295 ANOS DE FORTALEZA

Fortalezas: histórias de resistência no combate à Covid-19

No dia do aniversário de Fortaleza, o GCMAIS conta a história de três mulheres que mostraram força e resistência no enfrentamento à Covid-19

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13 de abril de 2021
Márcia Catunda

Fortaleza. Sinônimo de força, vigor e robustez. Não é de graça que esse é o nome desta Capital. Uma cidade que nasceu no entorno de um forte e que ensinou aos seus, os fortalezenses, a importância de ser resistência.

Fortalezas: histórias de resistência no combate à Covid-19
Claudia Araripe, Juliana Campos e Deah d'Ávila, três mulheres que contam suas histórias no combate à covid

Nesta terça-feira, 13 de abril de 2021, Fortaleza comemora seus 295 anos. Destes, o último entrou para a história como um dos mais difíceis. A pandemia de Covid-19 mudou completamente as ruas, as rotinas e até a paisagem da Cidade. Mas, mais do que isso, mudou a vida dos fortalezenses.

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Desde que a Covid-19 chegou ao Ceará, são muitos os números de infectados, de óbitos e de recuperados da doença. Mas, para além destes dados, também são muitas as histórias de resistência e força dos fortalezenses. Profissionais da saúde e pacientes que lutaram e lutam todos os dias para vencer uma das batalhas mais difíceis da história recente desta Capital.

Neste aniversário de 295 anos de Fortaleza, o GCMAIS conta três dessas histórias. São mulheres que enfrentaram a Covid-19 cara a cara, que sentiram medo, como todos nós, mas que superaram esse temor para vencer essa batalha. São pessoas que são fortalezas.

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“Apesar de todas as dificuldades, sinto que tudo que vivemos aumentou em nós o sentimento de fortaleza!”

Foto: Arquivo pessoal

Claudia Araripe ainda lembra de como foi a chegada da Covid-19 na Cidade. Como diretora de enfermagem do Instituto Dr. José Frota (IJF), ela acompanhou de perto as mudanças na equipe, afastando aqueles que tinham comorbidades, e o treinamento para enfrentar a, então, nova doença.

“Na gestão a gente acaba precisando atuar como líder, como exemplo, como abrigo e como apoio. E, por isso, eu acabei me cobrando demais. Isso foi o que me trouxe o maior impacto. Porque eu vi as minhas amigas, o meu time, com medo, sofrendo”, lembra a diretora.

Diariamente, ela acompanhava a implementação de novos protocolos, novos equipamentos de segurança e até uma nova unidade do hospital, o IJF 2. Além disso, via de perto o atendimento aos pacientes, o trabalho das equipes para salvar vidas e a tristeza dos familiares ao perderem alguém para a Covid-19.

“Fisicamente falando, eu sentia muito esse peso quando saía do hospital. É como na natureza, você está numa guerra, então, você enche o corpo de oxigênio, de hormônios, como se fosse se preparar para uma luta. Aí quando eu entrava no carro para ir embora, eu sentia meu rosto doer. Como se eu tivesse um choro guardado. E eu não conseguia chorar”, conta Claudia.

Mas, um dia, ela não suportou mais carregar todo aquele peso e chorou. Chorou por muito tempo e decidiu procurar a ajuda de um outro profissional da saúde. “A minha terapeuta falava: ‘você não é a Mulher Maravilha e não tem problema nenhum em não ser’”, diz a diretora, lembrando que ser forte não significa carregar tanto peso sozinha.

E nessa luta contra a Covid-19, Claudia Araripe possui um verdadeiro batalhão que a ajuda, não só no IJF, mas em todo o Brasil. Um batalhão que ela agradece e que dá forças para seguir em frente. “Eu amo o SUS [Sistema Único de Saúde]. Eu amo tudo que o SUS representa, tudo que ele significa. Quando a gente vai estudar o SUS, ele é um sistema de saúde muito bonito. Quando a gente vê que tem muita gente boa envolvida, que tem muita gente boa querendo fazer dar certo, querendo fazer acontecer, a gente acaba se munindo de uma energia muito forte e aí a gente não desiste”, diz a profissional da saúde.

Quando olha para trás e encara toda essa batalha contra a pandemia, lembra de todas as mães, pais, filhos e amores que foram salvos nas unidades de saúde, ela declara: “Apesar de todas as dificuldades, sinto que tudo que vivemos aumentou em nós o sentimento de fortaleza!”.

“Vejo que Deus está atuando através das mãos de cada um”

Foto: Arquivo pessoal

A enfermeira Juliana Campos foi uma das que atuou nesse combate e fez parte da mesma fortaleza que Claudia Araripe. A profissional ainda lembra do seu primeiro plantão em uma unidade de tratamento da Covid-19. Além do medo que sentiu, ela se recorda da benção e das palavras que a mãe entregou a ela na ocasião.

