Com taxa estimada em 47,9%, o Ceará foi o quarto estado com maior abstenção no primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo balanço do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), divulgado horas após a prova.
Nos três primeiros lugares estão: Bahia (51%), Maranhão (49,2%) e Pernambuco (48,4%). Entre a quinta e a nona posição figuram: Piauí (47,4%), Rio Grande do Norte (46,9%), Alagoas (46,4%), Sergipe (46,2%) e Paraíba (44,9%), respectivamente.
Megh Coelho (19) é uma das candidatas cearenses que decidiu fazer a prova, mesmo com uma série de dificuldades impostas pela pandemia. Moradora do bairro Bom Jardim, periferia de Fortaleza, foi selecionada para fazer o Enem em uma instituição no Centro. Na sala de aula, ficou impressionada com a ausência de estudantes.
“O número de faltantes na sala em que eu fiquei foi absurdo. Muita gente não compareceu. E eu super entendo ter faltado tantos candidatos assim. Minutos antes de sair de casa, ainda estava em dúvida se valia me deslocar do Bom Jardim até o Centro para fazer o exame”, comenta a candidata, que se programou para sair de casa quatro horas antes do horário da prova.
Em números absolutos, o Ceará foi o segundo com maior quantidade de candidatos ausentes no primeiro dia. Foram 154.545 faltas, contra 226.829 na Bahia e 151.535 em Pernambuco, primeiro e terceiro lugar no levantamento do Inep.
Isabelle Firmino também fez a prova em Fortaleza. Diferente de outros pontos da cidade, a candidata não encontrou aglomerações e se surpreendeu com a ausência de tantos participantes. “Eu acredito que tinham mais fiscais do que participantes. Na minha sala só tinha dez pessoas”, conta.
“Confesso que a máscara atrapalhou muito. Tinha momentos que eu queria tirar a máscara, não conseguia respirar direito. O ar-condicionado não estava ligado. Havia ventiladores, mas o ambiente estava muito abafado. Eu fiz em escola pública, a precariedade da estrutura é grande, mas eles foram bem rigorosos nos cuidados”, completa.
Matheus Inocêncio é professor de História, uma das disciplinas presentes no primeiro dia de provas. Conforme o docente, a prova ainda preza pelos direitos humanos e pelo multiculturalismo, além de integrar conhecimentos de diversas áreas. “Sinto que a prova se torna mais erudita. Não é ruim em si, mas precisamos saber se esse nível está acompanhado daquilo que ocorre no chão da sala de aula”, detalha.
Matheus afirma que algumas questões trazem autores que exigem a atenção dos candidatos, mas critica o abandono de temáticas discutidas nos anos anteriores e nas salas de aulas. “A prova de Ciências Humanas também quebra a ideia de que a área é decoreba. Autores muito complexos, como Alexis de Tocqueville e David Hume, foram abordados e mostraram que o nível das questões é bem alto. Em História, questões que até então eram mais frequentes, como aquelas que abordam o século XX, vão sumindo, como é o caso daquelas sobre Ditadura Civil-Militar e Era Vargas. Não deixa de ser consequência do Governo Federal que temos”, finaliza.