As montadoras instaladas no país amargaram em 2020 um de seus piores anos na história, mas só parte do problema pode ser atribuído à pandemia de covid-19, explica o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes.
O executivo diz que problemas estruturais, como altos impostos e dificuldades logísticas em um país do tamanho do Brasil, foram agravados em um ano de crise sanitária e precisam de apoio governamental para serem superados. Ele também citou a crise econômica na Argentina, que reduziu drasticamente as exportações brasileiras nos últimos anos.
A falta de peças foi outro problema que contribuiu para reduzir as atividades dos parques industriais.
Saíram das fábricas no ano passado 2,01 milhões de veículos, apenas 40% da capacidade técnica de 5 milhões de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus que podem ser produzidos.
O recorde de unidades ocorreu em 2012, com 3,8 milhões automóveis.
Desde 2003, quando as montadoras produziram 1,7 milhão de veículos, não se registrava volume tão baixo quanto o de 2020.
A queda tira do país, segundo estimativas preliminares da Anfavea, o oitavo lugar do ranking mundial. Quem ultrapassa o Brasil é a Espanha, nona colocada em 2019.
A oferta da indústria automotiva em 2020 foi tão ruim que os estoques de veículos no mercado são os menores da história, suficientes apenas para 12 dias de venda nas concessionárias.
“Embora dezembro de 2020 tenha sido bom para o setor, é um número que mostra que a gente ainda tem desafios importantes pela frente”, analisou Moraes.
Entre suas reclamações está o recente aumento de impostos determinado pelo governo de São Paulo, João Doria (PSDB). “Em um carro usado que custa R$ 50 mil, houve aumento de 207% [no ICMS]”, reclamou.
O mês de dezembro foi mesmo positivo, com 209,3 mil veículos fabricados, 22,8% a mais comparado ao mesmo mês de 2019. No ano, a queda foi de 31,6%: de 2,9 milhões para 2,01 milhões.
A pandemia
A produção total de 2020 é também a pior dos últimos 17 anos. Culpa dos meses no início da pandemia em que as montadoras ficaram praticamente paradas e, posteriormente, das reduções de jornadas e regras dos protocolos de segurança, que exigiram distanciamento entre os trabalhadores e, portanto, menos funcionários.
Abril foi o pior mês do ano, com quase desprezíveis 1,8 mil unidades fabricadas, produção mais baixa desde 1957.
O setor de caminhões, com 90,9 mil unidades, fabricou a menor quantidade desde 2017. Mais dramática foi a situação do segmento de ônibus, com 18.400 unidades montadas e o pior resultado desde 1999.
“Os ônibus foram mais diretamente impactados pelas restrições impostas na economia”, explicou o presidente da Anfavea, citando as reduções de viagens e deslocamentos de trabalhadores dentro das cidades.
Estoque baixo e exportação reduzida
Em um mercado interno com pouca capacidade de compra, por causa das altas taxas de desemprego e o receio de demissões, as vendas para o exterior também não ajudaram. “O país está exportando apenas 50% do que exportou em 2017 em termos de valor”, contou Moraes.
Entraram nos caixas das empresas US$ 15,9 bilhões em 2017, valor que despencou para US$ 7,4 bi em 2020
Ele defendeu que o Brasil volte a competir no mercado internacional não apenas com produtos agrícolas, mas também com itens mais caros e com maior valor, como os automóveis.
Moraes citou que avançaram em 2020 e têm boas chances de evoluírem ainda em 2021 os negócios com México, Colômbia, Uruguai e Chile.
Nos pontos positivos destacados na coletiva da Anfavea, na sexta-feira (8), estão a abertura de créditos às empresas que utilizam máquinas agrícolas e os bons números de dezembro, comparáveis aos períodos de antes da pandemia.
Para 2021, desde que não se agrave a pandemia de covid-19 e a crise econômica não prejudique ainda mais as indústrias, com elevação de impostos, a associação projeta um aumento na produção de ao menos 25%, com 2,52 milhão de unidades, e crescimentos de 9% nas exportações e 15% nas vendas.
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