SAMBÓDROMO DO ANHEMBI

Carnaval de SP: De Benito de Paulo a Zé Celso, 2º dia tem Manto Tupinambá e máscaras africanas

Cortejos foram abertos com a trajetória do sambista Benito di Paula, trazido pela Águia de Ouro

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2 de março de 2025
Estadão Conteúdo

Em mais uma noite agradável e sem chuva no Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, a avenida foi palco para enredos de protestos, de valorização da cultura africana e da importância da resistência indígena. As homenagens a personalidades históricas da cena paulistana também foram destaques e contagiaram o público. Saiba mais sobre o 2º dia dos desfiles do Carnaval de SP.

Carnaval de SP: De Benito de Paulo a Zé Celso, 2º dia tem Manto Tupinambá e máscaras africanas
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Os cortejos foram abertos com a trajetória do sambista Benito di Paula, trazido pela Águia de Ouro, enquanto, já na manhã deste domingo, 2, a Vai-Vai, encantou a plateia e fechou o desfile do grupo especial, sob aplausos, com um enredo sobre o ator e dramaturgo Zé Celso.

A bicampeã Mocidade Alegre, vencedora dos últimos dois carnavais paulistanos, que busca o tricampeonato, apostou em um enredo sobre a importância das mandingas, artefatos religiosos de origem africana, enquanto a Acadêmicos do Tucuruvi destacou a história do Manto Tupinambá. A Estrela do Terceiro Milênio, que ascendeu ao grupo especial depois de ser campeã do grupo de acesso no ano passado, fez um desfile contra a homofobia e a favor da liberdade sexual.

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Trabalhando pela primeira vez com a temática africana como enredo, a Gaviões da Fiel fez um desfile de máscaras no Sambódromo para contar história de Orumilá, uma divindade da mitologia iorubá que transmite seu conhecimento, saberes e profecia ao povo por meio das máscaras – o cortejo foi bastante aplaudido ao final.

As apresentações de Gaviões e Tucuruvi ficaram marcadas também pela superação e corrida contra o tempo. As tiveram alegorias danificadas por conta das chuvas da última quarta-feira. Conforme as assessorias das duas escolas, todos os reparos foram feitos a tempo do desfile deste sábado.

Águia de Ouro foi a primeira escola a desfilar neste sábado. E não demorou para a agremiação ganhar as arquibancadas. A homenagem para o cantor, compositor e pianista Benito di Paula trouxe um samba-enredo com referências aos clássicos do sambista, como o personagem Charlie Brown e o Vestido de Cetim. A plateia acompanhou, aplaudiu e cantou com energia.

A comissão de frente trouxe coreógrafos que imitavam as teclas de um piano, com uma fantasia de duas cores, preta e branca, divididas dos pés à cabeça. Eles dançaram juntos com outro integrante que interpretou Benito. Nesta parte do desfile, os condutores do elemento cenográfico apresentaram um desalinhamento na hora de empurrar a alegoria. Na sequência, um grande abre-alas trouxe uma Águia, mascote da escola, com suas asas abertas e preenchidas – novamente – com as teclas de um piano.

Com um grande globo giratório no topo, o segundo carro foi preenchido de borboletas, seja por peças ou na fantasia dos destaques, lembrando uma das canções do artista (Proteção às Borboletas). O terceiro carro, em formato de sanfona branca, foi outra menção direta à música que Benito fez para Luiz Gonzaga, de quem era amigo. Um busto imponente do Rei do Baião também foi instalado na parte de cima do carro, sobre a sanfona.

O quarto e último carro trouxe Benito di Paula, aos 83 anos, na frente da alegoria com um terno rosa e fazendo acenos para a plateia. E no topo do carro, “seu amigo” Charlie Brown sobre um tambor atrás do Snoopy, deitado sobre o telhado da sua casinha. O destaque negativo foi a dificuldade que a escola encontrou para fazer a curva com a alegoria antes de entrar no Sambódromo

Apresentação da Águia de Ouro também apresentou fantasias caprichadas, com diversidades de cores e volumosas, dando uma sensação maior de unidade mas alas. E com um samba-enredo contagiante e de fácil memorização, fez o público cantar e dançar até o final do desfile.

Fechado o portão dentro do tempo permitido, os integrantes da escola se abraçavam com frequência. Um dos mais tietados foi Xande de Pilares, que estreou no Carnaval de São Paulo cantando junto com o intérprete e demais puxadores. O cantor já fez parceria com Benito di Paula e é amigo do sambista veterano.

