O capitalismo como ideia de modo de produção econômica e social começou ser entendido por volta do final do século XVIII, ainda durante o período hegemônico do mercantilismo europeu, contudo sua primeira grande caracterização a nível mundial se deu pela obra do escocês Adam Smith (1776), A Riqueza das Nações, em que se vê citada a realização do comércio internacional como a base do desenvolvimento capitalista:
“…Doravante, talvez, os nativos desses países podem ficar mais fortes ou os da Europa podem ficar mais fracos, e os habitantes de todos os diferentes quadrantes do mundo podem viver naquela igualdade de coragem e força que, por inspirar medo mútuo, pode por si só intimidar a injustiça de nações independentes em algum tipo de respeito pelo direito de umas e das outras. Mas nada parece mais provável para estabelecer este escritório de igualdade do que aquela comunicação mútua de conhecimento e de todo tipo de melhoria que um amplo comércio de todos os países, todos os países naturalmente, ou melhor, necessariamente, traz consigo…..”
>>>Siga o GCMAIS no Google Notícias<<<
De maneira análoga, o comunista Karl Marx (1848) demonstra em sua obra O Manifesto Comunista que o capitalismo tem em si mesmo a capacidade de alocar dentro do sistema todas as pessoas, independente de gênero, classe social, sexo, religião ou nacionalidade:
“ … A burguesia obriga todas as nações, sob pena de extinção, a adotar o modo de produção burguês; compele-as a introduzir o que chama de civilização em seu meio, ou seja, a se tornarem burgueses. Em uma palavra, cria um mundo à sua própria imagem….”
A primeira citação, de Marx, tem cerca de 170 anos; a segunda, de Adam Smith, tem aproximadamente 250 anos. Essas passagens de duas obras clássicas de economia política capturam, talvez, melhor do que quaisquer escritos contemporâneos, a essência de duas mudanças históricas pelas quais o mundo está passando. Um é o estabelecimento do capitalismo não apenas como meio de produção dominante, mas como o único sistema socioeconômico do mundo. O segundo é o reequilíbrio do poder econômico entre a Europa e a América do Norte, de um lado, e a Ásia, do outro, devido à ascensão de nações como a China, o Japão e a Coreia o Sul.
A renda da população mundial
Pela primeira vez, desde a Revolução Industrial, as rendas das pessoas nos três continentes estão se aproximando umas das outras, retornando aproximadamente aos mesmos níveis relativos que possuíam antes da Revolução Industrial (agora, é claro, com um nível absoluto de renda muito mais alto). Em termos históricos, a regra única do capitalismo e do renascimento econômico da Ásia é que assistimos a um desenvolvimento considerável da região.
O fato de que o mundo inteiro agora opera de acordo com os mesmos princípios econômicos – produção organizada com fins lucrativos usando trabalho assalariado legalmente livre e principalmente capital privado, com coordenação descentralizada – não tem precedente histórico.
No passado, o capitalismo, seja no Império Romano, na Mesopotâmia, nas cidades-estado italianas medievais ou nos Países Baixos da era moderna, sempre teve que coexistir, às vezes, dentro da mesma unidade política, com outras formas de organização de produção social. Isso incluía caça e coleta, escravidão de vários tipos, servidão (com os trabalhadores legalmente vinculados à terra e proibidos de oferecer seu trabalho a terceiros) e a produção de pequenas mercadorias realizada por artesãos independentes ou por pequenos agricultores.
Mesmo ‘recentemente’, cem anos atrás, quando apareceu a primeira visão do capitalismo global, o mundo já incluía todos esses modos de produção. Após a Revolução Russa, o capitalismo compartilhou o mundo com o comunismo, que reinou em países que continham cerca de um terço da população mundial. Hoje, o capitalismo é hegemônico, exceto em áreas muito marginais, sem nenhuma influência sobre o desenvolvimento global.
Leia também | Ainda vale a pena comprar Bitcoin?
Visão global do capitalismo
A vitória global do capitalismo tem muitas implicações que foram antecipadas por Marx, em 1848. O capitalismo explicita, por exemplo, que quando os lucros estrangeiros são maiores do que os domésticos ocorrem trocas de mercadorias entre nações, o movimento de capital entre continentes e, em alguns casos, o movimento do trabalho das pessoas. Portanto, não é por acaso que a globalização se desenvolveu no período entre as Guerras Napoleônicas e a Primeira Grande Guerra Mundial.
Durante a Primeira Grande Guerra, o capitalismo se propagava amplamente. Não é por acaso que a globalização dos dias modernos coincide com o triunfo ainda mais absoluto do capitalismo. Tivesse o comunismo triunfado sobre o capitalismo, não haveria dúvida de que, apesar do credo internacionalista professado por seus fundadores, ele não teria gerado a globalização.
As sociedades comunistas eram predominantemente autárquicas e nacionalistas, e havia um movimento mínimo de mercadorias, capital e trabalho pelas fronteiras. Mesmo dentro do bloco soviético, o comércio internacional era realizado apenas para vender bens excedentes ou de acordo com os princípios mercantilistas de negociação bilateral. Isso é totalmente diferente do capitalismo, que, como Marx e Engels afirmaram, tem uma tendência natural de se expandir.
>>>Acompanhe o GCMAIS no YouTube<<<
O modo de produção capitalista
O domínio incontestável do modo de produção capitalista tem sua contrapartida na visão ideológica igualmente incontestável de que ganhar dinheiro não só é respeitável, mas é o objetivo mais importante na vida das pessoas, um incentivo compreendido por pessoas de todas as partes do mundo e de todas as classes. Pode ser difícil convencer uma pessoa que difere de nós em termos de experiência de vida, gênero, raça ou histórico de algumas de nossas crenças, preocupações e motivações, mas essa mesma pessoa compreenderá facilmente a linguagem do dinheiro e do lucro. Se explicarmos que nosso objetivo é conseguirmos o melhor negócio possível, eles serão capazes de descobrir prontamente se a cooperação ou a competição é a melhor estratégia econômica a adotar.
O fato de que, para usar termos marxistas, a infraestrutura (a base econômica) e a superestrutura (instituição política e judicial) estão tão bem alinhadas no mundo de hoje, não só ajuda o capitalismo global a manter seu domínio, mas também torna os objetivos das pessoas mais compatíveis e sua comunicação mais clara e fácil, já que todos sabem o que o outro lado procura. Vivemos em um mundo em que todos seguem as mesmas regras e entendem a mesma linguagem de geração de lucros; ou seja, por essa razão somos todos capitalismus.