OXFORD/ASTRAZENECA

O que muda com a chegada da vacina de Oxford ao Brasil?

Dois milhões de doses chegaram na sexta-feira (22); imunizante iria abrir plano de vacinação, que iniciou sem ele na segunda (18)

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23 de janeiro de 2021
Márcia Catunda

Dois milhões de doses da vacina de Oxford que seriam usados para abrir o plano de vacinação contra a covid-19 do governo federal chegaram com quase uma semana de atraso da Índia, na sexta-feira (22) ao Brasil.

O que muda com a chegada da vacina de Oxford ao Brasil?
Foto: Divulgação / Governo Federal

O uso emergencial desse lote de vacina já está aprovado desde o último domingo (17) e o plano de vacinação nacional está em andamento no país desde segunda-feira (18), sendo realizado a partir dos 6 milhões de doses da CoronaVac, liberados concomitantemente à vacina de Oxford.

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Mas o que muda agora com a chegada da vacina de Oxford ao país? “Recebemos 2 milhões de doses, sendo possível vacinar mais 1 milhão de brasileiros. Então, a conta é: 6 milhões de doses iniciais, mais esses 2 milhões, que dá 8 milhões, além de 4 milhões que devem chegar ao país no final de janeiro ou começo de fevereiro, resultando em 12 milhões, o que permitirá vacinar 6 milhões de brasileiros”, explica o infectologista Renato Kfouri, primeiro-secretário da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Esses 6 milhões de brasileiros incluem trabalhadores da saúde (5,8 milhões), indígenas (cerca de 400 mil) e idosos institucionalizados (cerca de 200 mil), conforme destaca Kfouri. “Creio que, nessa primeira fase, até meados de fevereiro poderemos oferecer essa primeira dose a toda essa população, guardando já a segunda dose para elas”, afirma. “A expectativa é que as remessas continuem chegando para que seja possível vacinar os idosos”, acrescenta.

Ele explica que, no momento, as vacinas de Oxford vão para esses grupos, juntamente com a CoronaVac. Mas, em uma próxima fase, serão destinadas a regiões mais longínquas, de difícil acesso, devido ao maior intervalo entre as doses. O intervalo da CoronaVac é de 28 dias e da vacina de Oxford, de três meses.

Esse intervalo maior da vacina de Oxford é uma “vantagem logística”, segundo o infectologista. “Primeiramente, porque ao receber mais doses, se acelera o processo de vacinação, vacina mais gente com menos doses. E, e segundo, em regiões com menos acesso, que precisa de um tempo maior de deslocamento, esse intervalo facilita também”, afirma.

A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, ressalta que a chegada da vacina de Oxford é “um respiro”. “A chegada da vacina de Oxford nos dá mais um respiro, uma tranquilidade. Em especial, porque é uma vacina que a gente vai conseguir usar todas elas na primeira dose, pois o intervalo para a segunda dose é muito maior, de até três meses, então dá muito mais tempo de vacinar o maior número de pessoas”, afirma a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

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“É claro que é totalmente insuficiente ainda. O Brasil tem como missão agora ir atrás de mais vacinas, de mais fornecedores, melhorar sua relação diplomática com todo mundo para a gente poder garantir o maior número possível de vacinas para nosso país”, completa.

Desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, a vacina de Oxford será produzida no Brasil pela Bio-Manguinhos, laboratório da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro.

A vacina usa uma tecnologia chamada vetor viral não replicante. Em vez de utilizar o próprio coronavírus para estimular a resposta imune no corpo, como as vacinas convencionais, ela usa um adenovírus que causa resfriado em chipanzés, modificado em laboratório, não sendo capaz de se replicar em células humanas.

Fragmentos do coronavírus, especificamente a proteína spike, são acopladas a esse adenovírus por meio de engenharia genética, funcionando como veículo para que os fragmentos do Sars-Cov-2 estimulem uma resposta imunológica no organismo.

Por ser um vírus desconhecido ao corpo humano, há uma tendência de gerar uma resposta imunológica robusta, segundo o infectologista Munir Ayub, da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou em entrevista ao R7. Mas, por outro lado, segundo ele, por se tratar de uma tecnologia sofisticada, nem todos os laboratórios seriam capazes de produzir esse tipo de vacina.

Os testes começaram no Brasil em 20 de junho e englobaram cerca de 10 mil pessoas. Os testes globais chegaram a ser suspensos em setembro de 2020 depois que uma voluntária no Reino Unido ter apresentado reação adversa grave, mielite transversa, uma manifestação neurológica que afeta os nervos periféricos da coluna. Mas os testes foram retomados dias depois, após análise de um comitê independente, que definiu a doença como idiopática, ou seja, que se manifesta espontaneamente ou é de origem desconhecida.

A eficácia média da vacina de Oxford é de 70,4% de acordo com resultados preliminares da terceira e última fase de testes dos estudos clínicos publicada no periódio científico Lancet. A proteção foi de 62,1% para os voluntários que receberam duas doses completas do imunizante e subiu para 90% entre aqueles que receberam meia dose seguida de uma dose completa no intervalo de um mês. Nenhum dos voluntários imunizados apresentou quadro grave de covid-19.

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