“‘Minha filha, vai em paz, se você tiver que morrer, você lutou pela causa mais linda que se pode lutar, pela vida de outro alguém’. Quando ouvi aquelas palavras, inicialmente achei um absurdo. Mas hoje, sei que foi o que me deu forças, me fortaleceu e transformou todo o meu amor por essa causa”, declara a enfermeira.

A força que a mãe passou para a filha foi essencial. Isso porque a batalha contra a Covid-19 não foi e não é fácil. Atuando diretamente no atendimento dos leitos do IJF, ela lembra das dezenas de pacientes que entraram lutando para conseguir respirar. Destes, infelizmente, alguns não conseguiram resistir. Porém, também foram muitos os que saíram do hospital e voltaram para os seus familiares.

“Toda vida que conseguimos salvar, é uma sensação de euforia, tal qual criança quando nasce. Nossa… Ver o seu, o meu, o nosso amor voltando para casa é alegria sem fim! É esperança para todos os outros que estão na mesma luta”, conta Juliana Campos.

A enfermeira sabe que, no momento em que o hospital acolhe um paciente, automaticamente está acolhendo, também, uma família. É por isso que, quando olha para si e para os demais profissionais da saúde, todos os dias, ela entende o quão crucial é o trabalho que estão fazendo.

“Toda vez que vejo nossa equipe se paramentando, vejo para além de guerreiros vestindo armaduras. Vejo que Deus está atuando através das mãos de cada um”, diz Juliana, acrescentando a importância da fé no seu trabalho e dos seus colegas. “É nisso que eu gostaria que se apegassem: na fé que precisamos ter aliada ao conhecimento das ciências”.

“Quando eu me sentia triste, eu sempre falava: meu corpo não pertence a essa doença. Eu sou forte e eu vou vencer”

Foto: Arquivo pessoal

Equipes de saúde como a de Juliana e Cláudia salvaram milhares de vidas em Fortaleza e, uma delas, foi a de Andréia Borges Diniz d’Avila, conhecida como Deah d’Ávila. A professora de educação física, de 29 anos, foi diagnosticada com Covid-19 no dia 1º de março, na época sentindo febre e dor de cabeça. Mas, alguns dias depois, no dia 5, ela acordou em casa com uma tontura forte e dificuldade para respirar.

“A sorte é que aqui em cima mora uma médica e ela desceu correndo, veio aqui, e a minha saturação estava 85%, e isso é muito baixo. Daqui de casa, fui direto para o hospital”, lembra Deah.

Nos próximos 17 dias, a professora ficaria internada lutando contra o vírus. Entre espera por leitos e transferência de hospitais, o quadro foi se agravando e abalando, para além dos seus pulmões, o seu emocional.

“Eu sou uma pessoa muito falante, mas fiquei dias sem falar, dias sem sorrir. Eu só queria chorar. Eu realmente não conseguia mais lutar contra a doença”, conta a professora.

Foi nessa hora que o apoio dos familiares e a fé deram forças para Deah. “A minha mãe conversou comigo, meu pai, minha madrasta, e eu disse: vou tentar mais uma vez”, lembra. Quando a doença se agravou e ela precisou ser levada para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Deah conta que “tinha tudo para ser entubada”, mas os médicos preferiram esperar por uma melhora. “Passei a noite toda acordada olhando para o aparelho e rezando pedindo para a minha saturação ficar em, pelo menos, 90%”.

Quando Deah foi para a UTI, ela estava com a saturação dos pulmões em 75%. Porém, a partir daquele momento tão íntimo de oração, ela conseguiu manter a saturação próxima dos 90% e não precisou ser entubada.

“Eu tive pessoas que me deram forças. A minha mãe, meu pai, minha madrasta, meus amigos da faculdade, meus atletas. Coisas pequenas, de você receber uma mensagem dizendo: ‘Deah, você está melhor?’, isso dá uma força muito grande. Eu recebi videos dos meus atletas, eu soube que pais ligaram para o colégio perguntando por mim. E isso vai te dando forças”, conta a professora.

E Deah foi uma fortaleza. Depois de muito lutar contra a Covid-19, venceu a batalha e conseguiu sair do hospital. A data, ela guarda com carinho: “eu nasci de novo no dia 22 de março”, comemora.

Hoje, a professora sabe que a Covid-19 não é uma doença fácil de ser combatida, mas não é impossível. “Nenhuma doença é fácil, mas a Covid-19 é extremamente difícil. Ela mexe com o emocional da gente, mas não adianta se entregar. Não é o certo, a gente tem que lutar! E a gente luta com pensamentos positivos, o pensamento positivo muda muito o seu jeito de agir. As palavras têm poder. Quando eu me sentia triste, eu sempre falava: ‘meu corpo não pertence a essa doença. Eu sou forte e eu vou vencer. Essa doença não faz parte de mim’”.

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