Em 23 de março de 2021, após debates calorosos entre os ministros Gilmar Mendes e Nunes Marques, e uma alteração de posicionamento da Ministra Carmem Lúcia, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou suspeita a atuação do ex-juiz Sérgio Moro, na condução do processo que envolve o triplex no Guarujá, contra o ex-presidente Lula.
Essa decisão reforça o discurso de uma ação orquestrada por membros do Poder Judiciário, para desconstruir a imagem do ex-presidente Lula e impedir sua candidatura na eleição presidencial de 2018. Além disso, a resolução do colegiado apresenta condições objetivas para o fortalecimento das pretensões eleitorais de Lula, pois garante, no caso específico do processo do triplex, que não há empecilho legal para a sua candidatura em 2022.
Ao supormos que todos os desafios jurídicos estejam superados até a data de apresentação das candidaturas, o grande desafio para o Partido dos Trabalhadores (PT) e para o ex-presidente Lula será utilizar os mecanismos adequados, objetivando a sua reconciliação com o eleitorado.
Essa reaproximação deve ser buscada principalmente em relação aos eleitores que se renderam ao candidato Lula apenas em 2002 e sentem-se traídos por ausência de aspectos considerados cabíveis na moralidade pública ou desamparados, porque a manutenção dos mesmos índices de bem-estar apresentados nos dois mandatos de Lula não foram conquistados nos governos de Dilma.
O futuro do ex-ministro Sérgio Moro
A decisão da Suprema Corte também causa impactos no futuro do ex-ministro Sérgio Moro. Figurando nas pesquisas de intenções de votos como um candidato com potencial competitivo desde o início da operação Lava Jato, as prováveis pretensões de Moro sofrem com a “desidratação” da imagem do super-herói no combate à corrupção.
Certamente, esse desmanche teve início ainda na sua posição de Ministro da Justiça, mas é fortemente reforçado no momento em que se atesta a parcialidade do ex-juiz na condução do processo.
Alteração no tabuleiro político
Ao definir a suspeição de Moro, o STF também cria mais um desafio para o presidente Bolsonaro numa possível candidatura de reeleição. Isso porque ele possui dificuldades para manejar os partidos que formam a sua nova base aliada desde a eleição das presidências do Congresso Nacional; existe uma carta aberta da elite empresarial do País cobrando medidas efetivas de combate a pandemia; perda de popularidade dada pela morosidade na vacinação e no pagamento do auxílio emergencial.
Além de tudo isso, o presidente Bolsonaro ainda poderá ter que disputar os votos de segmentos numericamente expressivos da sociedade com o ex-presidente Lula.
Enfim, a decisão alterou sensivelmente o tabuleiro político. E se esses agentes, hoje com maior notoriedade no cenário, não conseguirem encontrar os caminhos da aceitação popular, as pesquisas indicam que um percentual considerável de eleitores está disposto a apostar em um nome diferente para administrar os novos e velhos problemas do Brasil.
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