Por Maryana com Y*
Muitas vezes ouvimos que devemos ser apaixonados pelo nosso trabalho para sermos felizes e realizados. Mas será que isso é realmente necessário? Na realidade, nem sempre é preciso amar o que se faz para encontrar satisfação e sucesso. A paixão pelo trabalho pode ser, por exemplo, resultado de uma experiência positiva, ao invés de uma condição pré-existente.
Há um senso comum de que o trabalho ideal está intrinsecamente ligado a descobrir sua paixão, mas até que ponto ser apaixonado pelo trabalho é saudável? Especialistas e pesquisas sugerem que essa visão pode ser limitante e, por vezes, irrealista. Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) informam que, de janeiro a julho de 2023, mais de 129 mil benefícios por incapacidade temporária foram concedidos no país para trabalhadores com transtornos mentais e comportamentais. Muitos profissionais, inclusive, sentem-se constrangidos na busca por ajuda por receio de serem vistos como menos capazes ou menos comprometidos com o trabalho.
Elizabeth Gilbert, autora do best seller “Comer, Rezar, Amar”, argumenta que nem sempre precisamos transformar nossas paixões em carreira. Ela sugere que a curiosidade pode ser um guia mais gentil e sustentável, permitindo-nos explorar várias facetas da vida sem a pressão de encontrar “a paixão”.
Já Mark Manson, em seu livro “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se”, desafia a ideia de que devemos sempre seguir nossas paixões. Ele argumenta que o foco excessivo em paixão pode levar à frustração e decepção, especialmente quando os resultados não correspondem às expectativas. Em vez disso, ele sugere a importância de valores e princípios sólidos, que nos ajudam a navegar e encontrar sentido, independentemente do trabalho em si.
Para Cal Newport, autor do livro “So Good They Can’t Ignore You” (“Tão bom que eles não podem ignorar você” em tradução livre), o que realmente importa é desenvolvermos habilidades valiosas e encontrarmos significado no que fazemos sem culpa se não há tanta paixão em nossa ocupação profissional. Angela Duckworth, em seu livro “Grit: The Power of Passion and Perseverance” (“Garra: o poder da paixão e da perseverança” em tradução livre), destaca que sucesso e realização vêm mais da determinação e da resiliência do que de seguir uma paixão preexistente.
É possível encontrarmos satisfação no trabalho por meio do desenvolvimento de competências, reconhecimento e contribuição para a sociedade, mesmo sem uma paixão inicial. A verdadeira realização vem de quando nos tornamos excelentes no que fazemos e enxergamos o impacto positivo que podemos causar.
A crença de que precisamos ser apaixonados pelo que fazemos é, muitas vezes, simplificada demais, podendo até mesmo desaguar em uma Síndrome de Burnout, cujos sintomas – esgotamento físico, emocional e mental – são desenvolvidos no ambiente de trabalho marcado por altas doses de cobrança e estresse.
O desenvolvimento de habilidades, a curiosidade, a resiliência e os valores pessoais são fundamentais para que possamos encontrar satisfação e realização no trabalho. O importante é continuar explorando e aprendendo, sem a pressão de encontrar “a paixão” perfeita.