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Exposição em Fortaleza homenageia Carolina Maria de Jesus

Foto: Divulgação

A exposição Carolinas, em homenagem a Carolina Maria de Jesus, estará em cartaz em Fortaleza, a partir desta terça-feira (5) até 4 de fevereiro de 2024. Com acesso gratuito, a visitação acontecerá de terça a sábado, das 10 às 20 horas, e aos domingos e feriados, das 10 às 19 horas.

A mostra conta também com instalações, pinturas, obras visuais, slam, poemas e manuscritos de artistas negras cearenses. As “Carolinas contemporâneas” são obras com influência de Alexia Ferreira, Aline Furtado, Dhiovana Barroso, Dinha Ribeiro, Francisca Oliveira, Sarah Forte, Renata Felinto e Pretarau – Sarau das Pretas. A mostra apresenta ainda um poema inédito da atriz e slammer carioca Rainha do Verso.

Homenagem a Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus foi uma das primeiras escritoras do País a tematizar o cotidiano da favela, território marginalizado e onde ainda era incomum a autonomia da palavra. As obras da autora já foram lançadas em 46 países e traduzidas para 16 idiomas. Ela também já foi tema de inúmeras publicações, sendo a mais recente “Carolina: uma biografia”, de Tom Jones.

A exposição na capital cearense será na CAIXA Cultural Fortaleza, que apresenta não apenas o espólio artístico-literário, mas também fotografias, composições musicais, capas de livros, matérias jornalísticas, documentários, manuscritos raros de seus diários e alguns trabalhos ainda inéditos da escritora. O objetivo é reforçar mais a pluralidade de suas produções e de sua trajetória.

A mostra está organizada em quatro núcleos, que abordam memórias da escritora, seu nascimento como artista, maturidade intelectual e o final de sua vida. Todos esses segmentos têm, como eixo comum, o destaque à história de Carolina.

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Múltiplas Carolinas

O primeiro núcleo da exposição é intitulado “MUSONI”. A seção retrata histórias e memórias da escritora entre as décadas de 20 e 40 em Sacramento, Minas Gerais. Neste espaço, os visitantes saberão mais sobre as origens da escritora, através de provérbios, trechos de contos, poesias, citações e memórias de infância – que mergulham nas raízes africanas de sua ancestralidade.

Foto: Divulgação

Na sequência, o núcleo “KALA” narra o “nascimento” de Carolina de Jesus como artista, escritora e mulher preta. Neste segmento, são apresentados alguns trechos selecionados do gênero memorialístico, retratando momentos entre as décadas de 40 e 60. Nesse período, ela viveu entre o interior rural de São Paulo e a favela do Canindé, que fica na região central da capital paulista. Também são destaque as viagens para todo o Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.

Já o núcleo “TUKULA” representa sua maturidade artística, intelectual e como mulher na sociedade brasileira, tendo como recorte temporal a década de 60 até 77. Foi o período de reclusão no sítio de Parelheiros, em São Paulo. Na última etapa, o público chega ao “LUVEMBA”, que narra o fim da vida da escritora, destacando a passagem de Carolina Maria de Jesus para a sua memória viva por meio de outras Carolinas, que se constroem e se refazem a partir dela.

Carolinas cearenses

Artistas negras cearenses, as “Carolinas contemporâneas” integram, assim, a exposição. Renata Felinto traz, além disso, o trabalho “O dia dos pais de José Carlos, Vera Eunice e João José, em 1959” (2023), produzido a partir da técnica de aquarela e apliques sobre papel. Já Dhiovana Barroso, da dupla Terroristas Del Amor, apresenta “Ilha” (2023), obra acrílica sem tela. Sarah Forte, professora de Literatura em língua portuguesa pela Universidade Estadual do Ceará, vai estar na exposição com o poema intitulado Sororidade.

Outra participante da exposição é Dinha Ribeiro, com a obra em acrílico sobre tela “Caminhos Abertos” (2023). A artista graffiteira realiza trabalhos com ilustração e muralismo, voltando sua arte ao afrobrasileirismo contemporâneo. Alexia Ferreira, por sua vez, apresenta a colagem digital “Sendo o Que Somos”.

Outro trabalho de destaque é a instalação “Ativação para Aterrar o Abismo”, uma ação do programa Como Ocupar um Lugar Branco (2018-2023), de Aline Furtado. O Slam Pretarau, formado por mulheres negras artistas, poetas e slammers de Fortaleza e região metropolitana, trará uma carta que conversa com Carolina Maria de Jesus. A cordelista Francisca Oliveira, de Quixadá, participa com o poema “O Peso da Minha Cor”. A exposição conta também com participação da atriz, performer e slammer carioca Rainha do Verso.

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Curadoria

Assinam a curadoria da exposição Raffaella Fernandez, pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, e Nicole Machado, pós-graduanda em Ensino de História e América Latina e graduada em Mediação Cultural pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).

“Em um momento em que os debates sobre gênero, diversidade étnica e direitos humanos ganham força no Brasil e no mundo, contar a história, a vida e a obra de Carolina de Jesus é um ato relevante para as artes, em especial para a literatura do País”, explicou Raffaella Fernandez.

Já para Nicole Machado, a mostra é, inclusive, uma forma de tornar acessível ao grande público as relevantes obras literárias da escritora. “Achamos importante incentivar tanto o gosto pela leitura quanto a indústria editorial nacional. Nosso objetivo é evitar que novos apagamentos enfraqueçam a literatura, as artes e a memória brasileira”, concluiu.

Sobre a escritora

Carolina Maria de Jesus deixou mais de 5 mil páginas escritas, entre romances, poemas e canções. O livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada” é a obra mais famosa da escritora, lançado em 1960.

Já entre 1977 e 2018, após a sua morte, foram publicadas mais cinco obras: “Diário de Bitita” (1982), publicado originalmente na França, “Meu Estranho Diário” (1996), “Antologia Pessoal” (1996), “Onde Estaes Felicidade” (1977) e “Meu sonho é escrever” (2018).

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