O Bitcoin teve uma alta absurda nos últimos anos, e hoje sua cotação passa dos 53.000 dólares, entretanto ainda vale a pena investir nesse ativo especulativo? Ele ainda mostra uma tendência de valorização? Neste momento, vale ressaltar que é muito difícil precificar “moedas digitais” devido ao fato de que não existem elementos fundamentalistas para basear sua queda ou sua valorização. As forças de oferta e demanda são as principais potências que operam nesse mercado e muitas vezes os efeitos externos são os maiores propulsores das altas ou das baixas da cotação.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que, por mais que estejamos falando sobre “moedas digitais”, as criptomoedas não possuem, sob um ponto de vista clássico da economia, todos os elementos para serem consideradas efetivamente “moedas”. As criptomoedas, por mais que sejam usadas para compra e venda de produtos e serviços, não têm seu uso aceito como universal em um determinado local; não é fácil, por exemplo, comprar pão na padaria com bitcoins ou pagar uma diária de hotel com elas. Por esse motivo, as criptomoedas não são um meio de troca ou um meio de pagamento de modo geral.
Reservas de valor
As criptomoedas possuem, no entanto, a característica da moeda vigente por ser uma unidade de conta, podendo assim caracterizar ativos e passivos. Entretanto, dificilmente as criptomoedas podem se apresentar como reservas de valor, pois, ao contrário do Real ou do Dólar, um Bitcoin pode do dia para a noite perder 20% ou mais do seu valor no mercado, o que torna imprevisível seu valor como ativo para reserva monetária.
Em um cenário internacional em que as taxas de juros estão em níveis muito baixos, vide o Brasil a 2% ao ano e outras nações com valores próximos a zero, a mudança de aplicação de recursos de renda fixa para o mercado de renda variável é visível em todo o planeta, e parte dos investidores mais ‘agressivos’ migram para as criptomoedas procurando oportunidade de melhora nos ganhos por conta de sua forte possibilidade de crescimento, o que se mostra como um “rally” de tal modo que a mais famosa das criptomoedas, o Bitcoin, se valorizou mais de 160% em 2020. A título de informação, existem outras “moedas fortes” como o Ethereum, o XRP e o Tether, que também ganham força a cada dia.
Riscos no mercado de criptoativos
Por outro lado, os reguladores dos mercados financeiros demonstram que esses ativos não possuem lastros reais, nem têm ligação junto a instituições financeiras de tal modo que a Financial Conduct Authority (FCA), maior autoridade financeira do Reino Unido, liberou uma nota em forma de alerta sobre os riscos no mercado de criptoativos:
“Investir em criptoativos, ou em aplicações e empréstimos vinculados a eles, geralmente envolve assumir riscos muito altos com o dinheiro dos investidores. Se os consumidores investirem nesses tipos de produto, eles devem estar preparados para perder todo o seu dinheiro. Como em todos os investimentos especulativos de alto risco, os consumidores devem ter a certeza de que entendem sobre o que estão investindo e sobre os riscos associados ao investimento, bem como sobre as proteções regulatórias que se aplicam a cada tipo.”
Nessa situação, é possível afirmar que para aqueles que já têm recursos aplicados em outros ativos mais seguros como fundos de investimento, ações e títulos do tesouro, entre outros, acredito sim que ainda se possa investir em “moedas digitais” como o Bitcoin e esperar uma valorização em um longo prazo, desde que o investidor esteja ciente dos riscos e de toda introdução de um marco regulatório que esses ativos possam ter que passar nos demais países.
É desaconselhável
Já para os pequenos investidores, que ainda não possuem muitos recursos, é desaconselhável alocar suas poupanças em Bitcoins e moedas afins e esperar um lucro que pode nunca vir, pois estamos falando de um mercado altamente volátil.
Vale lembrar que, neste contexto, as criptomoedas podem sofrer de duas maneiras: a primeira seria uma imposição de maior regulação dos Bancos Centrais sobre a origem, o destino, seu uso específico e a propriedade dos agentes donos desses ativos, tentando mitigar riscos de lavagem de dinheiro ou terrorismo, o que na prática descaracterizaria todo o arcabouço desses ativos.
Por outro lado, a segunda seria a exclusão de contas reais e bloqueios de corretoras pelos reguladores e instituições financeiras, que podem inviabilizar seu uso no futuro e a retirada de lucros em escala mundial. Seja como for, o futuro das criptomoedas ainda é incerto, mas, por enquanto, ainda podemos investir e especular em busca de ganhos. Coragem e sorte aos investidores!
Leia mais | Coluna +Análise com Igor Lucena