Lira e Fux demarcam território após ameaças de Bolsonaro
Durante dias, o noticiário nacional discutiu como seriam a forma e o conteúdo dos discursos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nas manifestações de 7 de setembro. Muitos cenários foram construídos e analisados, o mais óbvio aconteceu.
Extremamente coerente com a marca Bolsonaro, o presidente ameaçou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que não cumprirá ordens judiciais, desmentiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação à confiabilidade das urnas eletrônicas, recuperou a bandeira do voto fisicamente auditável e exigiu que Luiz Fuz, presidente do STF, enquadre o “seu ministro”, referindo-se a Moraes.
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Em reação a Bolsonaro, Fux fala em crime de responsabilidade
No dia seguinte aos pronunciamentos do presidente Bolsonaro, Luiz Fux abriu a sessão da Suprema Corte demarcando o território e enquadrando o chefe do Executivo.
Considerado um ministro discreto, Fux iniciou a sua fala enaltecendo o esforço das forças de segurança para o transcorrer pacífico dos movimentos e voltou o discurso ao “presidente do Brasil”, segundo ele, porque impôs “uma palavra de respeito às instituições”.
O ministro explicou que não há democracia sem debate, sem a convivência de opiniões diferentes, e o Supremo depende disso para o seu aprimoramento. Entretanto, isso não pode ser confundido com “narrativas de descredibilização do STF e dos seus membros, como fez o presidente”.
Fux dirigiu-se ao povo e pediu “não caiam na tentação de narrativas falsas e messiânicas que criam falsos inimigos da nação” e afirmou que “o STF jamais aceitará ameaças a sua independência, nem intimidações ao exercício das suas funções e o questionamento das decisões judiciais podem ser feitos pelas vias processuais”.
Finalmente, o presidente do STF elencou os reais problemas do Brasil: pandemia, desemprego, inflação e a crise hídrica. O posicionamento do ministro escancara a dificuldade de existir harmonia entre os poderes, decorrente dos constantes ataques deferidos contra membros da corte por parte do presidente da República.
Fux também é considerado sensível ao termômetro dado pela “opinião pública” e, mesmo com a inegável demonstração de apoio dada ao presidente pelos seguidores que o acompanharam nos atos, pesquisas recentes, como a XP/Ipespe divulgada em 17 de agosto, indicam que Bolsonaro ficaria abaixo de qualquer candidato testado em uma eventual disputa no segundo turno do pleito de 2022. Portanto, a maioria do eleitorado pode estar mais preocupada com as questões que impactam o seu cotidiano e que foram listadas ao final da fala do presidente do Supremo.
Finalmente, destacou a passagem do discurso no qual o ministro enfatiza que o descumprimento das decisões judiciais configuram ilícito e crime de responsabilidade, claramente chamando a atenção do Congresso para a análise de abertura de processo de impeachment, caso as ameaças do presidente se concretizem.
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O posicionamento de Arthur Lira
Pouco antes da fala de Luiz Fux, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também se posicionou sobre os discursos de Jair Bolsonaro nos atos de 7 de setembro. Havia muita expectativa sobre a declaração do deputado, afinal ao mesmo compete a abertura do processo de impeachment.
Arthur Lira utilizou a estratégia discursiva mais adequada ao seu campo político, o “centrão”. De forma simples e pragmática, sem citar nomes, sugeriu que o legislativo pode ser “a ponte de pacificação entre os poderes”.
O deputado demonstrou insatisfação em relação à retomada do pleito presidencial pelo voto impresso, porque o presidente concordou em encerrar o assunto no momento da derrota da matéria na Câmara dos Deputados. Em seguida, reafirmou a segurança do sistema eleitoral brasileiro e o compromisso com a realização das eleições de 2022.
E com o foco nas eleições, falou dos problemas cotidianos porque sabe que o seu eleitor enfrenta falta de trabalho, de comida, de condições básicas de sobrevivência e espera respostas concretas para dificuldades reais.
O posicionamento de Arthur Lira foi considerado fraco para o que o momento exige. Mas é importante lembrar que a sua eleição para presidente da Câmara foi resultado de uma ação orquestrada pelo executivo e, além disso, é membro de um partido da base aliada e com cargos importantes no governo, como o ocupado por Ciro Nogueira na Casa Civil.
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