O protagonismo feminino na política
A constatação de que os indivíduos são naturalmente gregários surgiu com os pensadores da antiguidade clássica. E pela necessidade de viver em sociedade, ainda no período antigo, os homens inventaram a política para organizar o cotidiano da Cidade.
Desde o nascimento, as mulheres estavam excluídas da possibilidade de participação, por serem consideradas inaptas para o debate racional. E durante um longo período histórico, essa ausência feminina foi uma marca da atividade política. Apesar da crescente demanda por participação, desde o século XIX, somente no século XX as mulheres são gradativamente inseridas no processo de escolha de representantes.
No Brasil, a norte rio-grandense Celina Guimarães foi a primeira mulher a manifestar a sua vontade por meio do voto, no ano de 1927. Mas, somente em 24 de fevereiro de 1932 foi publicado o decreto que instituiu o voto feminino nacional no Brasil. Quase noventa anos após a publicação, há motivos para comemoração?
As mulheres no pleito de 2020
Se considerarmos os dados relativos à participação das mulheres no pleito de 2020, indiscutivelmente perceberemos um crescimento no percentual de candidatas e de eleitas. O número de candidaturas, inclusive, superou o determinado pela Justiça em relação a cota de gênero. Todavia, se mais de 33% de candidaturas foram femininas, em 2020, 52,5% dos eleitores eram mulheres.
Além disso, as candidaturas femininas foram mais numerosas para o cargo de vereador, o mesmo não se viu em relação aos postulantes aos cargos de prefeito e de vice-prefeito. Some-se o fato de que as mulheres ficaram distantes de comandar o poder executivo nas capitais e nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Apenas Palmas teve uma mulher eleita prefeita e, das 96 cidades mais importantes do pais, 9 elegeram prefeitas.
Poderíamos também discutir a expressiva quantidade de candidaturas femininas fraudulentas, registradas somente para o cumprimento das determinações legais, e ainda lançar uma luz sobre a situação das mulheres que disputam, mas que o mandato será fortemente orientado pelo pai ou pelo marido. Enfim, o caminho ainda é longo e árduo. As conquistas precisam ser comemoradas, mas o debate acerca das condições necessárias para uma participação efetiva não pode existir somente nos anos eleitorais.
O papel da mulher na sociedade
Os partidos políticos não podem defender a democracia somente para fora dos seus muros, precisam adotar programas de formação para capacitar mulheres para o exercício das funções eletivas; precisam abrir os seus espaços de comando para a ocupação feminina; precisam cumprir a legislação que determina não somente o percentual de apresentação de candidatas mulheres, mas também o acesso aos recursos financeiros provenientes do fundo partidário e do fundo de campanhas; precisam garantir o espaço de visibilidade dado pelo HGPE.
Mas isso não é o suficiente. O papel da mulher na sociedade precisa ser debatido de maneira regular, sistêmica, objetivando mudar a cultura política que pouco ou nada comporta a pluralidade. Afinal, não existe uma pauta única no universo feminino e os espaços de fala e de decisão precisam contemplar interesses plurais, de mulheres negras, indígenas, deficientes, que querem a maternidade, que não querem a maternidade. No debate genuíno, polifônico, certamente estarão as bases para o fortalecimento de uma sociedade democrática.
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