Ismael Rocha é doutor em Educação pela PUC-SP e defensor da capacitação de educadores para o ensino híbrido. Em entrevista ao Portal GC+, o especialista falou sobre o tema.
Ensino Híbrido: Especialista em Educação explica o modelo, destacando os principais benefícios e os desafios recorrentes
O Brasil teve que se adaptar e se reinventar diante da pandemia do novo Coronavírus. Para manter as aulas e garantir a segurança dos estudantes, as escolas de ensino regular tiveram que abraçar, às pressas, o ensino híbrido. Em meses, a educação deu um salto tecnológico que demoraria décadas para acontecer.
Ismael Rocha é diretor acadêmico do Institute of Technology and Education (Iteduc), organização pioneira na capacitação de professores de educação básica para o ensino on-line e híbrido. Com doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e mestrado em Sociologia, foi coordenador do Comitê de Sustentabilidade da World Vision Brazil e diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
Com tanta experiência, Ismael Rocha é enfático: O ensino híbrido digital é uma realidade e as instituições e governos precisam aproveitar as mudanças ocasionadas pela pandemia do novo Coronavírus para garantir o acesso da maioria à educação. Confira, a seguir, a entrevista do especialista ao GC+.
GC+: O ensino híbrido foi implantado, às pressas, por muitas escolas, devido à pandemia. É um formato que tende a se consolidar quando a pandemia tiver passado?
Ismael Rocha: O ensino híbrido veio para ficar. Eu tenho chamado de ensino híbrido digital. Quando falo disso, significa trabalhar em várias plataformas e isso já é realidade há muito tempo. Quando o professor leva a turma para o museu, por exemplo, ou até mesmo ao pátio da escola, aplica o ensino híbrido. O aluno aprende em qualquer espaço. O que estamos falando, nesse momento, é sobre utilizar a ferramenta digital e isso veio para ficar. Costumo dizer que a pandemia só acelerou esse processo. Ela veio e enterrou aquele modelo antigo, de séculos passados.
GC+: A aprendizagem é um processo contínuo e a construção dela depende da maneira como é trabalhada. Para os mais jovens, ferramentas digitais são de fácil absorção. Como trabalhar com essa perspectiva na educação de pessoas mais velhas?
Ismael Rocha: Eu tenho que destacar o papel do professor. Nós temos a emissão da informação pela plataforma e não adianta uma tecnologia sofisticada se não há mediação. Da mesma maneira, não adianta um aluno com uma facilidade com essas ferramentas se quem faz essa mediação, essa curadoria, não tem o preparo. Temos que ter um professor bem preparado. A pandemia foi essa correria para todo mundo ter que aprender a se adaptar. Como eu disse, acelerou um processo. Agora, temos que refinar isso em um plano diretor. Dar condições e também preparo. Quando estou falando sobre adultos, que não são nativos digitais, é importante esse preparo. Não é só entregar a plataforma e esperar resultados. Nós temos que capacitar esses alunos para uma relação amigável com essas ferramentas.
GC+: Como os governos e as prefeituras podem abraçar esses modelos híbridos digitais, reconhecendo a limitação financeira de muitas famílias?
Ismael Rocha: Você tocou num ponto crítico que é a quantidade de pessoas sem acesso à internet. Em 2018, perto de 50% das pessoas com celular não tinha computador e, consequentemente, não tinha internet. Há uma falácia muito grande de que todo mundo que tem celular, tem internet. Não! Ela precisa ter um computador. O ensino híbrido demanda de uma ferramenta mais potente. Fora outro ponto, o sinal de wifi. Nem todo mundo tem. Temos que ter um projeto de Brasil, um projeto de Estado. Um país desse tamanho! As secretarias [de Educação] precisam se atentar para isso.
Em toda comunidade, existem rádios comunitárias, emissoras estatais, televisões estatais. O Brasil é o país democrático com mais televisões estatais. Toda casa mais simples tem um radiozinho mais simples, de pilha. E se não tem, é mais barato e o Estado pode custear. E a gente pode fazer a mudança da plataforma física, da sala de aula, para o rádio. Sair da sala e ir para o rádio ou para a TV estatal. Temos como chegar a todas comunidades sem, necessariamente, utilizar internet. O Telecurso é um exemplo brasileiro. Teve gente que acompanhou as teleaulas e fez a prova do supletivo, conseguindo se formar. Eu tenho, aqui na minha família, gente que conseguiu entrar no ensino superior. Isso é ensino híbrido. Só tem que ter vontade política para implementar. Até incentivo, para quem tiver lendo essa entrevista, para que pense nessa alternativa.
GC+: Para finalizar, posso afirmar que o ensino híbrido é um complemento ou a troca do ensino presencial?
Ismael Rocha: O ensino híbrido veio para ficar. O professor hoje entrega tudo pronto e ele [estudante] se coloca numa posição muito passiva. É um modelo que não podemos mais aceitar, sabe? Não dá mais para trabalhar com isso. O aluno deve ser desafiado e ser o grande protagonista do processo de aprendizagem. Ao ser provocado, ele aprende a pesquisar, buscar a resposta e não aguardar por ela. Nosso aluno precisa aprender a perguntar. Em países mais capacitados, os estudantes são preparados para construir o raciocínio lógico, questionar por que não pode pensar diferente e propor construir coisas novas. Temos alunos de comunidades mais humildes com capacidade de cursar a melhor universidade do mundo. Falta investimento nelas, somente. Então, o ensino híbrido não é, como costumo dizer, a solução para um problema, é a oportunidade de virar a mesa como acontece em grandes países europeus. Um abraço e obrigado pela atenção.
NOTÍCIAS DO GCMAIS NO SEU WHATSAPP!
Últimas notícias de Fortaleza, Ceará e Brasil
Lembre-se: as regras de privacidade dos grupos são definidas pelo Whatsapp.