De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de desemprego recuou para 13,9% no quarto trimestre, mas é o maior para o ano desde 2012. A taxa média de desocupação para o ano de 2020 foi de 13,5%, a maior desde 2012, o que corresponde a cerca de 13,4 milhões de pessoas na esperança de conquistar um trabalho no país.
“No ano passado, houve uma piora nas condições do mercado de trabalho em decorrência da pandemia de Covid-19. A necessidade de medidas de distanciamento social para o controle da propagação do vírus paralisaram temporariamente algumas atividades econômicas, o que também influenciou na decisão das pessoas de procurarem trabalho. Com o relaxamento dessas medidas ao longo do ano, um maior contingente de pessoas voltou a buscar uma ocupação, pressionando o mercado de trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
No intervalo de um ano, a população ocupada reduziu 7,3 milhões de pessoas, chegando ao menor número da série anual. “Saímos da maior população ocupada da série, em 2019, com 93,4 milhões de pessoas, para 86,1 milhões em 2020. Ou seja, foi uma queda bastante acentuada e em um período muito curto, o que trouxe impactos significativos nos indicadores da pesquisa. Pela primeira vez na série anual, menos da metade da população em idade para trabalhar estava ocupada no país. Em 2020, o nível de ocupação foi de 49,4%”, acrescenta Beringuy.
Essa queda da ocupação foi disseminada por todos os trabalhadores. Em um ano, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) teve redução recorde, menos 2,6 milhões, um recuo de 7,8%, ficando em 30,6 milhões de pessoas. Os trabalhadores domésticos (5,1 milhões) diminuíram 19,2%, também a maior retração já registrada.
No quesito remuneração de cargos, de acordo com o IBGE, os negros do país recebem menos que os brancos e são maioria nos setores da economia com baixa remuneração, apesar de constituírem 55,8% da população. Entre os principais obstáculos para a inserção estão o preconceito e dificuldades de acesso à educação.
O impacto da pandemia no mercado de trabalho também fez com que a diferença da taxa de desemprego entre brancos e negros aumentasse e atingisse seu maior nível desde 2012. Isso se deve ao fato de que a pandemia atingiu principalmente atividades econômicas com maior participação de negros, como comércio e construção civil.
No segundo trimestre de 2020, por exemplo, o primeiro completo sob os efeitos da pandemia, a taxa de desemprego geral ficou em 13,3%, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua do IBGE. Ao analisar o dado de acordo com a cor da pele, a taxa de desemprego de negros ficou em 17,8%, de pardos, 15,4%, e de brancos, 10,4%.
Histórias de quem conhece de perto essa realidade
“Quando era mais jovem, sonhava em ser modelo. Certo dia conversei com o dono de uma agência e ele me mostrou algumas revistas de moda e o quadro de modelos da agência e me pediu para contar quantas modelos negras havia. Na revista de 300 páginas contei apenas 2 modelos negras e, na agência, 3 no total. Então passei a perceber a diferença de oportunidades entre negros e brancos”, relata Luana Génot, fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil.
Segundo Luana, ela até conseguiu alguns trabalhos na área de moda, mas ganhava até 5 vezes menos que as modelos brancas e não conseguia fazer propagandas de produtos para cabelo. “Tudo isso me fez criar um blog chamado O lado negro da moda”, justifica.
Durante um trabalho, a ex-modelo e agora empresária entrevistou um menino negro de 6 anos de uma favela e perguntou o que ele queria ser quando crescer e ele respondeu que gostaria de ser segurança. “Quando eu perguntei o motivo, ele disse que era porque segurança é profissão de preto. Não é a questão da profissão, mas essa justificativa indica que a criança não vê muitas opções de carreira devido sua cor de pele e isso é muito grave”, pontua.
Claudio Rodrigues se identifica como pardo, é formado em Administração e trabalhou em instituições públicas e privadas. Ele está há 10 meses desempregado e busca oportunidades nas áreas administrativa, financeira e comercial. “Nunca sofri preconceito pela cor da pele, mas conheço pessoas que já sofreram. No meu caso, minhas principais dificuldades são a escassez de vagas e adaptação para os processos seletivos que atualmente são virtuais devido à pandemia”, explica.
Como driblar as dificuldades de recolocação
Na visão da consultora de Recursos Humanos e especialista em recolocação profissional, Rafaelle Benevides, as principais dificuldades dos profissionais, sejam eles negros ou brancos, é a falta de qualificação ou de experiência.
“O mercado de trabalho ainda tem boas oportunidades para profissionais bem qualificados e com postura e ética profissional. Existem muitas vagas que ficam abertas por meses porque não encontrarmos profissionais que reúnam as competências, qualificações e experiências requisitadas”, afirma.
Para Rafaelle, o acesso à educação básica de qualidade e a ampliação de cursos técnicos que ensinem os jovens a trabalhar, resolver problemas e desenvolverem habilidades de relacionamento são alternativas para se tornar um profissional mais competitivo no mercado.
“Na minha opinião, as competências dos profissionais do futuro são: a habilidade de aprender, desaprender e reaprender; o relacionamento humano com empatia e a capacidade de resolver problemas complexos. Isso precisa ser desenvolvido pelo profissional, pois não se aprende na escola ou na universidade”, aconselha.
Com as mudanças provocadas no mercado de trabalho devido à pandemia, a especialista dá as seguintes orientações para acelerar a conquista pelo emprego: “Busque fazer cursos dentro da sua área de atuação, mantenha seu currículo sempre atualizado e com boa organização, aprenda a utilizar redes como o Linkedin. Por último, participe de grupos de vagas da sua cidade ou região, pois isso aumenta as suas possibilidades de recolocação profissional”, finaliza.