Na avaliação da diretora da escola Jacque Meira, a Águia de Ouro fez uma apresentação satisfatória e acredita que a agremiação acertou na escolha do enredo: “Conseguimos fazer uma homenagem para o Benito em vida”, relata. Sobre o homenageado, a diretora contou à reportagem que o pianista se engajou com todo o processo de construção do desfile. “Ele deu palpites sobre o samba, sobre as fantasias. Se envolveu desde o início”, completou.

Império da Casa Verde aborda contos clássicos e infantis no Carnaval de SP

A Império de Casa Verde foi a segunda a desfilar na noite. O enredo escolhido pela escola foi o Cantando Contos: Reinos da Literatura, com a proposta de abordar os romances clássicos e as histórias infantis.

Uma vistosa comissão de frente, em referência às histórias “mentirosas da carochinha”, apresentou interpretações de uma série de personagens, como Harry Potter, Coringa e os de cordel. Destaques para os integrantes suspensos como marionetes nas garras da escultura de um grande felino.

O primeiro carro alegórico trouxe princesas, além de tigres, unicórnios e máscaras de gnomos móveis. Na parte superior desta extensa e colorida alegoria, “flutuava” um Aladim, em seu tapete mágico voador, que vendeu a lâmpada mágica ao invés de ficar com ela.

Em seu outro carro alegórico, a escola trouxe os considerados super-heróis de universos de Marvel e DC, como Batman, a Fera, Super-Homem e um Thor rodante na parte superior do carro. Todos esculpidos em grandes proporções. Mas, escondidos no meio de tantos heróis, a escola preencheu o carro com um questionamento: os vilões são mesmo vilões?

Os personagens Dona Benta, Gato de Botas e sapos do conto da Cinderela foram lembrados em alas espalhadas pelo desfile. A escritora Clarice Lispector também ganhou um espaço apenas seu na avenida. A Bateria, com todos vestidos de Coringa, seguiram atrás da rainha Theba Pytilla, que cruzou a avenida sambando fantasiada de Mulher-Gato.

Por dois momentos a escola fez duas longas paradas da bateria, deixando o samba-enredo ser puxado à capela. O publicou aderiu, mas de forma mais tímida. A força dos cantos vinha, principalmente, dos integrantes da própria agremiação. Mas, ao cruzar a linha de encerramento do desfile, muitos foliões aplaudiram a apresentação da Império de Casa Verde.

Mocidade Alegre mostra força na avenida e nas arquibancadas

Dona de 12 títulos na elite do carnaval de São Paulo, a Mocidade Alegre entrou na avenida mostrando a força que possui nas arquibancadas. A terceira a escola da noite começou ainda na madrugada de sábado. Milhares de bandeiras vermelhas e verdes foram chacoalhadas nas arquibancadas e camarotes saudando o desfile.

A Morada do Samba, como é apelidada, desfilou com o objetivo de conquistar o terceiro título seguido. Se acontecer, será a terceira vez na história da escola (1971-1973, 2012-2014 e 2023-2025) . Para isso, a agremiação trouxe para a passarela o enredo Quem não pode com mandinga não carrega patuá.

O objetivo da escolha do tema foi celebrar a fé brasileira por meio de um olhar histórico e cultural que valoriza a negritude do universo afro-religioso, tendo na figura da baiana a reunião de todos esses elementos. Além disso, critica também o apagamento cultural promovido contra costumes, símbolos e artefatos de religiões de matriz africana.

As bolsas de mandinga, pequenos objetos sagrados, são usados como amuletos ou talismãs para proteção. Com origem nos povos africanos, e feitos com pedras, conchas, búzios, marfins, esses itens carregavam a energia de forças espirituais e serviam para diversas finalidades, como proteção contra o mal, promoção da saúde, prosperidade e invocação de poderes sobrenaturais.

À frente do carro abre-alas, a médica Thelminha, que venceu o Big Brother Brasil em 2020, desfilou pela avenida como destaque de chão como guardiã das tradições espirituais Malês.

O primeiro carro alegórico a ser apresentado, o abre-alas, desfilou suntuoso, utilizando muitas cores douradas. Foi a forma que a Mocidade encontrou para, segundo a escola, representar o “imponente e vasto continente africano ancestral” que se destaca pela riqueza, diversidade e força de espiritualidade e resistência.

Já a segunda alegoria, chamada de Altares das Irmandades Negras, retratou um processo pelo qual as religiões de matriz africana tiveram que passar ao longo da história: fusão com a religião católica, de origem ocidental, precisando encontrar formas de resistir dentro de um contexto colonial. Nesta alegoria, a Mocidade mostrou búzios amarrados em cordões fixados em cruzes de madeira.

