As formas como os candidatos se apresentam no mercado de trabalho mudaram significativamente nas últimas décadas. O currículo, que antes seguia um padrão rígido e linear, hoje reflete inovação, tecnologia e personalização, especialmente entre Millennials e Geração Z. Segundo Cláudia Pereira, sócia-diretora de atração e seleção da Cia de Talentos – maior consultoria de educação para carreira da América Latina, esse movimento é resultado direto da adaptação às demandas de um mercado em constante transformação.
“Há 20 anos, os currículos eram impressos e focados em listar experiências e formações. Hoje, com a digitalização, eles evoluíram para um formato mais dinâmico que, muitas vezes, inclui links para portfólios, redes sociais e até vídeos de apresentação”, explica a executiva. “Essa transformação não é apenas tecnológica; é também cultural. As novas gerações trazem um olhar mais criativo e personalizado, mas é preciso equilibrar isso com clareza e relevância”, completa.
O aumento no uso de ferramentas de Inteligência Artificial para gerar currículos trouxe novos desafios para recrutadores. Segundo um estudo do Financial Times, até 50% dos currículos recebidos pelas empresas são criados por IA, resultando em documentos genéricos que não capturam a essência dos candidatos. “O volume crescente de currículos de baixa qualidade sobrecarrega os processos seletivos e dificulta a identificação de talentos realmente únicos. Apesar das inovações, há um resgate de métodos tradicionais – como entrevistas presenciais – para obter uma visão mais autêntica dos candidatos”, destaca Cláudia.
Neste cenário, a inovação encontra desafios também no excesso de automação: “O futuro do recrutamento dependerá de um equilíbrio entre o uso de tecnologias avançadas e abordagens humanizadas que valorizem a singularidade de cada profissional. As gerações mais jovens têm um papel fundamental nessa transformação, mas precisamos alinhar suas necessidades práticas às das empresas”.
Para atender às expectativas do mercado, Cláudia reforça a importância de uma estrutura bem definida, “independentemente do formato, um currículo deve priorizar informações essenciais, como resultados tangíveis, competências técnicas e alinhamento com a vaga. Personalização é bem-vinda, mas sempre com foco no profissionalismo”.
Personalização no currículo: diferencial ou exagero?
Currículos da Geração Z e dos Millennials têm se destacado pelos elementos personalizados e criativos, muitas vezes refletindo a identidade visual e os valores de seus criadores. Embora essa abordagem traga inovação, ela deve ser aplicada com cuidado para não comprometer a clareza e o impacto profissional.
“A personalização é importante por demonstrar atenção ao detalhe e alinhamento com a vaga, mas é essencial não perder de vista o objetivo principal do currículo: apresentar competências e resultados de forma clara e objetiva”, alerta Cláudia. Segundo a especialista, “um currículo bem estruturado começa com informações de contato, resumo profissional e as experiências mais relevantes, sempre em ordem cronológica inversa”.
Destacando o equilíbrio como chave para o sucesso, Cláudia também chama atenção para o impacto que a personalização pode ter em diferentes setores. “Em áreas criativas, como design e marketing, um currículo inovador pode ser um diferencial. No entanto, em setores mais tradicionais, como jurídicos ou financeiros, a criatividade precisa ser mais contida. A Geração Z é extremamente inovadora, mas precisa aprender a adaptar sua criatividade às expectativas do mercado de trabalho, mostrando flexibilidade e foco”, conclui.