Se você realmente quer mudar de carreira profissional, é importante que haja uma transição. A migração de carreira precisa de um plano responsável para acontecer. Não é simplesmente anunciar que você vai mudar de profissão, em uma mudança abrupta que se configura como uma autossabotagem. Portanto, o processo de transição é importante para que a migração não seja uma desculpa aceitável para o próprio fracasso profissional.
Quando estava na Itália fazendo MBA ouvi esse insight e fiquei pensativo. Questionei a mim mesmo por que não ensinam isso no Brasil. A resposta é: carreira profissional se fundamenta em um conceito de base econômica. Nada mais é do que listar todas as coisas que você sabe, que você faz e pelas quais alguém te paga. É o ponto da consciência exata sobre por que te contratam. Muitas pessoas quebram economicamente porque não tocaram nesse conhecimento. Tantas sequer sabem que alguém paga por isso. À maioria dos brasileiros falta consciência e investimentos adequados nisso.
As possíveis fases de uma base econômica de carreira são: aquisição, manutenção, evolução, transição e migração.
A migração de base econômica é um ponto de perigo. Quando radical, é autossabotagem. Desconsidera o que te pagou até agora por algo que não é real e que não te paga hoje. No momento prematuro em que você anuncia a mudança começa a sabotagem. Seu time deixa de contar com você. Isso é como “decepar as mãos” (palavras do meu professor italiano).
A questão é: poucas pessoas trabalham corretamente com transição. É o momento de pensar e perceber que o desejo de fazer algo novo é baseado em outra coisa, a fonte de renda é outra, mas almeja-se ir para uma nova possibilidade.
Por isso reforço a transição. É o momento de reflexão e do plano de ação. Você preserva sua autonomia de sustentação e isso permite investir na transição. No momento que se concretiza, você pode desligar o anterior. Pensando nisso, dividi a migração em cinco etapas:
1ª: Reflexão atualizada / consciência da base econômica aqui e agora.
2ª: Manutenção da autonomia de sustentação, para não faltar recursos e comprometer a migração.
3ª: Investimentos na nova profissão / carreira.
4ª: Pré-migração, se houver oportunidade, algo como part-time entre o que te sustenta e o que desejas.
5ª: Virada de chaves, conservando a diplomacia com todas as relações da carreira antiga e constituindo novas relações funcionais para a nova carreira.
Tive uma grande crise pessoal quando queria trabalhar em uma grande empresa de sistemas, porque meu inglês era fraco. Eu tinha consciência de que meu ponto fraco era comunicação, percebia a importância para os meus negócios de usar português rebuscado e não tinha isso em inglês. Estava desesperado para resolver isso. Fui demitido e em 15 dias decidi ir para Toronto, onde fiquei durante seis meses. Nesse tempo meu idioma evoluiu, porém, paguei o preço da migração. Fiquei fora do mercado quando retornei ao Brasil, fora das melhores oportunidades, comecei quase do zero de novo.
Passei por uma transição em outra companhia. Era um bom programador. Preocupava-me em me comunicar coerentemente e fui promovido a coordenador de projetos. Fiz uma transição de programador para coordenador, organizando pessoas para se encontrarem e fazerem projetos. Só tinha livros de Delphi na minha estante e mais nenhum outro embasamento. Comprei novos livros. Corri atrás do meu vácuo de conhecimento para a carreira. Precisava aprender coisas novas para que aquela transição de cargo não fosse em vão. Para que ela não fosse estupidez.
Por isso digo: transição é sensatez. Migração é quase sempre estupidez.
*Por Fabio Camara – CEO da FCamara