Queridos irmãos, deixemos a Pastoral da Crítica e abracemos a Pastoral da Unidade nesta Páscoa. Meu engajamento na Igreja ganhou força durante minha adolescência, precisamente na metade da década de 90. Jovem e batizado no Espírito Santo, tornei-me mais um dos muitos frutos da Corrente de Graça, popularmente conhecida no Brasil como Renovação Carismática Católica, a RCC.
Participar das reuniões semanais do Grupo de Oração trazia-me uma alegria imensa. Ali experimentávamos não só o louvor, mas também o ensinamento e a convivência com pessoas que compartilhavam da mesma experiência. Estávamos sempre juntos antes e depois do grupo.
No coração, crescia o desejo de evangelizar e testemunhar a graça que tínhamos vivenciado. O movimento do Espírito em nós nos conduzia à maturidade, levando-nos a refletir e discernir sobre como amar mais a Deus através de nossa missão e estado de vida.
No entanto, nem tudo eram flores.
Era um período ainda marcado pela chamada Teologia da Libertação. Na minha paróquia, isso era evidente e se infiltrava em praticamente todas as ações pastorais. Havia situações absurdas, como substituir a leitura da carta de Paulo pela leitura de uma carta de alguém da comunidade, em plena Missa. Chegava a esse extremo.
E como nós, os carismáticos, nos comportávamos diante dessas situações?
A orientação que recebíamos de nossa coordenação era: oração e silêncio. Jamais falar contra o padre. Nem pensar em confronto. Acreditávamos no poder da oração. Éramos orientados a amar. Nossa ação evangelizadora ocorria em meio às aparentes contradições.
Olhando para trás, reconheço como essa postura era evangélica. Foi essa conduta que fez a Corrente de Graça crescer e se espalhar por todas as paróquias do país. Conquistávamos nossos irmãos pela obediência, zelo e alegre testemunho de ter encontrado o Senhor.
Avançamos alguns anos.
Três décadas depois, surge um novo fenômeno na Igreja, impulsionado pela internet. Filhos e filhas da Igreja, em sua maioria oriundos da realidade carismática, são tomados por um arroubo separatista e fideísta, passando a classificar o que é ou não católico na Igreja.
São habilidosos na oratória, mas carentes de comunhão. Presunçosos, pretendem salvar a Igreja. Rubricistas, são legalistas ao extremo. Seriam capazes de repreender o Senhor em sua última ceia por não ter dado o pão na boca dos Apóstolos.
Rotulam como protestantes aqueles que não se enquadram em sua visão idealista de Igreja, mas são eles que agem como tais, pois exercem sua atividade de forma praticamente autônoma. Tornam-se sua própria Igreja. Com seus julgamentos e rigidez, colaboram com o trabalho do Divisor, quando deveriam se empenhar no serviço da comunhão.
Sequestram o ensinamento dos santos, enquanto outros adotam o Catecismo com uma interpretação à moda “sola catechismus”. Querem ser uma Catarina de Sena, quando não passam de desobedientes. Em seus perfis na internet, o conteúdo baseia-se principalmente na crítica. Nem o Bispo de Roma é poupado.
Existem páginas que se dedicam exclusivamente a apontar os erros ou o que consideram ser erros na Igreja. Isso gera curtidas que alimentam o algoritmo insaciável, sempre pedindo mais. E o pior: com o conteúdo semeiam dúvidas e descrença nos corações das pessoas.
A maioria destes irmãos não estão engajados na vida pastoral da Igreja, nem acham que precisam, devem pensar que foi o modernismo que implantou isso no Pós-Concílio. Agem por si, mas falam como se fosse em nome da Igreja. Com qual autoridade?
Em suma, querem ensinar os outros a serem católicos, geralmente com algum curso debaixo do braço – digo, na Bio – para vender.
Esses irmãos, inconscientemente, deram origem, fortaleceram e difundiram a “Pastoral da Crítica”. Estão constantemente vigilantes, monitorando perfis e instituições em busca de qualquer coisa que não se encaixe em sua visão idealizada da Igreja. Um simples “gloria in excelsis deo” seguido de uma música em língua vernácula é suficiente para desencadear uma campanha de ridicularização.
A situação é tão preocupante, que alguns já transformaram a Pastoral da Crítica em uma espécie de Tribunal Eclesiástico da Internet, aberração que classifica o que consideram católico ou não.
Tempos desafiadores.
Vivem em bolhas, desejando uma Igreja uniforme, rezando em latim, inamovível e sem sentimentos, onde apenas os órgãos nos cantos sagrados importam. Pensam que a Liturgia foi sempre como a do século XVII?
Recordo-me da década de 90, quando passei quase dois anos tentando implementar a adoração ao Santíssimo Sacramento na paróquia. Os “nãos” do pároco não abalaram minha obediência e cordialidade. Um dia, o vigário me chamou e disse que a adoração estava permitida. A notícia não poderia ter sido melhor. Porém, dias depois, soube que o pároco havia deixado o sacerdócio. A permissão para a adoração foi uma de suas últimas atividades como pároco. Até hoje rezo por ele.
Queridos irmãos, deixemos a Pastoral da Crítica e abracemos a Pastoral da Unidade nesta Páscoa. É isso que Deus quer de nós: que sejamos um.
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