Desde o início da pandemia da Covid-19 e, consequentemente, com as políticas de distanciamento social, fechamento de empresas e lockdowns, o nível de investimento no Brasil praticamente estagnou; o que já era baixo piorou. Como não se sabia a duração da pandemia e nem como ela seria tratada, os empresários e os investidores não enxergavam motivos para alocar recursos em novas fábricas ou expandir sua produção, já que a demanda seria drasticamente diminuída.
Neste contexto, a previsão inicial de queda na economia brasileira era algo em torno de 9% do PIB, de acordo com órgãos internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Entretanto, dado a uma política acertada do Governo Federal para realizar o programa emergencial de apoio ao emprego e o auxílio emergencial às pessoas, o tombo na economia foi suavizado. Devemos encerrar o ano com um tombo de cerca de -5% do PIB.
Na prática, realizamos uma injeção de recursos voltados para o consumo das famílias ao custo de aproximadamente 850 bilhões de reais no déficit público, porém é importante ressaltar que esse tipo de política foi implementada em diversas nações do planeta e na prática representou a manutenção de milhões de empregos e a sustentação de milhares de empresas.
Vale ressaltar que do ponto de vista da ortodoxia econômica não existe uma manutenção do crescimento do PIB puxada apenas pelo consumo, e esse é um problema crônico que já estava ocorrendo no Brasil nos últimos anos e que mostrava crescimentos muito baixos em torno de 1,5% ao ano, um valor irrisório para uma nação em desenvolvimento que deveria estar crescendo ao passo de pelo menos 4% ao ano.
O que mais preocupa para o início de 2021 é que não há uma definição clara do que será utilizado para substituir o Auxílio Emergencial e o programa de proteção ao emprego, ou seja, os elementos que estão segurando a economia nacional e que são a base do consumo das famílias. Esses recursos irão desaparecer. O que acontecerá depois disso?
A realidade é que o Brasil carece e precisa cada vez mais de investimentos; ou seja, precisa da expansão do capital fixo nacional, que na prática significa a instalação de novas empresas, novas fábricas e novas lojas no país, com a capacidade de empregar novas pessoas, aportar recursos no país e gerar uma cadeia local de fornecedores.
Enquanto nações como a Alemanha, a China e a Coreia do Sul engrenam suas economias por uma mistura de consumo e investimento, é notório que em longo prazo essas nações apresentarão um crescimento mais robusto e uma maior resistência a crises externas, fazendo com que neste contexto de pandemia elas possam exibir uma maior capacidade de reação dentro do cenário de recuperação.
Já existe em membros do Governo o temor do que ocorrerá com a economia nacional se os estímulos do consumo forem retirados imediatamente, algo que deve impactar diretamente no desemprego e na sobrevivência de milhares de empresas. É óbvio que o investimento não é algo que se realiza de imediato, porém, se não for melhorado o ambiente de negócios e a visão de estabilidade política e econômica no longo curto prazo, tornar-se-á cada vez mais difícil atrair investidores nacionais e estrangeiros para alocar recursos no Brasil.
Além da existência de oportunidade de lucros no futuro, os investidores olham sempre para a estabilidade do país, tanto no campo político quanto no jurídico e econômico, visando ao respeito aos contratos, à facilidade de alocação de capital e à capacidade de expansão contínua dos seus empreendimentos. Esses fatores devem ser a base fundamental para uma mudança urgente no cenário brasileiro; caso contrário, investidores continuarão tímidos em relação ao Brasil, e nações como o México e a Colômbia deverão continuar a ser o ‘oásis’ para os investidores na América Latina.
O Brasil precisa definitivamente de uma virada de chave; ou seja, precisa depender menos do consumo e mais dos investimentos para crescer, de outra forma nunca sairemos do crescimento máximo de 1,5% ao ano nesta década.
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