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Camilo Santana: 7 anos de trajetória e polêmicas

Foto: GCC

Sete anos e 3 meses. Esse foi o período que Camilo Sobreira de Santana ficou à frente do cargo máximo da política cearense. A partir deste sábado (02), ele vai ser chamado de ex-governador do Ceará, e deixa o Palácio da Abolição para, possivelmente, ser candidato ao Senado.

Ao longo desse período, momentos turbulentos: crise hídrica, atentados em 2019, motim da polícia militar e a pandemia de covid-19.

Assume em seu lugar a vice-governadora Izolda Cela, a primeira mulher a governar o Ceará efetivamente. O Portal GCMais traz um balanço, a trajetória e as polêmicas envolvendo Camilo Santana nesses mais de 7 anos de gestão.

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Antes de ser governador

Do deputado estadual de 2010, e depois Secretário das Cidades de cabelos escuros, ao austero homem de cabelos grisalhos e experiente, Camilo Santana teve uma rota cheia de altos e baixos no governo, e até mesmo antes de assumir o cargo. Foi com apoio do então governador Cid Gomes que Camilo foi eleito o deputado estadual mais votado do Ceará naquele ano de 2010.

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Foto: Divulgação

Escândalo dos banheiros

Já na segunda gestão de Cid Gomes, nomeado Secretário das Cidades. Foi nessa pasta que Camilo enfrentou uma das maiores turbulências de sua carreira política. Conhecido como “escândalo dos banheiros”, uma ação na justiça investigava suposto desvio de verbas para a construção de kits sanitários. A justiça do município de Horizonte chegou a bloquear os bens do então secretário, Camilo Santana, e de seus antecessores.

Na ocasião, questionado pela imprensa, Camilo disse: “O convênio vem dizendo o que tem que ter… aquilo que não estiver sendo feito, nós vamos cobrar…”

O processo foi encaminhado para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, ainda em 2012, para ser concluído nessa instância. Mais de 10 anos depois, nada foi provado contra o, agora, ex-governador do Ceará.

Foto: Divulgação

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Opinião

Para o professor de história Waldejares Oliveira, Camilo não apenas conseguiu sair ileso do episódio, como se mostrou um eficiente gestor e político hábil.

Quase 10 anos depois do escândalo dos banheiros, pouca gente lembra disso. Prova de que a gestão dele está mais associada a um trabalho eficiente e competente. Conseguiu passar pelo escândalo de maneira incólume, o que garantiu a eleição, em 2014, e a reeleição, em 2018.

Primeiro mandato

Após uma eleição difícil, veio a vitória. No dia 26 de outubro de 2014, Camilo Santana obteve 53,35% dos votos válidos contra 46,65% de Eunício Oliveira.

Em janeiro de 2015, após 8 anos com o mesmo governador, Cid Gomes, o Ceará tinha um novo nome no executivo. Camilo Sobreira de Santana, nascido na cidade do Crato em 1968, formado engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), filho do ex-deputado Eudoro Santana e da assistente social Ermengarda Santana, casado com Onélia Maria Moreira Leite de Santana.

Desafios

Logo que assumiu, em 2015, Camilo Santana teve que enfrentar o início da crise econômica causada pelo governo da presidente Dilma Rousseff (PT), do mesmo partido dele. Além disso, o abastecimento de água do estado passava por séria dificuldade. Foi preciso fazer um plano de convivência com a seca para enfrentar a escassez de água.

E não foi só isso. Ainda tinha a violência e o avanço das facções criminosas amedrontando a população. Um obstáculo antigo! Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro de 2009 até setembro de 2018, 33 mil pessoas foram assassinadas no Ceará.

Em 2017, o governo passou pela pior crise da segurança, quando foram cometidos 5 mil 134 homicídios. Já no ano seguinte, pressionado, o governador se irritou com os questionamentos de um jornalista, em entrevista coletiva, de que ele teria perdido o controle da situação.

Se não tivesse o controle você não estaria aqui, meu caro. Se não estivesse no controle você não estaria nem andando nas ruas de Fortaleza. Se você quiser eu lhe apresento todas as informações.

Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da UFC, Ricardo Moura, a questão da segurança pública, e das facções criminosas, passa por outras instâncias.

