De um lado, empresas com uma clara preferência ao trabalho presencial. Do outro, as adeptas ao modelo à distância ou, ao menos, às rotinas híbridas. A guerra ao home office se mostra um tema cada vez mais discutido no mercado, com pontos positivos e negativos defendidos por ambas as partes. Por mais que cada negócio deva avaliar este aspecto conforme sua cultura e demandas, algo é fato: adotar jornadas 100% presenciais, muitas vezes, pode ser um fator fortemente prejudicial à inovação.
Apesar da pandemia ter sido um catalisador deste modelo à distância, diversos países já vinham adotando uma série de iniciativas voltadas ao home office muito tempo antes. Com o isolamento social, a grande mudança foi o avanço das ferramentas favoráveis às operações de casa, tendo sido aperfeiçoadas e destinadas para viabilizar que os profissionais pudessem realizar suas atividades fora da sede empresarial sem prejuízos à sua produtividade.
Os benefícios desta prática foram tantos que, em dados divulgados na 24ª edição do “Índice de Confiança Robert Half”, 76% dos trabalhadores passaram a considerar a modalidade híbrida como a ideal para se trabalhar. Então, por que muitas empresas, mesmo diante deste cenário, começaram a fomentar a volta ao presencial? A razão disso, é, principalmente, para que pudessem ter uma melhor gestão sobre suas operações, considerando o aumento dos casos de sobrecarga de muitos talentos com o isolamento social.
Nós, seres humanos, somos biologicamente sociáveis. Sentimos uma falta natural de estarmos cercados por outras pessoas, conversarmos, e preservar as relações interpessoais. Então, quando precisamos ficar em casa devido à pandemia, foi compreensível o crescente número de casos de burnout e pioras na saúde mental, especialmente, nas gerações mais jovens.
Segundo uma pesquisa feita pela LHH do Grupo Adecco, empresa suíça de recursos humanos, 45% dos líderes identificaram uma piora nesse quadro em seus times durante este período. Isso fez com que, de acordo com outro estudo da International Stress Management Association (Isma) tenha revelado que, em 2023, o Brasil se tornou o segundo país com maior quantidade destes diagnósticos.
É claro que a volta ao presencial permite aos gestores um maior controle e acompanhamento dos processos internos, assim como a promoção de um relacionamento mais próximo entre as equipes. Porém, se analisarmos, mais especificamente, essa proposta em grandes cidades, o longo tempo gasto na locomoção é um fator extremamente prejudicial ao cansaço dos profissionais, o que gera um impacto direto para a inovação.
Uma ideia inovadora pode surgir de diversas pontas, assim como pode ser aplicada de diferentes formas para trazer resultados melhores que alavanquem a marca em seu segmento. Mas, para que isso aconteça, é importante que tempo de qualidade para a vinda destas ideias, e não um desgaste excessivo com rotinas que apenas gere um maior cansaço.
Neste ponto, o home office permite que possamos conciliar melhor nossas responsabilidades profissionais a atividades de lazer como caminhadas, academia, ou outros hobbies que relaxem nossas mentes e destravem nossas ideias. O próprio Albert Eistein, inclusive, já relatou que alguns de seus maiores Papers surgiram enquanto caminhava.
Contudo, não podemos nos esquecer de que, por sermos seres sociáveis, não podemos excluir totalmente a interação com outras pessoas, uma vez que também se pontua como um aspecto importante para a troca de visões e experiências para a implementação de ideias inovadoras.
A pandemia foi uma das poucas crises humanitárias que não foi sucedida por grandes inovações. O que mais presenciamos foi o crescimento de tendências que já vinham despontando no mercado, com as quais pudemos aperfeiçoar muitos métodos e processos do mercado.
Se tratando do home office, não há como negar que é uma modalidade com suas vantagens e que também tenderá a permanecer em muitas empresas. Mas, ele precisa ser equilibrado ao ser incorporado, mantendo uma conexão entre os times para que não se isolem e consigam fortalecer este relacionamento perante a vinda de insights valiosos para o crescimento do negócio.
É uma mera questão de equilíbrio entre o presencial e a distância, com o qual os profissionais permanecerão em contato com seus colegas, manterão uma boa flexibilidade para seu descanso e, com isso, conseguirão ser mais criativos e trazer ideias inovadoras de sucesso para alavancar a empresa em seu segmento.
Alexandre Pierro é mestrando em gestão e engenharia da inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e sócio fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.