Moradores, empresários e turistas realizaram, no último sábado (22), um protesto contra novas construções e por mais preservação na Vila de Jeri, em Jijoca de Jericoacoara, no litoral Oeste do Ceará. O grupo se reuniu no Campo de Futebol da Praia e saiu em caminhada para pedir a construção de uma cidade mais sustentável e com mais ações de limpeza. Os manifestantes argumentam que as intervenções e especulação imobiliária estão descaracterizando a Vila de Jeri.
Logo após o protesto, o grupo “Unidos por Jeri” publicou uma “Carta Aberta às Autoridades”. No documento, os integrantes afirmam que Jericoacoara passa por um processo de crescimento de construções que os moradores consideram “agressivo, puramente econômico e imobiliário” e que está ameaçando a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável da cidade.
“Assistimos, dia a dia, a tomada de decisões arbitrárias que ameaçam o futuro de populações litorâneas e não podemos mais ficar silentes, porque acreditamos, ainda, que é possível reverter os desmandos para, juntos, criarmos um turismo saudável para todos. A ausência de alinhamento entre os poderes público e privado e a força comunitária torna impossível alcançar um turismo com responsabilidade ecológica e sustentável”, diz um trecho do documento.
A carta foi direcionada à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao governador do Ceará, Elmano de Freitas, e a outras autoridades como prefeitos, secretários estaduais e municipais, além instituições que lutam pela preservação do meio ambiente e pela manutenção da cultura local.
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Manifestantes propõem oito medidas para preservação da Vila de Jericoacoara
Na carta, os manifestantes sugerem oito pontos para preservação da Vila de Jeri, em em Jijoca de Jericoacoara. Veja a seguir quais são as medidas sugeridas por eles:
1) Basta do trânsito na Vila. Chega do barulho insuportável de trânsito e estabelecimentos fora do contexto. As medidas devem ser tomadas em prol do turista e preservação da Vila de Jericoacoara, deixando de lado interesses particulares de grupos ou categorias.
2) Basta aos empreendimentos gigantescos. Fora as multipropriedades, que são questionáveis e o histórico em outros países é que não funcionam sustentavelmente, principalmente em lugares remotos como o nosso.
3) Fora vendedores “assediadores” que circulam livremente na vila atacando sem educação qualquer turista.
4) Buscamos transparência nos valores que são arrecadados no município.
5) Basta com o lixo largado ao descaso nas ruas.
6) Basta deste turismo atrelado a uma visão predatória de capitalismo que, contraditoriamente, afasta no médio prazo o turista que busca singularidade. Já estamos sentindo a queda de ocupação em nossos empreendimentos com a busca do turista por lugares com mais sossego.
7) Queremos fiscalização e punição das irregularidades. Sem ação e fiscalização da lei não tem democracia e gestão.
8) O que acontece hoje nas nossas regiões Jijoca/Jericoacoara, Cruz/Preá, Acaraú/Barrinha assusta e causa tristeza. Precisamos de uma intervenção urgente que contemple de forma coordenada a atuação da administração pública, da comunidade local e do empresariado.
Veja a carta na íntegra após protesto por preservação em Jericoacoara
Prezados Excelentíssimos Ministra do Meio Ambiente Federal, Governador do Estado, Prefeitos, Secretários Estaduais e Municipais, Deputados Estaduais e Federais, Presidentes de Associações Comunitárias e Empresariais e demais instituições que compõem a sociedade civil interessada e competentes
Enquanto a agenda “Autêntica Sustentabilidade” e “ESG” entrou finalmente no centro do debate mundial e o que deveríamos assistir na nossa região era seu fortalecimento, infelizmente o que se tem visto é um desenvolvimento agressivo, puramente econômico e imobiliário, de curto prazo, que está ameaçando a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável de uma região única e belíssima, patrimônio de todos os brasileiros.
Assistimos, dia a dia, a tomada de decisões arbitrárias que ameaçam o futuro de populações litorâneas e não podemos mais ficar silentes, porque acreditamos, ainda, que é possível reverter os desmandos para, juntos, criarmos um turismo saudável para todos. A ausência de alinhamento entre os poderes público e privado e a força comunitária torna impossível alcançar um turismo com responsabilidade ecológica e sustentável.
Nesse contexto, conscientes de que podemos contribuir de forma real e significativa para uma mudança concreta da atual situação que estamos, compartilharemos, a seguir, alguns pontos estratégicos que necessitam de ação imediata do poder público e das Instituições pertinentes:
● Que as palavras: preservar – conservar – desenvolver de forma sustentável, contenham cada vez mais, além do curto prazo, uma visão mais relevante até 2030. Jericoacoara está perdendo a sua essência – de uma vila de pescadores, no meio de dunas e oceano. Já perdemos um dos principais cartões postais (Duna Pôr do Sol), pela evolução natural, mas também pela urbanização descontrolada da região e os danos provocados pelo homem.
