Desde a redemocratização do País, os institutos de pesquisa assumiram um protagonismo no agendamento de pautas midiáticas, na definição de ideias que sustentam os discursos políticos e eleitorais, na maneira como os governos definem as prioridades. Isso decorre da capacidade dos institutos apresentarem, em números, como as pessoas estão pensando, sentindo e agindo. Além disso, e o mais importante, eles indicam quais as tendências que apontam o caminho para a legitimidade.
Recentes eventos políticos, como a decisão de anulação das condenações do ex-presidente Lula, a mudança do ministro da saúde, os decretos estaduais e municipais de isolamento social, têm sido traduzidos em percentuais reveladores da avaliação popular sobre eles.
Para compreender o que captam, podemos analisar uma consulta recente, divulgada na semana passada com a apresentação de números acerca da avaliação dos governos estaduais e do governo federal em relação ao combate à pandemia de Covid-19. A pesquisa foi realizada pelo DataFolha, o qual ouviu 2.023 pessoas entre os dias 15 e 16 de março deste ano.
Os resultados mostram o crescimento do número de pessoas que não aprovam o desempenho do presidente Bolsonaro na condução do combate à pandemia. No período analisado, 54% dos entrevistados avaliam como ruim ou péssimo. Enquanto a pesquisa feita pelo mesmo instituto no mês de janeiro do corrente ano, o índice de reprovação foi de 48%.
Se considerarmos que as pesquisas ocorreram conforme os mais rigorosos procedimentos metodológicos, ou seja, não tendenciosas e com amostras representativas da população, teremos um resultado revelador de um momento muito específico e suscetível a mudanças bruscas.
As razões para a reprovação
Muito provavelmente, a opinião dos entrevistados está alicerçada em dois grandes gargalos: o primeiro relacionado ao programa de imunização e o segundo ao auxílio emergencial.
A vacina, tão questionada e refutada antes da sua existência, passou a ser objeto de desejo de todos os lados do espectro político e ganhou a simpatia das pessoas que, mesmo no início da campanha de imunização, resistiam a ela. Imbuído desse anseio nacional, o Ministério da Saúde prometeu uma quantidade de doses as quais nem de longe se aproximaram do que efetivamente chegou aos brasileiros, causando um sentimento de frustração no povo.
Quanto ao auxílio emergencial, fundamental para as famílias mais vulneráveis e para a movimentação de parte considerável do comércio, sabemos até o momento que será paga uma quantia menor, em relação ao programa do ano de 2020. Além disso, esse recurso financeiro irá atingir apenas uma parcela menor das pessoas que foram assistidas por esse benefício no ano passado. Somado a isso, ainda temos a morosidade no pagamento do auxílio.
Esses aspectos geram a sensação de letargia e ausência de intervenção efetiva do governo federal, repercutindo nos índices de rejeição do presidente.
No entanto, tão rápida quanto a formação de uma avaliação negativa manifestada pelo povo é a sua mudança de opinião com a apresentação de medidas efetivas. Assim, a celeridade na vacinação das pessoas e o início do pagamento do auxílio emergencial podem contribuir para uma alteração dos resultados apresentados em pesquisas futuras.
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