Entre as releituras de memes, músicas, discussões sobre questões LGBTQIA+ e até inclusão na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), as drag queens ganham destaque na internet e na cultura pop. No Ceará, Emma, alter ego do artista Everson Alcântara (25), luta para ser reconhecido, diante da desvalorização do trabalho.
“Já faço drag há mais de três anos e ganhar dinheiro com isso é muito difícil. Infelizmente não somos tão valorizadas como deveríamos ser. Tem locais que querem pagar cinquenta reais para a gente chegar bem produzida e tocar, em média, por duas horas. Então já viu, né? Fazemos por amor”, desabafa.
O sucesso na internet já foi reconhecido por famosos, como a cantora Pabllo Vittar. “É incrível. Quando ‘os de casa’ não apoiam, ‘os de fora’ apoiam. Tenho seguidores maravilhosos que sempre me mandam mensagens pedindo para eu nunca desistir. E isso não é algo que penso em fazer. Eu amo fazer drag”, completa.
O trabalho de Emma talvez seja mais bem recebido hoje pelo público que há quinze anos, quando surgiu o coletivo “As Travestidas”, ícone da cultura alencarina. Sob a liderança do multiartista Silvero Pereira, o grupo é sucesso de bilheteria até hoje, com peças como “Uma flor de Dama” e “Cabaré das Travestidas”, adaptado recentemente para o formato virtual na pandemia. “O Brasil tem que saber que esse é o país dos oprimidos e não dos opressores, apesar dos opressores ainda serem muito poderosos”, afirmou o artista, ao receber um prêmio na capital.
Gloria Groove: Estamos fazendo história
Para Gloria Groove, embora exista uma aceitação maior, as artistas ainda enfrentam barreiras, porém utilizam os espaços conquistados para fazer o público entender e defender, cada vez mais, a arte. “Eu sinto que existe o interesse de enquadrar o LGBTQIA+ em um molde e fazer disto um produto. Sendo que vamos brincar com isso, fora disso e lá pra frente, quando a gente tiver consagrado, vamos poder fazer o que a gente quiser. É o caminho comum de artistas pop”, disse, em entrevista ao Grupo Cidade de Comunicação.
Ao lado de Gloria, outras artistas nacionais ganham espaço na mídia tradicional e internet, como Pabllo e Aretuza Love, que dividiram a cena em um clipe lançado em 2018. Sobre “carregar o pop nas costas”, com essas outras drag queens, a cantora comenta: “Eu tô com escoliose [risos]. Mas falando sério, é muito gratificante saber que o pop feito por LGBTs e mulheres está fazendo sucesso. É lindo demais. Nós estamos fazendo história, é um ato político”.
Emma concorda com Gloria e reconhece que o apoio do público é fundamental nesse processo. “Quanto mais público você alcança, mais se empolga para continuar fazendo. Além de levar entretenimento, serve de molde e inspiração para quem sonha em colocar uma peruca na cabeça em um país tão homofóbico. Fazer drag no Brasil é um ato político”, reafirma.
Educação
Outras drag queens utilizam a manifestação artística para construção de outros tipos de conteúdo. Rita Von Hunty, do interior de São Paulo, estabeleceu-se na internet com comentários sobre política, história e sociologia. É referência entre os mais jovens. Citando o escritor Gil Vicente, ela afirma que faz críticas aos costumes através do riso. Além das redes sociais, é presença frequente em programas na televisão por assinatura e em cursos sobre os temas que domina.
Já Kitana Dreams utiliza a arte drag para dar visibilidade para outro grupo, muitas vezes, esquecido: os surdos. Em seu canal no Youtube, a performer trata de questões que interessam à comunidade em questão, na qual se insere por também ser surda. Embora seja feito em Libras, os vídeos são legendados em português para a compreensão de ouvintes.