A quarta alegoria trazia elementos da Mocidade Alegre. Uma mão estendida segurando uma estrela representava a 13° título tão almejado pela escola. Nas laterais, membros da velha guarda da agremiação também desfilaram. E na parte traseira do carro, foi colocada uma escultura das mãos de Solange Bichara, presidente da escola, com os dedos entrelaçados com um terço em volta dos pulsos. O gesto é uma marca da presidente.

Como a Império de Casa Verde, a Mocidade também fez longas paradas ao longo do cortejo. O público cantou junto com bastante entusiasmo.

A escola viveu momentos de tensão no final do desfile. O quarto e último carro aparentou problemas com o motor. Muitas pessoas tiveram que empurrar a alegoria, que chegou a ficar desalinhada na passarela. Apesar disso, a Morada do Samba conseguiu concluir o desfile dentro do prazo, com 1 minuto e 8 segundos para estourar o tempo.

Sobre o problema no último carro alegórico, Edson Evangelista, diretor de alegoria, explicou que o veículo é motorizado e apresentou um problema na embreagem, levando a alegoria “patinar” por alguns metros pela avenida. “Foi por esse motivo que tivemos que empurrar, por um problema na embreagem”, disse o diretor. “Mas deu tudo certo”.

Carnaval de SP: Gaviões da Fiel coloca na avenida desfile de máscaras africanas

A Gaviões da Fiel, quarta a desfilar do dia, apresentou o enredo Irin Ajó Emi Ojisé, que em tradução do iorubá (um grupo etnico-linguisrico da África) significa “A Viagem do Espírito Mensageiro”. A proposta foi contar a história de Orumilá, considerado a divindade da sabedoria, que peregrinou pela África compartilhando ensinamento, conhecimento e profecias por meio de máscaras.

As alas representaram um local onde Orumilá esteve e apresentou a máscara que a divindade entregou de acordo com cada situação.

Na ala das crianças, que receberam a máscara Kota, por exemplo, o enredo diz que quando Orumilá esteve no Gabão apreciou por lá um ritual de iniciação de garotos e garotas Kotas. E isso o fez entregar máscaras cujo ensinamento prevalente é o da humildade.

Enquanto na ala da máscara Tchokwe, a sinopse conta que, chegando a Matamba, Orumilá presenciou os horrores da escravidão “Por isso, nesse lugar ele decidiu conceber uma máscara para refletir o amor que viu na expressão de dor das mães dos escravizados.”

O carro Abre-Alas veio com o tradicional Gavião segurando o distintivo do Corinthians com grandes máscaras Bwa nas laterais em meio ao pantano de Nanã, representado por simulações de árvores e plantas. Foi neste pântano onde Orumilá foi com seu povo para conceder a eles as suas máscaras próprias para o cuidado com a natureza.

Na terceira alegoria, a Gaviões contou a história de quando Exu e Aluvaiá (representados com a cabeça na parte da frente do carro) incendiaram a baía de Luanda para matar os responsáveis por escravizar angolanos. A alegoria mostrou, com luzes vermelhas e destaques com fantasias simbolizando chamas, a destruição de barcos.

A já animada torcida da Gaviões, que estendeu uma série de faixas de lugares diferentes da capital e do Estado, se empolgou ainda mais com a passagem da Rainha de Bateria, Sabrina Sato, pela avenida.

Tucuruvi canta sobre a resistência indígena e o Manto Tupinambá

A Acadêmicos do Tucuruvi trouxe a temática indígena no quinto cortejo deste quinto de desfiles. O enredo ‘Assojaba – A busca pelo manto’ conta a história do Manto Tupinambá, uma vestimenta sagrada para o povo homônimo que foi exposta por mais de 300 anos em um museu na Dinamarca e devolvida ao Brasil em 2024.

O manto apareceu representado logo na comissão de frente. O carro abre alas se destacou pelo grande indígena, confeccionado por uma espécie de pano azulado – uma das cores da escola – transparente. Do seu ombro direito descia uma serpente móvel. Ao redor da alegoria, um série de apanhador de sonhos foram fixados

Integrantes da escola, vestido de indígenas, sentaram sobre araras na segunda alegoria, enquanto uma imagem impactante tomou conta do terceiro carro: Indígenas esculpidos com expressões de ira, arrancando a cabeça de um monarca.

