PANDEMIA

Estudo cearense revela que 47,9% dos testes de Covid-19 foram aplicados no tempo inadequado

Especialistas reforçam que fazer o teste no tempo inadequado compromete o trabalho das equipes de saúde para quebrar a cadeia de transmissão da doença

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9 de março de 2021
Ninho Digital

Quase metade dos testes para detecção da Covid-19 realizados no Brasil foram realizados em tempo inadequado, comprometendo a sua eficácia, conclui um estudo realizado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com base em 1,79 milhão de notificações de casos suspeitos da doença em todas as 27 capitais brasileiras.

Estudo cearense revela que 47,9% dos testes de Covid-19 foram aplicados no tempo inadequado
Foto: Pexels / Reprodução

A falha no tempo adequado de aplicação acarreta uma maior chance de detecção de falso-negativos. As pesquisadoras reforçam que isso impede a equipe de saúde de isolar os suspeitos, fazendo com que não se consiga quebrar a cadeia de transmissão da doença, o que dificulta seu controle.

“No início da pandemia, tudo era muito novo. Dessa forma, a necessidade de agir com rapidez, somada à escassez de conteúdo sobre a doença e seus testes, bem como a pressão popular em realizar um teste, seja ele qual fosse, podem ter sido fatores que levaram a esse alto índice de exames realizados em períodos inadequados”, analisa a Profª Elisângela Teixeira, do Departamento de Enfermagem da UFC e uma das autoras do artigo.

Segundo a pesquisadora Paula Queiroz, que atuou na linha de frente de combate à pandemia, “havia uma pressão popular muito grande. Quando chegava um paciente à unidade à procura de testes e este recebia a informação de que teria que ficar em isolamento e realizar o teste a partir de 8 dias, por exemplo, ele não aceitava bem a informação. Alguns chegaram a alterar a data do início dos sintomas somente para fazer o teste”.

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Testes usados no Brasil

No Brasil, cinco tipos de testagem têm sido aplicados, sendo que somente os exames RT-PCR (841,0 mil testes) e teste rápido de anticorpo (827,7 mil) responderam por 92% do total de exames analisados no período. Cada um dos cinco tipos possui um tempo adequado específico para a sua aplicação.

O RT-PCR, considerado o diagnóstico padrão-ouro, deve ser aplicado de 3 a 7 dias do aparecimento dos sintomas. O teste detecta o ácido nucléico do vírus no escarro, esfregaços de garganta e secreções das amostras do trato respiratório inferior. Já o teste rápido de anticorpo, que verifica a resposta imunológica do organismo por meio da identificação de anticorpo na análise sanguínea, deve ser realizado somente a partir do oitavo dia da aparição das manifestações da doença.

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Resultados

O estudo observou que o intervalo ideal dos exames não foi respeitado em uma a cada duas testagens. No caso do RT-PCR, 47,9% das aplicações foram em prazo incorreto; já no teste rápido de anticorpo, a taxa de inadequação foi de 46,6%.

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Outros exames tiveram uma margem ainda maior de erro, no que se refere ao período de testagem. O teste rápido de antígeno, que deve ser feito de 2 a 7 dias do surgimento dos sintomas, teve 68% de suas aplicações fora do prazo, o resultado mais negativo observado na pesquisa. Assim como o RT-PCR, esse exame detecta a proteína do vírus no organismo, entretanto, possui uma sensibilidade inferior nos resultados.

A preocupação se dá porque um resultado falso-negativo – particularmente em indivíduos idosos ou cujos mecanismos normais de defesa contra infecção estejam comprometidos – pode resultar em uma alta taxa de morbimortalidade, que é o índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional. Além disso, um falso negativo aumenta o risco de transmissão para os profissionais de saúde.

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