Na minha cidade natal, era uma prática que as mulheres que desejavam receber a Sagrada Comunhão evitassem blusas sem mangas. Elas costumavam cobrir os ombros com uma segunda peça de roupa apenas enquanto tomavam a fila da Eucaristia. Para facilitar isso, algumas dessas peças extras eram disponibilizadas na própria igreja.
É importante ensinar desde cedo o respeito adequado ao vestir-se para ocasiões como essa. Ir à igreja requer sensibilidade; nossa vestimenta deve refletir isso. Como cristãos, somos chamados a testemunhar nossa fé não apenas dentro, mas também fora do templo, inclusive através de nossas escolhas de vestuário.
Contudo, a Igreja não fornece uma lista de peças específicas categorizando isso ou aquilo como modesto ou não.
Ela conta com o discernimento do fiel para que possa decidir sobre o que convém ou não para cada ocasião. Mais importante ainda, neste caso, é a consciência iluminada que se desdobrará em uma apresentação estética adequada à fé professada.
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Uso de calças na Igreja
Um fenômeno que tem chamado atenção na atualidade é a cruzada contra o uso de calças por parte das mulheres. Essa bandeira é empunhada por grupos que se denominam apostolados, na maioria dos casos, expressões autóctones, sem ligação pastoral ou institucional eclesial. Esses grupos ou influenciadores estabelecem um dress code rigoroso, classificando a saia e o vestido como as únicas roupas femininas compatíveis com a modéstia.
Alguns são ainda mais restritivos, chegando a condenar o uso de maquiagem. Ora, não se pode pedir às leigas que vivam como religiosas na sua forma de se vestir, pois está estas possuem seus próprios códigos tradicionais de modéstia.
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Entenda-se que a sobriedade se expressa de formas diferentes. Multiplica-se o número de pessoas com sofrimentos de consciência, à beira de uma neurose, porque pensam que estão ofendendo a Deus ao usar uma calça como peça de seu vestuário, ou que deverão banir tal item do vestuário sob pena de estarem indo contra alguma disciplina da Igreja, o que não tem razão de ser.
Deve ficar claro que a escolha entre saias e calças não determina a modéstia de uma mulher. A preferência pessoal por vestidos não deve se tornar uma norma para todas, nem deve ser usada como critério para julgar a pureza dos demais.
Argumentos que associam calças a uma vestimenta masculina, e por isso as mulheres não deveriam usá-las são simplistas; há países onde a saia, por exemplo, é vestimenta de homem, assim como já foi no império romano. Basta o bom senso para avaliar e escolher as peças que vão evidenciar o estilo de vida cristão.
Observa-se, inclusive, no meio religioso e clerical, uma supervalorização no que diz respeito às vestimentas. Valoriza-se a pompa, resgata-se peças que caíram em desuso, tudo a título de um ritualismo exterior, como se isso fosse o suficiente para denotar adequação ao Sagrado.
Reparem como bom modelo no uso das vestes as Carmelitas, uma Ordem Religiosa longeva, onde suas monjas usam seus hábitos de forma sóbria, sem apetrechos e adornos que se multiplicam em novas expressões da Vida Consagrada, onde fica parecendo mais uma caricatura da vida religiosa.
Pior ainda quando se quer colocar esse fardo sobre às leigas. Também sobre os homens existe uma pressão no que diz respeito como um bom católico deveria se vestir. Inventaram uma restrição do jeans para os rapazes, como se as calças de alfaiataria fossem as únicas que combinam com o estilo de vida casto e modesto.
Falta do que fazer. Foi assim que transformaram os 10 mandamentos do Sinai em 613 determinações entre orientações e proibições impossíveis de serem cumpridas a rigor. Jesus veio e fez o povo voltar ao coração do decálogo ao apresentar o resumo da nova lei, o amor a Deus e ao próximo.
Quem adotou não usar calças o faça por opção e livre consciência, porque quer agradar Nosso Senhor, e jamais use de sua opção para medir a pureza ou a modéstia dos demais que incluem outras peças em seu vestuário.
Existe uma forma zelosa de se vestir segundo a idade, o estado de vida e os locais onde se vai. E esta forma não se restringe a um único modo. Não se queria criar um código, ou uma alfândega vestuária como se a Igreja estivesse preocupada com o guarda roupa de seus fiéis.
O imprescindível é a iluminação da consciência. Revestir-se de Cristo Jesus, aquele que nos deu as vestes novas no batismo. É tal experiência que vai balizar nossa conduta para que ninguém caia em um esteticismo anacrônico ancorado no purismo e rigidez. Deste modo não se estará cumprindo uma lei apenas exteriormente como as mulheres que vestiam o bolero apenas para ir à fila da comunhão na minha cidade.
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