Há exatos 99 anos, no dia 7 de abril de 1924, o Clube de Regatas Vasco da Gama se recusou a excluir 12 jogadores do time para se filiar à Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA). O fato ficou conhecido como a “Resposta Histórica”, símbolo de luta contra o racismo e o preconceito racial.
No elenco, o Cruz-Maltino contava com jogadores negros, operários e analfabetos, diferentemente dos clubes fundadores da AMEA: América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense. O Vasco recebeu o convite para se filiar, mas para isso teria que excluir 12 jogadores. Conforme os times da AMEA, os atletas “estariam em desacordo com os padrões morais necessários para a prática do futebol”. Dessa forma, a equipe respondeu através de um ofício assinado pelo então presidente José Augusto Prestes.
“A Resposta Histórica demarca uma postura institucional inequívoca do Vasco da Gama alinhada com as camadas populares e na defesa de um futebol democrático, sem preconceito racial/étnico e social”, diz o historiador do clube, Walmer Peres.
Um dos desdobramentos deste episódio foi a construção de São Januário, inaugurado em abril de 1927 e utilizado ainda hoje em jogos oficiais do Vasco. Até hoje, a Resposta Histórica é vista como um marco para a inclusão de negros e pessoas de classes menos favorecidas no futebol brasileiro.
Resposta Histórica do Vasco da Gama
Leia o texto na íntegra, com grafia da época:
“Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Officio No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,
M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.
As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.
Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.
Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever de V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.
(a) José Augusto Prestes
Presidente”
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