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Construção da terceira via depende de uma agenda conectada com o eleitor e não com partidos, diz estrategista político

Construção da terceira via depende de uma agenda conectada com o eleitor e não com partido, diz estrategista político

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2022, muito se fala que o cenário político brasileiro continua apontando para dois polos: de um lado o ex-presidente Lula (PT) e do outro o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido). E, ao mesmo tempo, cresce o debate em torno da chamada “terceira via”, ou seja, do desenvolvimento de uma candidatura alternativa a essas duas. Porém, será que ainda há tempo hábil para isso? Com base nas pesquisas de intenção de votos, é possível pensar nesta via alternativa?

Para o estrategista político Paulo Moura, que já atuou em mais de 100 campanhas vitoriosas no Brasil, ainda há tempo para a construção de uma candidatura de terceira via, mas é preciso uma boa estratégia. Em entrevista ao portal GCMAIS, ele afirma que este candidato de terceira via precisa apresentar uma agenda alternativa às que estão sendo apresentadas atualmente. E, para isso, é importante contar com uma equipe capaz de analisar o cenário político e traçar estratégias.

“Você tem duas condições bem firmadas”, diz Paulo Mora, referindo-se ao ex-presidente Lula e ao presidente Bolsonaro. “Isso não quer dizer a impossibilidade de outros nomes, mas, o mais importante, do ponto de vista da democracia, é a possibilidade de surgir uma terceira via, que seja legitimamente representada com uma agenda com pautas diferentes”.

Segundo o estrategista, as pré-candidaturas que se apresentam aos brasileiros, hoje, estão focadas em desenvolver uma oposição ou continuidade aos dois polos políticos, e não uma agenda própria. “O que a gente percebe é que a disputa no momento está muito presa a comportamento e ideologias do que uma agenda programática para o país. Esses outros nomes que se posicionam em condições inferiores estão quase que tentando apresentar mais do mesmo”, explica.

Paulo Moura reforça que, cada vez mais, o eleitor brasileiro está ficando mais exigente, sabendo determinar as suas pautas e as suas prioridades. Assim, um candidato a um cargo político hoje, precisa saber identificar estes anseios do povo. “O grande desafio das pré-candidaturas é se conectar com a agenda das pessoas e não com a agenda de partidos e adversários”, afirma.

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“Terceira via não é terceiro lugar”

“Existe uma diferença, tecnicamente falando, entre terceira via e terceiro lugar na intenção de votos”, explica Paulo Moura. “Nós podemos ter um candidato, ou pré-candidato, em primeiro lugar e ele ser a terceira via”.

Como exemplo desta situação, o estrategista político cita o que aconteceu no Brasil nas eleições de 2018, que levaram Jair Bolsonaro ao cargo de presidente da República. Na época, diversos analistas da conjuntura política não consideravam Bolsonaro como um candidato capaz de vencer as eleições. As pesquisas de intenção de votos, muitas vezes, reforçavam estas análises. “Foi uma surpresa, o que aconteceu. Ele foi eleito e, hoje, é o presidente da República”, diz Paulo Moura.

Diante da experiência de 2018, o estrategista demonstra um olhar crítico para as pesquisas de intenção de voto que estão sendo feitas atualmente. Ele destaca que estes estudos são importantes como um retrato do momento político do País, mas não tem efeito prático para quem deseja traçar uma via alternativa aos dois pré-candidatos atuais.

“E eu queria me posicionar como técnico: pesquisa de intenção de voto a mais de um ano das eleições não tem nenhum efeito prático. É uma bobagem”, afirma. “Como você está falando de intenção de votos a mais de um ano das eleições sem considerar o que vai acontecer para frente, do ponto de vista de contexto? Pode vir um outsider, esse que traz a terceira via, que não é do meio político. E se daqui a seis meses surgir um outsider, trazendo uma agenda conectada com a sociedade?”, destaca o estrategista.

Para Paulo Moura, este é o momento de realizar pesquisas que sejam capazes de identificar quais são os anseios da população, que perfil de governante o povo procura. “Um tipo de pesquisa que cabe a um ano das eleições são as pesquisas qualitativas, para estudar o perfil ideal que as pessoas buscam dos próximos governantes, que tipo de agenda estão buscando”.

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Estratégias para 2022

Apesar de jovem, a democracia brasileira já passou por momentos marcantes, o que faz com que, a cada eleição, a escolha do eleitor brasileiro seja mais criteriosa. É isso que afirma Paulo Moura, acrescentando que, diante desta complexidade, é essencial que os candidatos possuam uma equipe capaz de avaliar o cenário, fazer uso das ferramentas políticas e desenvolver estratégias.

Para o estrategista, a empatia com o eleitorado vai estar no centro da disputa política de 2022. “Eu acho que o político desse novo tempo tem que estar com isso em mente. Não é só com um bom discurso [que se vence as eleições], mas, muitas vezes, o que a gente chama de linguagem não-verbal vai falar muito mais com o coração do eleitor do que a mente do eleitor. O processo do voto não é racional. Estudos recentes mostram que o eleitor toma a sua decisão quando chega no coração dele e não na mente. E para isso você precisa de uma comunicação ousada, criativa e sobretudo com uma estratégia bem definida”, afirma.

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