Uma pesquisa do Ibope Inteligência revelou que 62% das mulheres não foram realizar exames de detecção de câncer de mama este ano devido à pandemia. As mulheres com mais de 60 anos foram as mais afetadas de acordo com o estudo, 73% disseram não ir ao médico ginecologista ou mastologista por medo da Covid-19.
Entre as mulheres de 30 a 39 anos, 59% disseram estar aguardando a pandemia passar para ir ao médico, a menor taxa entre as entrevistadas. Dados da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Amama (FEMAMA) revelam que a principal reclamação das pacientes atendidas desde o início da pandemia foi o cancelamento de consultas.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil tem mais de 66 mil novos casos de câncer de mama todos os anos, com taxa estimada em 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.
Cirurgias
Em números gerais as cirurgias de câncer no Brasil reduziram em 70% os procedimentos entre março e maio, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) – redução de 116 mil cirurgias.
Os dados se estendem a outras áreas da medicina atendidas pelo SUS. As doenças cardíacas tiveram 70% das cirurgias canceladas em abril, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista (SBCI). Em relação a doenças renais, que provocam 35 mil mortes por ano, as cirurgias caíram 70% e os exames tiveram redução entre 50% e 80%, dependendo da região do país, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
Para Maira Caleffi, mastologista e presidente voluntária da FEMAMA, os efeitos da pandemia no cancelamento de procedimentos no SUS serão sentidos a médio e longo prazo. “Os efeitos serão devastadores. Já tínhamos problemas de agilidade no acesso a diagnósticos e biópsias de lesões suspeitas antes da pandemia. Piorou muito a espera. Isso certamente vai impactar, a médio e longo prazo, na sobrevida, na chance de cura dos pacientes com câncer. No caso de pacientes com câncer de mama isso é dramático. Talvez tudo que conseguimos com alerta da população em identificar o diagnóstico precoce, perdemos”, diz.
Na avaliação de Caleffi, um dos caminhos para o poder público conseguir minimizar os impactos da pandemia no sistema de saúde é através das parcerias público-privadas. “O setor privado está aparelhado e sob protocolos mais rígidos. Quem vai ter menos chance de cura são aquelas pessoas que só contam com o sistema público”, relata.