Autorizadas desde o início de agosto a retornar com o ensino presencial, instituições de ensino particular de Fortaleza tentam agora driblar os efeitos negativos causados pela pandemia. Evasão escolar e inadimplência foram alguns dos problemas enfrentados pelas escolas.
Há um ano, um levantamento realizado pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinep- CE) indicou que pelo menos 180 instituições de ensino fecharam as portas por falta de condições financeiras para se manterem.
Em 2021, o cenário começou a ficar mais favorável, com o decreto do Governo do Estado que autorizava as escolas particulares a funcionar, ainda em abril, inicialmente no ensino infantil, depois nas modalidades fundamental e médio.
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Antecipação dos planos digitais
Uma escola particular do bairro Mucuripe, em Fortaleza, com cerca de 400 alunos matriculados, vem conseguindo passar pela turbulência da pandemia com relativa tranquilidade, em comparação com outras instituições de ensino. A pandemia fez com que os planos de inserção de ferramentas digitais no ensino fossem antecipados.
A escola precisou de apenas uma semana logo após o anúncio do primeiro decreto, em março de 2020, para preparar a adaptação para o ensino remoto.
“Nossa didática de ensino chama-se mediação do conhecimento. Unindo os nossos projetos junto à ONU, com os ODS, que são os objetivos de desenvolvimento sustentável do milênio, a gente conseguiu em sete dias se adaptar a essa nova linguagem”, explica a diretora Silvia Colares.
A escola usou a estratégia de estar em contato com as famílias dos alunos para auxiliar no acesso às plataformas de ensino à distância. O serviço de escuta psicopedagógica também foi oferecido para reduzir as dificuldades enfrentadas pelos estudantes. Nenhum dos projetos precisou ser interrompido. Todas as atividades continuaram de forma remota e online.
A oferta do ensino à distância contribuiu para que o índice de evasão na escola fosse praticamente zero, segundo a diretora. Ela diz acreditar que isso se deve ao bom relacionamento com os pais, que estavam em situações financeiras diversas. Muitos, inclusive, perderam o emprego durante a pandemia, de acordo com ela. Mesmo assim, os alunos se mantiveram matriculados.
Hoje a escola opera com 40% dos estudantes a partir dos quatro anos até o ensino fundamental na modalidade presencial. Entre os alunos de até três anos a porcentagem sobe para 75% da capacidade. Já no ensino médio, a capacidade da turma é de 50%.
Opção pelo ensino remoto
A família de Jordana Frutag, de 14 anos, optou para que ela se mantivesse no ensino remoto mesmo com a autorização para o retorno presencial. Para ela foi uma escolha vantajosa, já que a família precisou mudar de casa durante a pandemia e ir morar num bairro mais distante da escola e não haveria condições de a menina realizar o deslocamento diário para continuar estudando.
Numa outra escola particular, no bairro Meireles, o tempo foi aliado para que os profissionais da área pedagógica conseguissem elaborar um plano de ação para lidar com as mudanças repentinas trazidas pela pandemia. O diretor Sávio Paz explica que antecipar as férias escolares logo no primeiro lockdown foi fundamental para que eles conseguissem reorganizar o esquema de trabalho para oferecer uma boa qualidade de ensino.
“O primeiro ponto foi ter calma. Nós decidimos antecipar três semanas de férias para abril porque isso deu tranquilidade e tempo para que a gente pudesse se organizar e pensar nas melhores ações, principalmente pedagógicas”, afirma.
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O desafio para os professores
Para os professores, foi um desafio. A Magda Matos, que ensina na turma do infantil quatro, diz que foi preciso muita criatividade para manter os pequenos atentos no ensino online e que o retorno à modalidade presencial para as crianças tranquilizou os pais dos alunos.
“Para manter as crianças focadas na telinha, a gente teve que ter muita imaginação. Então tinha dias que a gente estava de princesa, de gatinho, algo que sempre chamasse a atenção”, explica.
Com vinte anos de experiência de ensino dentro de salas de aula, o professor de biologia da turma do terceiro ano do ensino médio Rodrigo Marques se viu pela primeira vez tendo que lidar com câmeras, sem contato presencial com seus alunos.
Agora, com a modalidade híbrida, ele divide a atenção com os que estão presentes e com aqueles que, por conta das restrições sanitárias, não podem estar na sala de aula. Ele diz acreditar que a pandemia deixará marcas profundas na educação dos jovens.
“A gente tem que encarar a realidade de que praticamente uma geração vai ter uma lacuna na sua formação devido a essa condição de uma adaptação forçada, de uma situação que eles nunca tinham vivenciado”, diz.
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