Márcia Catunda
Coluna + Emprego

Jornada de trabalho flexível ainda gera debates sobre produtividade

Tendência “hush-cation” ganha popularidade entre Geração X e millennials e desperta atenção dos empregadores

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31 de maio de 2024
Márcia Catunda

Nos últimos anos, o mundo corporativo testemunhou uma mudança significativa em relação à jornada de trabalho, principalmente com o advento do trabalho remoto ganhando força em uma variedade de setores. No entanto, à medida que a dinâmica do ambiente de trabalho é influenciada pelo comportamento contemporâneo dos trabalhadores, uma parcela das empresas tem optado pelo retorno gradual ao trabalho presencial.

Jornada de trabalho flexível ainda gera debates sobre produtividade
Jornada de trabalho flexível Freepik

Uma das razões que têm impulsionado a volta dos modelos híbridos ou totalmente presenciais é o surgimento do conceito de “hush-cation” ou “férias silenciosas”. Essa nova tendência desperta algumas preocupações entre os empregadores, uma vez que implica que os funcionários realizem suas tarefas em ambientes não convencionais, o que teoricamente poderia afetar suas entregas e desempenho.

Segundo a RVshare, plataforma online que funciona como um mercado de aluguel de trailers nos Estados Unidos, as “férias silenciosas” estão se tornando mais comuns entre trabalhadores remotos. Em 2023, 36% da Geração X e dos millennials que trabalham remotamente já tinham uma dessas viagens planejadas.

Em consonância com as preocupações do mercado, Luciana Lima, professora do Insper e especialista em liderança e gestão de pessoas, destaca que o conceito de “férias silenciosas” deve considerar a natureza legal das férias, que são uma prerrogativa do empregador, não do empregado. “É essencial compreender o tipo de vínculo empregatício, especialmente em contratos regidos pela CLT, onde a determinação das férias é exclusiva do empregador, conforme estabelecido pela legislação”, destaca.

No contexto do trabalho remoto, é imprescindível que a empresa esteja ciente da localização geográfica do funcionário durante o período de trabalho. Isso é fundamental para garantir a disponibilidade em situações emergenciais. “A falta de comunicação sobre a localização pode acarretar em complicações operacionais para a empresa”, ressalta a especialista.

Um estudo realizado no ano passado pela Owl Labs, empresa especializada em dispositivos de videoconferência em 360°, revelou uma disparidade de opiniões entre gestores e trabalhadores remotos no que diz respeito à produtividade.

Os resultados apontaram que 60% dos líderes expressam preocupação com a possibilidade de os colaboradores serem menos produtivos trabalhando remotamente, ao passo que 62% dos profissionais afirmam sentir-se mais produtivos nesse modelo de trabalho.

“Embora o termo ‘férias silenciosas’ possa envolver aspectos relacionados à produtividade, qualidade de vida e bem-estar, também há uma parte da responsabilidade que recai sobre o próprio empregado em relação às suas atividades e resultados”, expõe a especialista.

Para muitos profissionais esse conceito representa uma estratégia eficaz na prevenção do burnout e na manutenção da satisfação no trabalho, ajudando a evitar que os colaboradores remotos se sintam sobrecarregados a ponto de abandonar seus empregos. “Aqueles que apoiam essa prática acreditam que ela pode fortalecer a moral dos trabalhadores, promovendo um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, enfatiza Lima.

A pesquisa revela ainda que 83% dos trabalhadores remotos relatam operar no mesmo nível ou em níveis superiores de produtividade nesse regime. Esses resultados ressaltam as perspectivas divergentes sobre o trabalho remoto e sua relação com a eficácia no trabalho.

Em um mercado de trabalho que passa por constantes transformações, outro ponto que deve ser destacado é o papel da lealdade entre empregados e empresas. Enquanto o conceito de “férias silenciosas” ganha proeminência, é  essencial compreender as sutilezas desse vínculo e reconhecer sua relevância para a sustentabilidade das relações de trabalho.

“A lealdade é uma via de mão dupla, exigindo comprometimento tanto dos colaboradores quanto das organizações. Em meio a percepções de baixa lealdade é essencial uma análise cuidadosa, indo além de generalizações, para compreender a profundidade desse relacionamento e seu valor para ambas as partes”, conclui a professora de Liderança e Gestão de Pessoas do Insper.

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