministrado por Janaína Oliveira na Escola Porto Iracema das Artes
15 de julho (sábado)
Sessões apresentadas pela curadora Janaina Oliveira
17h – Ceddo (Senegal, França – 1977) // 120 min // 12 anos
Sinopse: Em protesto contra a conversão forçada ao Islã, os Ceddo (forasteiros) sequestram a filha do rei (Matoura Dia), a princesa Dior Yacine (Tabata Ndiaye) e a mantêm como refém.
19h30 – Moolaadé (Senegal, BFA, MAR, Tunísia, Camarões, França – 2004) // 120 min // 12 anos
Sinopse: Com medo de sofrer mutilação genital, um grupo de meninas foge de sua própria cerimônia de “purificação” e se refugia com Collé (Fatoumata Coulibaly), uma mulher que poupou sua filha do mesmo destino. Collé lança um feitiço para proteger as meninas, o que causa muita consternação entre os anciãos da aldeia. Em retaliação, eles confiscam os rádios das aldeãs e exigem que o feitiço seja quebrado, mas Collé se mantém firme.
16 de julho (domingo)
Sessões apresentadas pela curadora Janaina Oliveira
17h – Mandabi (Le Mandat) – (Senegal, França – 1968) // 91 min // 12 anos
Sinopse: Ibrahim Dieng (Makhouredia Gueye) está desempregado e precisa sustentar sua família. Certo dia, ele recebe uma ordem de pagamento, mas para descontar o cheque ele precisa apresentar um documento de identidade, o que não tem. Começa assim uma correria absurda no mundo da burocracia senegalesa, onde Ibrahim acaba lidando com corrupção, ganância, problemas familiares e até mesmo com a modernização da vida ao seu redor.
19h – Xala (Senegal – 1975) // 123 min //12 anos
Sinopse: Um político corrupto é amaldiçoado com impotência na noite de seu terceiro casamento depois de desviar cem toneladas de arroz.
18 de julho (terça-feira)
19h – Guelwaar (Senegal, França, Alemanha, EUA – 1992) // 115 min // 12 anos
Sinopse: O enterro de um ativista político cristão em um cemitério muçulmano inflama um conflito de fervor religioso. Um retrato satírico da religião e da política; por vezes bem-humorado, por vezes mortalmente sério.
19 de julho (quarta-feira)
18h30 – Campo De Thiaroye (Camp De Thiaroye) – (Senegal, Argentina, Tunísia – 1988)
Codireção: Thierno Faty Sow // 157 min // 12 anos
Sinopse: Inspirado em Histórias Reais. No Senegal, em 1944, um batalhão de atiradores chega ao campo de trânsito de Thiaroye para ser desmobilizado. Eles voltam da Europa onde combateram contra os alemães para libertar a metrópole. O orgulho de velhos combatentes é rapidamente substituído pela desilusão perante as promessas não cumpridas, em relação, sobretudo, às suas economias, às humilhações e ao racismo na hierarquia militar
Férias no Dragão | O Cinema de Ousmane Sembène
Período: De 14 a 19 de julho (exceto dia 15)
Horário: Sessões a partir das 17h
Local: Sala 1 do Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito, mediante a retirada de convite na bilheteria do Cinema, a partir das 14h do dia de cada sessão.
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