Quem visita o Museu do Ciclo do Couro, em Nova Olinda, no Cariri cearense, inevitavelmente, é tomado por um encantamento ao ver as cores e formas das peças e as ferramentas que compõem o acervo pessoal do artesão Espedito Veloso de Carvalho, de 82 anos. O artesão explica que o ofício, que faz parte do sustento e da identidade da família há cinco gerações, é hoje sobrenome e assinatura das produções em couro que ele entrega ao mundo. Espedito escrito com “s” de sertão e de seleiro. Sua arte já foi apresentada em eventos de moda, exposições, novelas, filmes, livros, reportagens, pesquisas, entre outros.
“Trabalhar com o artesanato, com o couro, foi o que Deus me deu, e é o que eu acho bom. Não existe preguiça, falta de coragem, nem de memória para fazer o que eu quero. Toda a família está envolvida; neto, filho, sobrinho, primo, irmão; e algum vizinho que está desempregado, não tendo o que fazer, eu digo: venha para o couro”, garante Espedito.
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Em seu ateliê, localizado próximo ao Museu, Espedito Seleiro recebe os visitantes com o bom humor e a amabilidade que lhe são características. Faz por gostar mesmo, já que o reconhecimento por seu trabalho há muito tempo ultrapassou a questão da comercialidade. O que ele produz é patrimônio. Mas, ao ser perguntado sobre receber a Medalha da Abolição 2020-2022, expressa modéstia.
“Eu fiquei pensando se era de ‘vera’ [verdade] mesmo. Porque todo mundo fala que é importante. Eu nem sabia que existia, sabe. Depois foi que vieram me contando devagarzinho, e eu tô acreditando que existe. Para mim foi uma satisfação, porque eu não sabia nem seu merecia. Ele [governador Camilo Santana] me ligou numa boca de noite, conversou, e me avisou que eu ia ser homenageado. Aí eu só tenho que agradecer a Deus e ao povo que está vendo o meu trabalho, que eu faço todo o carinho e gosto”, ressalta.
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Medalha da Abolição 2020-2022
A comenda, instituída em 1963, reconhece o trabalho relevante de brasileiros para o estado do Ceará ou para o Brasil. A solenidade de entrega será realizada no próximo 25 de março, dia em que os cearenses lembram a Data Magna do Ceará. O Estado foi pioneiro ao garantir em quatro anos antes do restante do Brasil, em 25 de março de 1884, a liberdade dos negros que aqui foram escravizados.
Quem é Espedito Seleiro?
Nascido em 29 de outubro de 1939 em Arneiroz, cidade do Sertão dos Inhamuns, Espedito Seleiro representa não apenas a cultura e a criatividade cearense, mas também é figura importante do Nordeste brasileiro. Em razão disso, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura do Estado, já reconhece o artesão como um dos Tesouros Vivos da Cultura. Espedito é um Mestre da Cultura do Ceará, sendo um difusor de tradições, da história e da identidade, atuando no repasse de seus saberes e experiências às novas gerações.
O Museu do Couro também está incluído na rota dos Museus Orgânicos do Cariri, um projeto que é fruto da parceria entre o Serviço Social do Comércio (Sesc) e a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri (FGC). A iniciativa tem o propósito de ressignificar a casa dos Mestres e das Mestras, transformando-as em lugares de memória afetiva com possibilidade de visitação e movimento do turismo local.
Toda a sabedoria que Espedito costura no couro até hoje começou a ser aprendida quando ele ainda era menino, na década de 1940. Ao ver o pai, Raimundo Pinto de Carvalho, que era vaqueiro e agricultor, fabricando selas e trajes dos vaqueiros sertanejos (chapéu de couro, gibão, peitoral, luvas, entre outras peças), a criança brincava com os cortes que caiam no chão enquanto desenhava o próprio futuro.
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