Por Carla D’Elia*
Atrair e reter talentos qualificados é uma prioridade para empresas de todos os setores, inclusive no que tange à habilidade relacionada ao inglês. No entanto, a busca por profissionais com fluência no idioma pode causar mais obstáculos que soluções, custando caro para as corporações. 33% da população brasileira que não fala inglês se sente prejudicada pela falta dessa habilidade, segundo dados da Opinion Box e Pearson, muitas organizações continuam a exigir fluência como pré-requisito, mesmo quando não é absolutamente necessária de imediato. Essa barreira não só limita o acesso a profissionais qualificados, como também prolonga o tempo de preenchimento de vagas importantes, impactando diretamente os negócios.
Quando empregadores exigem fluência em inglês já no processo de seleção, estão se limitando a um grupo muito menor de candidatos. No Brasil, onde o acesso à educação não é igualitário a todos, encontrar profissionais com essa competência torna-se uma tarefa difícil e demorada. De acordo com o ranking de proficiência em inglês da EF Education First, o Brasil ocupa a 58ª posição entre 111 países, abaixo da média global. Esse cenário faz com que postos de trabalho permaneçam vagos por longos períodos, gerando custos operacionais e perda de oportunidades para as empresas.
Além disso, em minha experiência, tenho visto instituições que optam por treinar colaboradores no inglês, em vez de exigir fluência desde o início, contabilizarem benefícios com a prática. A redução da rotatividade é um deles. Funcionários que percebem que a organização está investindo em seu desenvolvimento se sentem mais engajados e propensos a permanecer na empresa. De acordo com a LCA Consultores, 25% dos pedidos de demissão em 2023 foram causados pela falta de oportunidades de crescimento, mostrando a importância do desenvolvimento contínuo para a retenção de talentos.
Outro ponto que merece destaque é a inclusão. Ao remover o filtro da fluência imediata e investir no aprendizado contínuo, as empresas podem construir equipes mais diversas e inovadoras. A diversidade de origem, experiência e perspectiva enriquece o ambiente de trabalho e fortalece o compromisso do negócio com práticas de ESG tão apreciadas atualmente.
A valorização dos profissionais, especialmente aqueles que não tiveram acesso ao aprendizado de inglês em ambientes formais ou de elite, é outra vantagem clara dessa abordagem. Tenho visto muitas empresas multinacionais, por exemplo, eliminarem a prova de inglês no processo seletivo de estagiários, optando por treinar os contratados. Essa postura demonstra que é possível criar oportunidades mais inclusivas e, ao mesmo tempo, desenvolver talentos que contribuem para o crescimento da instituição.
Por parte das empresas, repensar a exigência do inglês é uma forma de economizar, mas também de ganhar tanto em custos como em tempo e eficiência. Embora algumas funções ainda exijam um domínio avançado do idioma, muitas outras podem ser preenchidas por colaboradores em processo de aprendizado, desde que recebam o suporte necessário. Investir na capacitação é uma estratégia que melhora o desempenho interno e amplia o impacto social, promovendo inclusão e diversidade.
*Carla D’Elia é especialista em ensino de Business English e fundadora da Save Me Teacher.