A representação aparentou indicar uma reação dos nativos contra as mortes provocadas pelos embates de indígenas de Pindorama (nomenclatura usada por Tupis-Guaranis para designar o Brasil) contra os europeus portugueses durante o período de colonização do País.

O quarto e ultimo carro ergueu uma de suas destaques a um dos pontos mais altos da alegoria. Atrás dela, foi encaixada uma escultura rodante de um cocar que, ao girar, simulava um sol. Espalhado pela alegoria, integrantes desfilavam com cartazes na mão dizendo “O Manto voltou”.

O rosto de um indígena também foi esculpido na parte traseira desta última alegoria, virado para a pista já percorrida. E sol giratório frontal se encaixou a este rosto como um adereço. Foi esta a última imagem do desfile que o público observou antes do encerramento da apresentação da Acadêmicos dó Tucuruvi.

Estrela do Terceiro Milênio desfila contra o preconceito no Carnaval de SP

O enredo escolhido pela Estrela do Terceiro Milênio, sexta e penúltima escola a passar pelo Sambódromo do Anhembi, foi Muito além do arco-íris, tire o preconceito do caminho que nós vamos passar com amor.

Com um desfile crítico e satírico, a escola protestou contra as práticas de intolerância e repressão, especialmente as que vão contra a liberdade sexual.

A bandeira do arco-íris, que representa a comunidade LGBTQIAPN+, foi usada em diferentes momentos do desfiles, tanto em fantasias como em alegorias.

Nas alas, o “Kit Gay” e representação da “mamadeira de piroca”, boatos criados durante campanhas eleitorais, foram lembrados. Homens de rosa brincando de bonecas e mulheres de azul com carrinhos nas mãos também foram levados ao Sambódromo.

O desfilou também atacou as afirmações ditas científicas que apontam que homossexuais podem ser curados pela medicina, incluindo por meio de métodos que incluem isolamento social.

No segundo carro alegórico, a escola trouxe uma homenagem ao Dzi Croquettes, grupo de teatro dos anos 1970 que se apresentava com um visual mais exuberante, trajes femininos e maquiagem.

Mesmo apresentando um desfile mais modesto no acabamento de fantasias e alegorias, a Estrela do Terceiro Milênio divertiu a plateia, apesar dos sinais de cansaço evidentes no público.

Vai-Vai encanta com Zé Celso

A escola Vai-Vai entrou no Sambódromo com o céu já alaranjado pelo nascer do sol. A maior campeã do carnaval paulista, e a última a desfilar pelo grupo especial, levou para seu cortejo uma homenagem ao ator, diretor e dramaturgo Zé Celso. O enredo foi batizado de O Xamã Devorado y a Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem.

Conforme a escola, o desfile se inspirou no conceito da antropofagia, no qual a agremiação devora o Zé Celso em um banquete para se nutrir de toda sua genialidade, cultura e potência artística.

No primeiro carro, a alegoria apresentou duas mesas que serviam de repouso para partes de um corpo esquartejado. Cabeça, cérebro, pés, pernas e braços eram servidos como pratos para um banquete.

À frente, uma coroa rodante (símbolo do Vai-Vai) tinha cachos de uvas fixadas. A uva foi usada como símbolo de Baco, Deus do Teatro e do vinho na mitologia romana. Ao lado deste acessório, destaques dançavam de forma libertina e sem pudores, como se estivessem em uma festa.

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Na alegoria seguinte, em um carro com as cores da agremiação (preto e branco), feita uma representação do rosto de Zé Celso esculpido com vários pontos de interrogação ao redor – para representar que na sua cabeça havia mais dúvidas do que certezas

Na mesma alegoria, uma série de gaiolas com um cérebro dentro e a portinhola aberta foram espalhadas pelo carro. Esta representação, segundo a escola, é uma metáfora para sua capacidade de estimular o pensamento livre e autêntico.

Depois de fazer na terceira alegoria uma homenagem para Cacilda Becker, atriz que marcou a trajetória de Zé Celso, o Vai-Vai encerrou o desfile com um carro que uniu fotos do dramaturgo, rostos esculpidos com a língua de fora (uma de suas marcas) e elementos da escola, como uma grande coroa rodante.

A proposta foi mostrar a importância e as influências de Zé para o bairro Bixiga, sede da agremiação, na região central da capital. Por lá, o artista fez das ruas um palco aberto, segundo a escola.

Uma longa fila de convidados seguiram atrás dos carros, acenando para uma plateia que já tinham sacado os óculos escuros para enxergar a avenida. A escola foi uma das mais aplaudidas e cantadas do começo ao fim da apresentação.

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