Com 33 semanas de gestação, a jovem médica Anny Gabrielly começou a sentir sintomas de fraquezas e de desfalecimento. Para a futura mamãe, a primeira gravidez, que tinha tudo para ser um momento especial, foi marcada por grandes complicações. A moça estava prestes a dar à luz a gêmeos quando foi diagnosticada com esteatose hepática aguda, doença que interfere diretamente no crescimento fetal.
Devido às complicações ocasionadas pela doença, a médica precisou ser internada e submetida ao procedimento de hemodiálise com os bebês ainda na barriga. As crianças sofreram muito devido ao parto de risco. Um deles, o pequeno Raul, não resistiu. O outro, o guerreiro José, sobreviveu. Tudo isso aconteceu pouco antes do Dia das Mães de 2018.
A batalha não parou por aí
A partir do dia 5 de maio, Gabrielly e José precisaram lutar ainda mais pela vida. A jovem foi submetida novamente a um procedimento invasivo para tentar estancar uma hemorragia no útero. “Depois do parto, eu não parei de sangrar, meu útero não conseguiu barrar o sangramento, eu tive hemorragia pós-parto, eu tomava muitas bolsas de sangue”, lembra a médica.
A expectativa de vida do pequeno José era de dois dias e de Anny era em torno de seis horas. “Ninguém sabia o que eu tinha ainda, eu sangrava bastante”, ressalta. Cogitaram a possibilidade de retirar o útero da doutora, mas a equipe médica resolveu lutar para que ela permanece com o órgão. Eles tiveram poucas horas para reverter a situação. “Graças a Deus e a esses médicos que tiveram uma ideia diferente, eu permaneci com meu útero”, agradece Gabrielly.
“Por milagre de Deus, eu sobrevivi. Aos olhos humanos, era algo muito difícil. Eu já estava com 60% do fígado comprometido e eu não ia suportar um transplante de fígado. Ficou, então, para Deus fazer o milagre”, testemunha a jovem mãe.
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O guerreiro José
O pequeno José passou 40 dias em estado grave. Devido às complicações da gestação e do parto, ele teve lesão no cérebro e ficou com algumas sequelas, como paralisia cerebral e tetraplegia. Além disso, ele desenvolveu a síndrome de West de forma sintomática, essa enfermidade é caracterizada por espasmos no corpo das crianças.
Com apoio do esposo e da família, Gabrielly lidou com os desafios que se seguiram após a alta hospitalar. Ela ressalta que essa rede de apoio foi muito importante. Nos últimos anos, a jovem passou a conciliar a rotina profissional com os cuidados especiais que o seu filho precisa. Por meio das redes sociais, ela passou a compartilhar alguns momentos do seu dia a dia com José.
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A chegada da Helena e um novo desafio
Cerca de dois anos depois, Anny e o esposo foram surpreendidos com a notícia de uma nova gravidez. “A chegada da Helena é um milagre; primeiro, porque eu poderia não estar com útero agora; segundo, eu poderia desenvolver a mesma doença que eu tive na gravidez dos gêmeos. Era uma gravidez de risco também. Mas graças a Deus deu tudo certo”, relata a médica.
Durante a gestação, o desafio que Anny Gabrielly teve que lidar foi a perda repentina do marido. Ela estava ainda com poucos meses de gravidez quando soube que o esposo havia morrido em um acidente. Novamente, um momento de dor e de sofrimento para a médica. A ajuda da família e, sobretudo, da fé até hoje tem sido indispensável para lidar com tudo o que viveu.
“Com a perda do meu companheiro, eu não sabia como eu ia resolver as demandas do dia a dia, porque eu estava grávida da Helena. Eu sou autônoma. Eu tinha a fé e a certeza de que Cristo ia ajeitar tudo, que Cristo ia cuidar de mim e da minha família. E em tudo tenho visto o cuidado de Deus. Na ausência do meu esposo, eu tive que aprender a conciliar tantas demandas, incluindo as do José que precisa de cuidados especiais”, relata.
