A única forma de prevenção contra a poliomielite é a vacinação. Porém, desde 2016 a cobertura vacinal contra a pólio no Brasil tem caído e está abaixo dos 95% preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). É o que alerta a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI).
>>>Siga o GCMAIS no Google Notícias<<<
“O país que sempre atingiu 95% de cobertura vacinal começou a diminuir a taxa de cobertura e ano passado, em 2020, atingiu a meta de apenas 70% de cobertura vacinal contra a pólio. Isso significa que pelo menos 700 mil crianças ficaram sem receber a vacina. E isso abre espaço para que uma pessoa infectada, ao entrar no Brasil, possa contaminar outra pessoa e nós voltarmos a ter a contaminação da pólio”.
As doses devem ser aplicadas nas crianças aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade e, até completarem cinco anos, elas devem receber doses de reforço anualmente. Para aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação contra o vírus, o Dia Mundial de Combate à Poliomielite é celebrado neste domingo, 24 de outubro.
“Esses dias comemorativos são para que a gente possa estar alertando a população, lembrando que isso é um problema de saúde pública, um problema que a gente precisa enfrentar e que a gente tem que ter a nossa população devidamente vacinada. Esse dia é fundamental para que a gente fale que poliomielite é uma doença grave que pode matar ou deixar sequelas irreversíveis para toda a vida.”, comenta a epidemiologista.
Com a vacinação, os números de casos de poliomielite começaram a cair rapidamente e, desde 1989, não é identificado nenhum caso de infecção pela doença no País. O último registro no Ceará foi em 1988, no município de Crateús. Contudo, apesar de ter sido erradicada no Brasil e também nas Américas, a pólio continua sendo uma preocupação mundial, pois países como Afeganistão e Paquistão ainda são regiões endêmicas da doença.
“Como a poliomielite ainda não foi erradicada mundialmente, o poliovírus pode, a qualquer momento, ser reintroduzido no nosso País, uma vez que viajantes desses locais onde a doença ainda existe podem trazê-lo para cá. Por isso, para que ele não infecte as nossas crianças, é preciso que tenhamos uma cobertura vacinal adequada. No caso da pólio, conforme preconiza o Ministério da Saúde, essa cobertura deve ser de 95%”, alerta a pediatra e assessora técnica da Célula de Imunização da Secretaria de Saúde do estado, Surama Elarrat.
Conceição Saraiva, enfermeira do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), contraiu a doença com apenas cinco meses de vida e, hoje, aos 59 anos, relata como foi crescer tendo de conviver com as sequelas da pólio e os desafios que ainda enfrenta diariamente.
“Por causa da poliomielite, eu só andei com mais de dois anos, precisei usar uma bota até os 18 anos para alinhar o meu pé e fiquei com um encurtamento e uma atrofia na minha perna direita que faz com que eu tenha uma mobilidade reduzida. Graças à minha mãe, que sempre fez o que podia para eu viver melhor, consegui ter uma vida praticamente normal. Mais do que a limitação física, o que mais foi e é difícil de lidar é com o preconceito, que sofri inclusive por parte de pessoas da minha família”, relembra.
Na época em que Conceição contraiu a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, em 1962, a vacina desenvolvida pelo cientista russo Albert Sabin, adotada pelo Ministério da Saúde um ano antes, já havia chegado ao Brasil, mas ainda não estava disponível em todo o País. Em 1978, a vacina da pólio foi incluída no Programa Nacional de Imunização (PNI) e, em 1980, por meio da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, passou a ser disponibilizada para todo o território nacional com o objetivo de imunizar toda a população infantil brasileira.
Leia também | Trabalho híbrido pode piorar qualidade do sono, diz pesquisador
O que é a poliomielite?
A poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada por vírus, que pode infectar crianças e adultos. Nos casos graves, os membros inferiores do corpo são os mais atingidos e acontece a paralisia muscular.
A região das Américas, o que inclui o Brasil, conseguiu eliminar a pólio em 1994. A estratégia adotada para essa eliminação foram as campanhas de vacinação. Carla Domingues considera que o papel do PNI foi “fundamental e estratégico” para a erradicação da doença no país.
“Conseguimos manter elevadas coberturas vacinais por mais de 20 anos. Isso fez com que deixassem de acontecer mais de 10 mil casos da doença por ano. Foi um grande êxito para a saúde pública do nosso país”, diz.
>>>Acompanhe o GCMAIS no YouTube<<<