Do liberalismo ao “o petróleo é nosso”: o branding do presidente do Brasil
Em 2018, o candidato Jair Bolsonaro conseguiu representar, na sua imagem e no seu discurso, anseios de diferentes segmentos da sociedade brasileira: a) a moralidade na política; b) o liberalismo econômico; c) a eficiência administrativa do Estado; d) o antipetismo e o antilulismo.
O êxito do projeto eleitoral, com a vitória de Jair Bolsonaro, trouxe a necessidade de efetivação dos discursos apresentados na campanha. Assim, a primeira medida foi a formação ministerial alinhada com os eixos programáticos descritos acima. Com os super ministérios comandados por Sérgio Moro e Paulo Guedes, finalmente, os brasileiros ansiosos por moralidade pública, pelo fim da impunidade e por austeridade fiscal, teriam os seus interesses contemplados.
Independentemente dos juízos acerca dessas plataformas, que dividem profundamente a sociedade e os campos de análise, esse foi o projeto escolhido pela maioria do eleitorado brasileiro e, portanto, deve ser entendido como parte do ambiente democrático. E como parte do jogo politico, sobretudo nos contextos democráticos, o componente da legitimidade é imperioso para a conquista, a manutenção e a ampliação do poder.
Se as plataformas de austeridade e moralidade funcionaram no contexto eleitoral, a realidade trazida pela pandemia do Covid-19 impôs uma guinada no posicionamento. Se o grande desafio para a manutenção da legitimidade é o de oferecer as respostas corretas aos anseios e necessidades do povo, o discurso e a imagem precisaram se adequar.
De defensor do Estado mínimo, o presidente passou a adotar práticas de Estado provedor e experimentou a sensação de acompanhar uma melhoria nos percentuais de aprovacão popular. Os mais recentes discursos causariam inveja aos grandes representantes do nacional populismo no Brasil, como Getulio Vargas, que provocou o entusiamo de muitos brasileiros, na década de 1950, com a frase “o petróleo é nosso”, repetida por Bolsonaro em 2021.
O “a favor do povo” e os “contra o povo”
Em visita ao Ceará, para anunciar a retomada de algumas obras federais, mais uma vez Bolsonaro recorre a marcas definidoras da retórica populista, para se dirigir ao público que o acompanhava.
Em evento no município de Tanguá, em 26 de fevereiro, o presidente iniciou a sua fala utilizando elementos de identificação com o público, através do lugar (“o meu sogro é de Crateús, estou ligado a essa terra”), com expressões regionais (“cabra da peste do Ceará”), exaltando uma paixão nacional (o futebol). Assim, ele assume uma posição confortável, por construir a proximidade necessária para ganhar a adesão do receptor e, em seguida, assumir o papel de seu porta voz.
Uma das mais eficientes estratégias persuasivas, no campo da política, é a de se colocar como porta voz do povo. Ao afirmar que “esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu povo quer”, o presidente se posiciona como o mensageiro do povo, alguém que está perto e conhece as pessoas, portanto competente para falar das suas dores.
Como em qualquer narrativa heroica, do homem que se coloca efusivamente em favor do seu povo, e não se cansa na jornada por ser “imbrochável”, também se faz necessária a construção da figura do anti-herói. Nesse caso, sem fazer referência direta, esse é o papel representado pelos que “fecham tudo” (governadores). O enredo, portanto, se completa com essa disputa entre o “a favor do povo” e os “contra o povo”.
Base no discurso nacional populista
No campo da política, o discurso objetiva o convencimento, e mais facilmente se convence alguém, dizendo aquilo que ela quer ouvir. A constatação foi apresentada por Maquiavel no século XVI. Na história política nacional, são muitos os casos de lideranças que ascenderam com base no discurso nacional populista. O que nos leva a inferir que, embora não seja a forma discursiva mais interessante numa República, ela pode ser útil para a conquista, a manutenção e a ampliação do poder.
E antes que alguém cobre um debate sobre as aglomerações decorrentes da movimentação do Presidente no Estado, o comportamento condiz com o posicionamento que Bolsonaro adota desde março de 2020, quando foram registrados os primeiros casos de Covid-19 no Brasil.
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