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Violência contra a mulher é problema de todos

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11 de outubro de 2021
Carla Michele

No dia 10 de outubro de 1980 as escadarias do teatro municipal de São Paulo serviram de palco para um protesto contra o aumento no número de crimes cometidos contra as mulheres no Brasil. Desde então a data tornou-se o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. 

Violência contra a mulher é problema de todos
Reprodução

Mais de quarenta anos após o protesto, mesmo com todo o aperfeiçoamento legal e  a democratização do debate sobre igualdade de gênero, o Brasil ainda apresenta dados alarmantes em relação à violência contra a mulher. 

De acordo com informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 1 em cada 4 mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão no ano de 2020, durante a pandemia de covid-19. Destas, 44,9% não fizeram nada em relação à agressão mais grave sofrida. 

Por que não conseguimos romper com essa lógica de coisificação da mulher? 

1 – Os aspectos culturais e históricos

A cultura patriarcal responsável pela formação do brasil colônia deixou o seu legado. No período colonial, a economia açucareira gerou a figura do senhor de engenho, o dono de todas as coisas e de todas as pessoas. Desse modo, durante séculos as mulheres, assim como as crianças e os escravos, foram ordenadas, reprimidas, silenciadas, subordinadas aos ditames do senhor. 

Essa estrutura colonial “naturalizou” as desigualdades e, mesmo com o seu declínio em 1822, a condição de objeto a que a mulher estava submetida perdurou até o século XX e ainda influencia na forma como as mulheres são tratadas nos espaços públicos e privados. 

Como essa “coisificação” da mulher é estrutural, muitas vezes a vítima de violência não consegue identificar o abuso ou esse abuso é encarado como “parte do jogo” porque, segundo o argumento utilizado, todo homem é “naturalmente” violento, é “naturalmente” desrespeitoso, é “naturalmente” infiel…

2 – O medo de denunciar

Somado ao aspecto histórico mencionado acima, o medo de denunciar reforça a “coisificação” e os atos de violência contra a mulher. 

E o medo se manifesta de múltiplas formas: a) medo de ninguém acreditar no seu relato, principalmente se a violência não deixa marcas físicas; b) medo de sofrer retaliação por parte do agressor; c) medo de ser apontada como a responsável pela agressão sofrida; d) medo de ficar sem condições financeiras de sobrevivência ou perder a condição financeira privilegiada; e) medo do que as pessoas vão achar e dizer; f) medo de desfazer a família; g) medo de ficar sem um marido; h) medo de ser abandonada pela família e pelos amigos; i) medo de perder o emprego ou de prejudicar o agressor quando a violência ocorre no ambiente de trabalho; j) medo de relembrar o que passou ao relatar os fatos na denúncia; l) medo de “não dar em nada”… E tantos outros. 

Diante do medo, muitas mulheres alimentam a crença na mudança de comportamento do agressor, mas a violência persiste e não raro se agrava ao longo do tempo.

Para encorajar a denúncia, a mulher precisa ter a garantia de que ela não está entregue à própria sorte ou forçada a permanecer em uma relação que causa danos profundos e até irreversíveis.

3 – Violência contra a mulher é problema de todos

Tão complexo quanto o problema é a solução. Necessariamente, as ações de enfrentamento à violência contra a mulher devem ser desenvolvidas de maneira sistêmica. 

Instituições como a família e a escola precisam reforçar o discurso de respeito à diversidade e fomentar a cultura de paz. 

As empresas devem adotar políticas de responsabilidade social que privilegiem o combate à violência contra a mulher. E não se trata de filantropia. Com isso, além de fortalecer a imagem de socialmente responsável e melhorar a sua reputação, as empresas também apresentam ganhos de produtividade quando investem na qualidade de vida das suas funcionárias. 

Os governos devem garantir o aparato necessário para a aplicação célere da lei e o amparo  (psicológico, financeiro, educacional, cultural) fundamentais para o fortalecimento e a restruturação da vítima.  

E, não menos importante,  ninguém pode silenciar no Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher e em todos os demais dias do ano.

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