Medicina: a quarta filha
“Eu digo que tenho quatro filhos: Raul, José, Helena e a Medicina. Eu prezo muito pela minha profissão. Eu amo o que eu faço”, conta Anny. De fato, tem sido difícil conciliar tudo, principalmente sem a ajuda do esposo. Gabrielly ainda está em processo de adaptação em relação a sua nova rotina com a filha Helena, que hoje tem seis meses, e com José, que completou três anos no início deste mês. Às vezes, ela sente que precisa se dividir em cinco para dar conta.
Contudo, a telemedicina tem sido a sua maior aliada nesse processo, pois ela consegue trabalhar em casa e cuidar da sua família. “As consultas médicas que eu faço em casa têm me proporcionado um grande alívio, porque eu posso conciliar a maternidade com a medicina dentro da minha casa”, destaca a profissional. Além disso, a família tem ajudado bastante a jovem que tem atendido pacientes de Covid-19 neste tempo.
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José pegou Covid-19
Antes de completar os seus três anos de vida, o pequeno guerreiro foi diagnosticado com Covid-19. “Mesmo José estando internado em estado grave, Deus me dava o conforto de que Ele cuidava do meu filho”, testemunha Anny. Ela cancelou toda a sua agenda para cuidar do filho. Foram cerca de 14 dias, sendo que sete deles foram na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
“Eu tive que ficar exclusivamente com o José, porque ele precisou de terapia intensiva. Fiquei sem trabalhar para cuidar dele. É muito difícil estar com o filho internado. Mas Deus esteve à frente desse período”, relata.
Quando José começou a melhorar, a médica voltou a acompanhar seus pacientes de forma virtual. “Eu sei que Deus está com os meus filhos e eu sei que Deus está também naquele momento com o meu paciente. Ter essa fé de que Deus está no controle de tudo mesmo que eu perca o controle da minha vida é o que me faz conciliar todas as demandas que hoje eu tenho”. José teve alta hospitalar dias antes do seu aniversário.
“O segredo está na fé, está em saber que Deus vai prover de alguma forma”.
Os aprendizados da maternidade
A seguir, a jovem médica Anny Gabrielly conta os principais aprendizados que a maternidade trouxe para a sua vida.
“Nos meus três anos de maternidade, a primeira lição que eu aprendi foi o quanto Deus me amou. Eu percebi o que é amar de verdade. Eu percebi o que significa o amor incondicional. Eu descobri que eu tenho muita resiliência. Eu aprendi a ter mais fé em Deus. Eu aprendi que a felicidade está nos pequenos detalhes da vida. Ela está no sorriso do José, no sorriso da Helena. A maternidade me ensinou a compreender mais a minha mãe, a amar mais a minha mãe, a entender muitas atitudes dela quando eu era só filha. Hoje, eu compreendo muito mais minha mãe, eu vejo o lado materno diferente.
A maternidade me ensinou a ser mais forte. A maternidade me ensinou a ter mais firmeza nas minhas decisões. Me ensinou a prosseguir em frente, me ensinou a ser de fato mãe. Quando eu perdi o meu esposo, a maternidade foi a grande força que eu me agarrei. Eu me agarrei ao fato de estar grávida. Foi a maternidade que me ajudou e tem me ajudado muito a superar a perda do meu esposo, que vai fazer um ano em junho. Apesar da dor do sofrimento do luto, eu tenho duas pessoas que dependem de mim. A maternidade me trouxe forças para continuar mesmo na ausência do meu esposo.
O que me traz paz é a certeza do amor incondicional que existe entre meus filhos e eu. O amor que eu sinto com os meus filhos, esse amor é o que me faz vencer essa luta da perca do meu esposo. Esse amor é Cristo. Eu vejo o reflexo de Cristo quando o José supera um desafio como esse da Covid-19, quando minha mãe me ajuda, eu vejo Cristo em cada detalhe da minha vida, cuidando de mim e dos meus filhos. Ele não me desemparou em nenhum momento. Ele me levou nos braços. Cuidando da minha família”.
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