CIÊNCIA

Suor pode ajudar a identificar ureia no corpo de pacientes cardíacos

Dispositivo criado por pesquisadores da Universidade de São Paulo funciona com um sensor que mede a ureia presente no suor. O aparato é colado na pele do paciente com um adesivo e pode ser reutilizado, baixando o custo do produto.

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8 de maio de 2023
Portal GCMAIS

Um dispositivo criado por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) e do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), ambos da Universidade de São Paulo (USP), promete calcular a quantidade de ureia no suor. Com isso, a ideia é monitorar pacientes com doenças cardíacas. A vantagem do dispositivo é fornecer informações em tempo real. O estudo foi feito em parceria com o Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Suor pode ajudar a identificar ureia no corpo de pacientes cardíacos
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Níveis altos de ureia no sangue podem indicar um mal funcionamento da atividade renal, uma vez que os rins excretam essa substância. Se os órgãos não funcionam bem, o sangue não é filtrado corretamente e o corpo pode reter o sódio, aumentando a pressão arterial, o que sobrecarrega o músculo do coração. Em pacientes cardíacos, é importante monitorar regularmente os níveis de ureia e de outros marcadores para prevenir complicações.

O monitoramento é feito através de um adesivo com sensores, que é colado na testa ou outra parte do corpo do paciente para captar a transpiração. O estudo demonstrou também que o biossensor funciona sob estresse mecânico, como quando há uma dobra na pele. Isso possibilita a utilização em regiões como axilas e dobra do joelho.

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Segundo Gisela Ibañez Redin, que fez pós-doutorado no IFSC e é uma das autoras do estudo, “o objetivo no longo prazo é desenvolver um dispositivo que permita prever se pessoas com problemas cardíacos têm piora e se precisariam ser hospitalizadas”.

A pesquisadora ressalta que os eletrólitos, sódio e potássio, são os responsáveis pelas contrações no coração. A ideia é que o sódio e o potássio também sejam monitorados através de um só dispositivo. Outra vantagem da descoberta dos pesquisadores é o custo do dispositivo, que é baixo. O adesivo pode ser trocado várias vezes ao dia, mas também poderia ser lavado e reutilizado sem prejuízo.

O sensor eletroquímico mede o aumento de pH no suor, ou seja, quando ele fica mais alcalino e menos ácido. Essa mudança está relacionada à degradação da ureia na presença da enzima urease. A reação produz amônia, que tem caráter básico responsável pela elevação do pH.

O desafio dos pesquisadores agora é ajustar o sensor para captar as pequenas variações de acidez no suor de pessoa para pessoa. A chave para obter resultados precisos seria medir o pH do suor antes que a degradação da ureia ocorresse.

A pesquisa encontrou outra dificuldade, que foi preservar as substâncias durante a aferição. “Uma das tarefas mais importantes ao projetar biossensores é conseguir um material que permita que aquela biomolécula mantenha a sua função por um tempo relativamente grande”, explicou Osvaldo Novais de Oliveira Junior, que orientou os pesquisadores do IFSC.

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A situação foi revertida adicionando um eletrodo de referência junto com dois eletrodos de trabalho, um para ureia e outro para o pH, separados por uma distância de 2 milímetros. Para imobilizar a enzima responsável por catalisar a degradação da ureia em um dos eletrodos de trabalho, foi usada tinta à base de quitosana, um polímero que preserva a estabilidade da enzima. Assim, o dispositivo consegue medir o sinal tanto da ureia quanto do pH, o que permite fazer a correção.

Os cientistas fizeram testes em amostras de suor artificial e depois em amostras reais de suor de voluntários. Nos dois experimentos, o dispositivo conseguiu detectar a ureia com precisão, sem ser afetado por outras substâncias na mistura.

Trabalhos como esse do mesmo grupo de pesquisa têm sido feitos a fim de atender às demandas clínicas do Incor, buscando monitorar outros marcadores do sangue de maneira não invasiva e dinâmica. Os pesquisadores buscam parcerias com agentes do mercado que façam a produção desses dispositivos em grande escala.

O sensor é parte de um projeto maior da USP para viabilizar dispositivos vestíveis para capturar e processar biomarcadores. Uma das preocupações é que os mecanismos sejam viáveis financeiramente para o uso no sistema público de saúde.

Exames para medir fatores como esses são parte da rotina dos hospitais. O monitoramento a distância ajuda a evitar a ida desnecessária de pacientes aos centros de saúde e expô-los a infecções do ambiente hospitalar.

“Queremos disponibilizar ao nosso paciente um aplicativo no smartphone, por exemplo, que passe a medida de ureia de maneira não invasiva e que envie esses dados para a nossa infraestrutura de prontuário eletrônico e acompanhamento dos pacientes”, explicou o professor Marco Antonio Gutierrez, da FMUSP.

O trabalho de engenharia de dispositivos, com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disponibilização no mercado, requer o investimento de empresas ou instituições interessadas. Embora não existam ainda parcerias, a maior parte do caminho já foi traçada pelos pesquisadores.

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