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Conheça a mulher que pode se tornar a primeira astronauta brasileira

Foto: Arquivo Pessoal

Quando criança, a brasiliense Ana Paula Nunes passava horas assistindo a filmes de ficção científica e imaginando como seria viajar ao espaço e pisar em superfícies extraterrestres. Hoje, aos 27 anos, ela tem uma ideia, ainda que vaga, de como é passar pela experiência.

Isso porque, em dezembro de 2019, a jovem foi a primeira mulher brasileira selecionada para viajar ao vulcão Mauna Loa, no Havaí, nos Estados Unidos, e participar do EuroMoonMars in Hi-Sea, um programa da Agência Espacial Europeia dedicado a realizar pesquisas de exploração espacial a partir das chamadas missões simuladas.

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Os experimentos consistem, basicamente, em testes de campo feitos em ambientes análogos às superfícies da Lua e Marte, como oceanos, desertos e ambientes vulcânicos, para investigar como seria trabalhar e até mesmo morar nesses locais.

A partir de experimentos, que podem ir desde a tentativa de fazer brotar uma planta sob uma radiação equivalente a da Lua até a análise do comportamento do ser humano diante de uma repetição de cardápio, os cientisas embasam outras pesquisas que poderão auxiliar o trabalho de astronautas em futuras missões espaciais.

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“É curioso porque eu nunca pensei que pudesse seguir carreira de astronauta. Claro que a gente vê as notícias e pensa: ‘que legal, poderia ser eu’. Mas tudo isso é fruto, na realidade, das oportunidades que tive ao longo do meu caminho”, afirma.

Apesar do gosto nato por ficção científica, Ana Paula só começou a enveredar para a área espacial no final do Ensino Médio, quando fez um curso de Astrofísica do Sistema Solar, do Observatório Nacional, que teve impacto decisivo sobre a escolha de sua graduação: Engenharia Espacial, Aeronáutica e Astronáutica.

Com muito esforço, a jovem, então, que sempre estudou em escola pública, conquistou uma vaga na UNB (Universidade de Brasília) e ingressou na faculdade no ano seguinte.

Foi só em 2018, no entanto, um ano após sua formatura, que Ana Paula deu o passo que mudaria o rumo de sua carreira: um mestrado em Direito de Lei e Política Espacial na Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Pequim, na China.

Durante esse período, a jovem teve a oportunidade de fazer um estágio de quatro meses em um escritório da ONU (Organização das Nações Unidas), em Viena, na Áustria.

“Lá, conheci o projeto e me informaram que estavam precisando de engenheiros para participar da equipe. Fiz minha inscrição e acabei sendo selecionada”, diz.

Desafios de uma astronauta

Onde há oportunidades, no entanto, há sempre desafios – que, no caso da jovem, começaram a surgir logo no início, quando foi selecionada para o programa. Única participante da América Latina, Ana Paula não recebeu o mesmo incentivo de seus colegas de equipe – seis outros estudantes de diversas nacionalidades.

“Geralmente o pessoal da Europa tem bastante incentivo para esse tipo de atividade, então para eles foi mais fácil achar patrocínio. Por sorte, tive o apoio da Agência Espacial, que foi fundamental para a minha participação”, afirma.

Uma vez dentro do programa, os desafios, que antes se resumiam a questões financeiras, passaram a ser de ordens prática, física e até mesmo psicológica.

“Tivemos que fazer tudo da maneira mais prática possível, assim como astronautas que embarcam em missões espaciais. É muito caro levar um grande volume de coisas para o espaço”, completa.

Além disso, a duração da missão é de apenas duas semanas – um tempo evidentemente curto para a realização da pesquisa, segundo a jovem, mas que pode parecer uma infinidade quando se está em isolamento.

Habitação onde a missão foi realizada.
Foto: Arquivo Pessoal

“Ficar isolada por duas semanas sem contato com o mundo, sem poder me comunicar com a minha família, foi definitivamente estranho, para dizer o mínimo. Mal sabia eu, na época, que a experiência serviria de treinamento para o que estava por vir a pandemia da covid-19”, afirma.

Ana Paula teve a sorte de contar com “pessoas maravilhosas” em sua equipe, além de uma comandante com anos de experiência em missões simuladas Para ela, um bom ambiente de trabalho é fundamental em meio ao isolamento e uma rotina de trabalho exaustiva.

“Vivemos em um regime bem fechado. Acordamos cedo, temos muitas tarefas, que só terminam de tarde, e pouco tempo de lazer”, diz. “Quando não estamos escrevendo os relatórios, estamos fora da habitação explorando o ambiente ao redor, que, no caso, era um vulcão. É muito cansativo, pois além de termos que caminhar sobre pedras de lava, temos que usar um traje que pesa bastante e tem pouca ventilação”, completa.

A equipe tinha ainda uma rotina de refeições baseadas em alimentos liofilizados, isto é, congelados em uma temperatura ideal e posteriormente desidratados. As comidas eram incorporadas à água e alguns temperos e estavam prontas para o consumo.

Visibilidade internacional

A jovem conta que ser a primeira e única mulher brasileira a participar de uma missão simulada coloca o Brasil em outro patamar em termos de visibilidade internacional.

“O pessoal acha que o Brasil é fraco na área espacial, mas na realidade, temos uma das maiores indústrias espaciais do mundo. É preciso trazer o país para esse mercado”, afirma.

Além disso, há ainda a questão da representatividade de gênero, que se faz extremamente necessária. A jovem acredita que mulheres de todas as áreas, sobretudo as ciências, são constantemente invisibilizadas.

“Quando decidi que iria cursar Engenharia Aeronáutica, tive que ouvir que isso era curso de homem. Depois, na faculdade, onde, de fato, não tem quase nenhuma mulher, sempre rolavam aquelas piadinhas de mau gosto. Felizmente, nunca liguei para esse tipo de comentário”, afirma.

Por outro lado, dentro da comunidade espacial, a jovem garante que nunca sofreu com esse problema – muito pelo contrário.

“Existem diversos programas de mulheres que incentivam outras mulheres a caminharem juntas nessa área”, diz. “Eu mesma tive o apoio de pesquisadoras, engenheiras e outras profissionais maravilhosas que nunca me deixaram desanimar”, completa.

Ambições profissionais

Se Ana Paula continuar investindo em sua vida profissional e acadêmica, ela poderá um dia se tornar a primeira mulher astronauta brasileira.

A possibilidade, claro, faz brilharem os olhos da jovem, mas ela tem objetivos ainda maiores. Ana Paula sonha em um dia desenvolver uma tecnologia que tenha um impacto significativo na vida na Terra, sobretudo nos países mais pobres, e poder contribuir com missões espaciais que atuem de forma sustentável.

“Certamente não é um caminho fácil, sobretudo para aqueles que, assim como eu, não dispõem de recursos financeiros, mas acredito que se você trabalhar duro, é possível”, afirma.

“Para quem deseja trabalhar nessa área, minha dica é estude muito e seja curioso. Te garanto que dessa forma, você vai encontrar oportunidades onde achava que não tinha”, completa.

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