Estudo revela que os impactos variam com a experiência profissional
Trabalho remoto: vilão ou herói nas carreiras das mulheres?
Desde o início da pandemia, o trabalho remoto tem sido promovido como uma solução para permitir que as mulheres equilibrem melhor as demandas profissionais e familiares. No entanto, um estudo recente realizado por Natalia Emanuel, Emma Harrington e Amanda Pallais, publicado em 11 de junho de 2024, revelou que os efeitos do trabalho remoto nas carreiras das mulheres são mais complexos e variam significativamente dependendo do estágio de suas carreiras.
O estudo analisou 1.055 engenheiros de software em uma empresa da Fortune 500 e descobriu que a proximidade física com os colegas facilita a mentoria, especialmente para as engenheiras mais jovens. Antes da pandemia, aquelas que trabalhavam no mesmo prédio que seus colegas recebiam 40% mais comentários sobre seus códigos em comparação com aquelas em equipes distribuídas em vários prédios. Esse feedback adicional não apenas melhorava a qualidade do trabalho, mas também promovia um ambiente de aprendizado contínuo.
“A proximidade física cria um ambiente rico para a troca de conhecimentos e feedbacks, fundamentais para o crescimento profissional das mulheres no início de suas carreiras. Essa interação próxima permite um diálogo mais aprofundado e diversificado, que é fundamental para o desenvolvimento de habilidades técnicas e profissionais”, afirma Luciana Lima, professora do Insper e especialista em liderança e gestão.
Para as engenheiras seniores, no entanto, o trabalho remoto se mostrou benéfico em termos de produtividade. Mulheres em posições seniores que trabalhavam remotamente produziam mais programas por mês do que aquelas que estavam fisicamente próximas de suas equipes. Isso ocorre porque as seniores que estavam no mesmo local que suas equipes passavam mais tempo fornecendo feedback e mentoria, reduzindo assim seu próprio tempo de produção.
“O trabalho remoto pode liberar as profissionais mais experientes para focarem em suas próprias tarefas, aumentando a produtividade. No entanto, é importante que o esforço de mentoria, muitas vezes invisível, seja reconhecido e recompensado adequadamente. Esse “trabalho invisível” de treinamento e apoio aos colegas é essencial, mas muitas vezes não é devidamente valorizado nas avaliações de desempenho e nas decisões de promoção. Mentoria não é voluntariado, então deve ser reconhecida e, em muitos casos, remunerada, pois é um componente essencial das responsabilidades em programas organizacionais”, observa a professora do Insper.
Segundo a especialista em liderança e gestão de pessoas, o estudo conclui que os efeitos do trabalho remoto nas carreiras das mulheres dependem do estágio em que se encontram. “Para as profissionais jovens, o home office pode prejudicar o treinamento no trabalho e o desenvolvimento de carreira, enquanto para as seniores pode aumentar a produtividade ao permitir que se concentrem em suas próprias tarefas. No entanto, para maximizar os benefícios do trabalho remoto e minimizar seus impactos negativos, as organizações precisam adotar práticas de gestão que reconheçam e recompensem adequadamente o esforço de mentoria e treinamento”, reforça Lima.
A professora do Insper sugere algumas práticas:
Reconhecimento e recompensa: instituir sistemas que valorizem e recompensem o trabalho de mentoria, especialmente para mulheres em posições seniores.
Programas de mentoria estruturados: criar programas formais de mentoria que possam funcionar tanto no ambiente presencial quanto remoto, garantindo que as jovens profissionais recebam o apoio necessário.
Flexibilidade híbrida: implementar modelos de trabalho híbridos que permitam a proximidade física regular, mas também ofereçam a flexibilidade do trabalho remoto.
Treinamentos e ferramentas: fornecer treinamentos e ferramentas específicas para melhorar a interação e o feedback remoto, promovendo um ambiente colaborativo e de aprendizado contínuo mesmo à distância.
De acordo com a professora do Insper, embora o estudo tenha se concentrado em engenheiros de software, as conclusões provavelmente se aplicam a outras áreas. Em profissões onde o feedback digital não é tão comum, os desafios do trabalho remoto podem ser ainda maiores. Em equipes colaborativas, onde a interação face a face é essencial para o sucesso do projeto, as dificuldades do trabalho remoto podem ser amplificadas.
“Além disso, a necessidade de equilibrar trabalho e responsabilidades familiares pode ser mais intensa para pais que trabalham remotamente, tornando a gestão do tempo e o suporte organizacional ainda mais importantes”, finaliza Lima.
Sobre Luciana Lima:
Neuropsicóloga, doutora pela USP e mestre pela FGV em Administração e professora do Insper nas disciplinas de Gestão de Pessoas e Liderança. Autora de dois livros (HR Business Partner e Estratégia de Pessoas nos BRICS) e mais de 15 artigos científicos, sendo inclusive um deles premiado no SEMEAD/2017 e com menção honrosa pelo British Academy of Management/2019.
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