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Empresas avançam em inclusão ao contratar intérpretes de Libras

Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 5% dos brasileiros apresentam alguma deficiência auditiva – cerca de 10 milhões de pessoas, das quais 2,7 milhões têm surdez profunda. A inclusão dessa parcela da população no mercado de trabalho tem diferentes desafios, principalmente no que tange à comunicação entre surdos e ouvintes. Embora o Brasil reconheça a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como meio oficial de comunicação e expressão, o idioma ainda é muito restrito à própria comunidade surda, o que dificulta interações com ouvintes, especialmente no mundo corporativo.

Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o país conta com 17 milhões de pessoas com deficiência em idade produtiva, dos quais apenas 5 milhões têm alguma ocupação – 12 milhões seguem fora do mercado. O desafio para as empresas é desenvolver estratégias de inclusão e diversidade que sejam proveitosas e tenham um impacto social duradouro. Para que pessoas surdas tenham uma melhor participação nas atividades diárias de uma empresa, uma das soluções mais pungentes é a contratação de um intérprete de Libras fixo, ou seja, que não seja um prestador de serviços temporário, mas alguém que faça parte da Companhia e acompanhe o dia a dia da empresa.

Na DM, grupo de serviços financeiros especializado em gestão de crédito, a intérprete Bianca Rabelo foi contratada após um período de trabalhos temporários na Companhia. Quando, porém, tornou-se também colaboradora da DM, seu trabalho ganhou novo impulso. “Com a minha vinda para a DM, os colaboradores surdos conseguiram ter um desenvolvimento maior. Um importante sinal disso é de que, ao final das reuniões, os colaboradores surdos passaram a trazer dúvidas e questionamentos. Antes, eles sequer entendiam o suficiente para fazer as dúvidas surgirem”, aponta.

Sediada em São José dos Campos (SP), em 2024 a empresa iniciou o seu programa de capacitação de pessoas com deficiência, desenvolvido com o apoio da Consultoria Mais Diversidade. Com isso, a empresa contratou profissionais inexperientes e ofereceu três meses de formação pelas mais diferentes áreas da Companhia, para que ao final cada um fosse direcionado aos setores com que tivesse maior afinidade ou melhor desempenho. Dos mais de 30 colaboradores com deficiência contratados, 4 são surdos – e apesar do número não ser majoritário, a DM acreditou que seria vantajoso ter uma intérprete em tempo integral, acompanhando os colaboradores nas mais variadas atividades.

 

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Segundo Bianca Rabelo, mesmo que outros profissionais tenham feito curso básico de Libras, existem algumas barreiras de comunicação, como quando mais de uma pessoa fala ao mesmo tempo numa reunião, em que os surdos perdem informações. A presença da intérprete, assim, ajuda a contextualizar as conversas, explica de forma mais objetiva as atribuições dos colaboradores, e propicia a integração dos surdos com as equipes. “Além disso, estando na rotina da empresa, eu tenho acesso a reuniões que são reservadas para colaboradores. Assim eu mesma posso conhecer os pormenores das operações e transmitir com mais propriedade para os colegas surdos”, diz.

Crescimento profissional

A intérprete ressalta também que o trabalho de inclusão realizado na DM propicia que profissionais surdos possam se desenvolver na carreira para além do que é comum no mercado de trabalho. “Em muitas empresas, há preferência por surdos que conseguem se comunicar mais facilmente com ouvintes, para reduzir custos e cumprir cotas. E geralmente os surdos atuam em linhas de produção. Aqui, os colaboradores com deficiência conseguem explorar melhor seus potenciais, independentemente do que é necessário para que se adequem ao ambiente e à rotina de trabalho”, aponta.

Outras atividades inclusivas estão na programação da DM, como o Café com Libras, que acontece periodicamente para que surdos ensinem a língua de sinais para os colegas ouvintes. O evento, em breve, deverá ser realizado também online, para que colaboradores de Fortaleza (CE), cidade onde a DM inaugurou um escritório, possam participar. Para a colaboradora Shirlei Martins, que tem deficiência auditiva e já trabalhava na empresa antes da contratação de Bianca, ressalta que é necessário, para a real inclusão dos surdos, que os intérpretes de Libras sejam esse elo de comunicação. “No Café com Libras, ela oralizava para os ouvintes, enquanto nós surdos, fazíamos os sinais, e todos conseguiram aprender. Havia mais interação entre todos”, afirma.

Segundo a intérprete, outras ações de inclusão estão em desenvolvimento para estimular ainda mais o convívio de profissionais surdos e ouvintes. “Temos estudado a realização de projetos que ampliem a integração entre os colaboradores e minimizem cada vez mais as barreiras de comunicação. Isso sim tem um impacto positivo, tanto para a comunidade surda, quanto para a própria DM”, finaliza Bianca Rabelo.

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