A disputa entre facções é um grande fator de violência, e um grande fator de violência letal. É importante ter em mente que os homicídios não ocorrem de forma igual nos espaços. Até mesmo em alguns bairros temos ruas, vielas e áreas descampadas que a violência está com maior intensidade.

Mesmo com tantos problemas na área da segurança pública, Camilo Santana conseguiu, com apoio de Ciro e Cid Gomes, reunir apoio suficiente para uma aliança forte na busca pela reeleição, em 2018.

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Aliança com antigo desafeto

Um desses apoios veio de um velho conhecido e rival político: o Senador Eunício Oliveira, do MDB, com quem disputou o governo em 2014. Como na política vale quase tudo, após muitos boatos, Camilo e Eunício selaram a parceria. Reunindo um grande número de partidos na base aliada, o bloco venceu a eleição de 2018 com a maior votação proporcional do país, com quase 80% dos votos válidos.

Foto: Divulgação

 

Para Waldejares Oliveira, “as obras mais próximas das pessoas, uma atuação mais perto da realidade da população, a despeito dos muitos problemas que ainda precisam ser resolvidos, fizeram de Camilo um gestor popular.”

Segundo mandato

Logo no começo de seu segundo mandato, mais uma vez, a segurança pública desafiando o gestor. A onda de ataques criminosos, atribuídos às facções, fez a crise bater à porta do Palácio da Abolição e tirar o sono de Camilo Santana.

Os ataques seriam uma resposta à nomeação do novo Secretário de Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, conhecido por ser muito rígido. O crime organizado atuava e dominava presídios, e o novo secretário mudou muitas regras até em relação às visitas. Após muitas investidas, e dezenas de presos, os ataques cessaram.

Motim

E quando parecia que a situação iria melhorar, foi a vez de um grupo da polícia militar começar um motim, com o pretexto de pedir melhores salários. Por lei, a categoria não pode fazer greve.

Policiais encapuzados invadiram instalações militares, furaram pneus das viaturas, impediram o trabalho dos colegas que não aderiram ao movimento e atacaram quem fazia patrulhamento. No período do motim, foram registrados 321 homicídios no Ceará, sendo 114 apenas em Fortaleza.

A situação só mudou quando, depois de tentar invadir um dos pontos de concentração com uma retroescavadeira na direção dos policiais, o Senador Cid Gomes foi baleado. Depois das negociações, os policiais aceitaram encerrar o motim em 02 de março daquele ano.

Foto: Agência Brasil

Pandemia

Mas era o ano 2020, e nem bem terminou o motim dos policiais, o coronavírus chegou trazendo as mazelas da pandemia de covid-19. A data era 15 de março de 2020, quando os primeiros casos chegaram ao Ceará.

A gestão de Camilo Santana passou a tomar medidas de restrição, até chegar ao extremo do lockdown, batendo de frente com o Governo Federal, que era contra o isolamento social.

Foram muitas ações tomadas para enfrentar um inimigo desconhecido no mundo. Medidas impopulares, muitas vezes, mas, mesmo contestadas, se mostraram efetivas. O governo ainda comprou e equipou hospitais e o estado tem, no momento, uma das maiores taxas de vacinação no país.

O futuro

Camilo Santana tem boa aprovação popular e chances efetivas de ser eleito senador. O jovem apoiado pelo grupo dos Ferreira Gomes, em 2010, para deputado estadual, deixa o governo do estado após mais de 7 anos com a família maior. José nasceu em plena pandemia, e se junta a Pedro, de 11 anos, e Luísa, de 9.

Agora, Camilo abre caminho para Izolda Cela ser a primeira governadora efetiva do Ceará. Com a renúncia ao governo, Camilo deve se candidatar ao Senado, e encerra mais um ciclo de governadores do Ceará com 2 mandatos.

A sequência remonta aos anos 1990, quando Tasso Jereissati governou o estado de 1995 a 2002; depois, Lúcio Alcântara não conseguiu a reeleição, em 2006; Cid Gomes governou de 2007 a 2014; e, agora, Camilo Santana, após 7 anos e 3 meses no poder.

Foto: Ascom/Vice-governadoria

 

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