“É preferível arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, a formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.” – Theodore Roosevelt (1858-1919), 26º presidente dos Estados Unidos da América
Leia a reflexão acima do ex-presidente americano Theodore Roosevelt. Absorva-a, assimile-a, compreenda-a. A maioria das pessoas não consegue fazê-lo. São indivíduos que têm medo de se arriscar e acabar errando. Temendo ser vistos como derrotados, nem sequer tentam de verdade. E sabe quem desiste fácil assim? Quem não sabe diferenciar uma simples falha, uma derrota temporária, do fracasso, que é definitivo.
O sucesso normalmente está a um pequeno passo do ponto em que se costuma desistir de lutar. Infelizmente, muitos de nós não entendem que uma derrota circunstancial pode ser, na verdade, o disfarce perfeito de uma grande oportunidade para a mente se libertar do que não funcionou e enveredar por novos caminhos. Na outra ponta, quem consegue alcançar essa verdade se mantém lutando mesmo depois de tropeçar. É essa pessoa que acabará vencendo.
Um revés nada mais é que a consumação de um plano que deu errado. Por isso, tem grande valor, na medida em que permite avaliar toda a situação a fim de implementar ajustes para o percurso fluir melhor. A falha impõe uma pausa necessária e serve para testar o quanto de força de vontade a pessoa tem de verdade. É salutar para que o indivíduo ao menos vislumbre o poder da autodisciplina. Basta uma breve leitura da biografia das maiores personalidades que marcaram a humanidade, como Thomas Edison, Henry Ford e, nos dias de hoje, Jeff Bezos, para constatar que os feitos delas são, em geral, diretamente proporcionais às experiências de derrota que vivenciaram antes de se tornarem bem-sucedidas.
Um erro de cálculo obriga a rever hábitos e construir outros melhores que levem à realização dos maiores objetivos, individuais ou coletivos. A perda de coisas materiais ou de algo de valor incalculável, como, por exemplo, a liberdade de locomoção, pode nos fazer sofrer e, ao mesmo tempo – e se o permitirmos –, nos ensinar lições preciosas. Se você já assistiu a alguma entrevista do canal Imparável, sabe do que estou falando. Lá, há depoimentos incríveis de pessoas cuja trajetória, muitas vezes repleta de frustrações e obstáculos, fez delas seres humanos menos alienados, mais autoconfiantes, dotados de esperança e invejável força de vontade. É da natureza da pessoa resiliente, ao deparar com adversidades, reagir lutando de todas as formas e com todas as forças que lhe restarem. Ela sabe que cada dificuldade traz consigo a semente de uma vantagem de mesma proporção.
Existem dois tipos de falhas. O primeiro, que também é o único nocivo de fato, tem a ver com a falta de experimentação, com o receio de arriscar novas ideias, seja por simples medo, seja por achar que “não é a hora”. É a espécie de derrota que atinge em cheio quem fica assistindo à vida passar e engana a si mesmo, repetindo “amanhã, amanhã”… Se tal comportamento durar para sempre, atrairá o definitivo fracasso. O segundo tipo engrandece, por ser reflexo do espírito ousado e aventureiro de quem prefere sair da penumbra e, mesmo ciente dos riscos de sua decisão, vai em frente, pronto para arcar com eventuais derrotas. Para alguém disposto a isso, eventuais efeitos negativos da experiência são superados, de longe, pelos efeitos positivos do aprendizado. Ao contrário de derrubá-lo, as falhas o fortalecem, na medida em que mostram o caminho certo.
Estamos todos atravessando um dos momentos mais adversos da história recente. Embora tenha provocado muita tristeza e medo, a pandemia de covid-19, tal como qualquer outro revés em nossos planos, tem potencial para nos afastar da vaidade e do egocentrismo – se permitirmos, ressalto. Nada é mais forte do que sermos confrontados com nossa impotência, como indivíduos, diante de um vírus com tal poder de destruição. Ele veio provar que todos nós somos, em alguma medida, reféns da cooperação e do apoio de terceiros, mesmo que estes sejam apenas amigos virtuais.
Se uma crise sanitária internacional revela como somos falíveis sem a ajuda e a tomada mútua de decisões em escala mundial, um contratempo de menor impacto também pode nos forçar, individualmente, a testar nossa força física, mental e espiritual, colocando-nos face a face com nossa fraquezas e nos oferecendo a oportunidade de transpô-las. É na adversidade que velhos hábitos são abandonados e substituídos por novos. E é na adversidade que comportamentos negativos abrem espaço para outros, mais promissores. Como já escrevi, aqui, certa vez, inspirado nos ensinamentos do escritor Rubem Alves, “ostra feliz não faz pérola”.
A realidade não fornece imunidade contra problemas, mas parte do princípio de que todos somos capazes de enfrentá-los à altura e, mais, de extrair deles algo de bom. O fracasso só passa a ser real quando a mente o aceita como permanente. Cabe a você decidir se vai lutar até atingir seus objetivos ou se prefere negligenciar seu instinto e encarar as consequências dessa escolha. É oportuna a lição do médico psiquiatra Roberto Shinyashiki: “Não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias”.
Para que suas pequenas derrotas lhe sirvam de lição e os desejos que você nutre se concretizem, crie uma parceria com a providência. Pergunte-se quantas vezes forem necessárias: “Como posso agir neste momento, como devo desempenhar esta tarefa, em especial, de modo que seja aceitável pela vontade divina e coerente com ela?” Preste atenção em suas respostas e entre em ação. Mesmo que portas pareçam ter se fechado e você se veja às escuras, saiba que jamais está sozinho de verdade. Escute o que sua mente lhe diz. Acredite, ela tem muito a ensinar. Siga suas instruções.
E lembre-se: os primeiros passos rumo à realização de um sonho são os mais estafantes, porque nossa alma, fraca e teimosa, detesta esforço e abomina o desconhecido. À medida que progredimos, porém, nossa decisão se fortalece, assim como nos aperfeiçoamos como seres humanos. Em verdade, aos poucos se torna até difícil deixar de fazer o que sabemos ser o melhor para nós mesmos.
Talvez você tenha falhado recentemente e até sido chamado de fracassado por alguém. Mas você sabe que falha e fracasso não são a mesma coisa, então não se deixe abater. Siga em frente, porque a vitória está logo ali em frente.
Por Gabriel Granjeiro