● Estamos em um paraíso na terra, um dos poucos que ainda sobraram. Só focar no turismo selvagem, construções megalomaníacas, mais passagens aéreas e mais “Turista Volume”, não funciona. É necessário ter licenças ambientais técnicas e consistentes, que possam analisar e entender o impacto social e ambiental de cada empreendimento. As instituições responsáveis e competentes precisam fiscalizar – atuar e punir quem desrespeita Jeri.
● O turista alinhado com a experiência compatível com Jeri é o velejador, o que ama a natureza, o que valoriza o pé na areia, o que busca tranquilidade, saúde e esporte.
● Jericoacoara conquistou um nome e reputação nacional e internacional pelos motivos já citados. Acreditamos ter construído nestes anos um “case de turismo de sucesso”, uma marca positiva do Brasil que reverbera mundialmente.
● Nossa Região detém o melhor vento do mundo e está entre as melhores praias de dunas com água doce. Muito do nosso turismo e valor dependem disso. Jericoacoara ainda é uma “Estrela Mundial de beleza”, não um condomínio de multipropriedade.
● Acreditamos que Jeri (como um todo) não é lugar para hotéis de 600 quartos. Aqui é pousada “pé na
areia”, crianças brincando livres.
● Acreditamos que carros – motos barulhentas – utvs – buggys barulhentos, não são veículos que fazem bem e agreguem valor ao nosso espaço ambiental. Motocross precisa ser feito em lugar apropriado, não em praias e dunas. Não são mais “um mal necessário”, existe muito que pode ser melhorado e regulamentado de forma razoável. Precisamos de vilas “Trânsito Zero”.
● Acreditamos que a arquitetura e a proposta de hotelaria óbvia e padronizada, deve ser revista em prol da essência e da cultura centenária destes maravilhosos vilarejos. Buscamos a preservação e não a destruição.
● Nossa proposta de turismo deve oferecer qualidade, carinho, passarinho, tartaruga, silêncio, dunas, serviços com amor, contemplação, com surpresas todos os dias, coisas simples. Não a padronização, o barulho ou quarto de hotel tradicional.
● Não aceitamos mais promessas de atuação das instituições locais sem resultados. Por isso estamos buscando, também, uma intervenção federal.
Ações Requeridas:
1) Basta ao trânsito na Vila. Chega do barulho insuportável de trânsito e estabelecimentos fora do contexto. As medidas devem ser tomadas em prol do turista e preservação da Vila de Jericoacoara, deixando de lado interesses particulares de grupos ou categorias.
2) Basta aos empreendimentos gigantescos. Fora as multipropriedades, que são questionáveis e o histórico em outros países é que não funcionam sustentavelmente, principalmente em lugares remotos como o nosso.
3) Fora vendedores “assediadores” que circulam livremente na vila atacando sem educação qualquer turista.
4) Buscamos transparência nos valores que são arrecadados no município. Qual o destino dos investimentos?
5) Basta com o lixo largado ao descaso nas ruas.
6) Basta deste turismo atrelado a uma visão predatória de capitalismo que, contraditoriamente, afasta no médio prazo o turista que busca singularidade. Já estamos sentindo a queda de ocupação em nossos empreendimentos com a busca do turista por lugares com mais sossego.
7) Queremos fiscalização e punição das irregularidades. Sem ação e fiscalização da lei não tem
democracia e gestão.
8) O que acontece hoje nas nossas regiões Jijoca/Jericoacoara, Cruz/Preá, Acaraú/Barrinha assusta e causa tristeza. Precisamos de uma intervenção urgente que contemple de forma coordenada a atuação da administração pública, da comunidade local e do empresariado.
Nesse contexto, Excelentíssimos Ministra do Meio Ambiente Federal, Governador do Estado, Prefeitos, Secretários Estaduais e Municipais, Deputados Estaduais e Federais, Presidentes de Associações Comunitárias e Empresariais e demais instituições que compõem a sociedade civil interessada e competentes, pedimos seu empenho com responsabilidade, comprometimento e, principalmente, ações efetivas e imediatas, porque este patrimônio único e brasileiro não seja destruído.
Contamos com a colaboração e ação da comunidade e dos empresários que amam esta terra, este mar, este vento. Unidos para reinventar e regenerar esta pérola brasileira recuperando sua essência e cultura nativa.
Estamos sempre à disposição e de portas abertas, para debater, dialogar e atuar em conjunto, sempre em prol de um propósito autenticamente sustentável.
Atenciosamente,
Jericoacoara: sumiço da duna do Pôr do Sol afeta balneário cearense
A duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara, no Ceará, caminha para o desaparecimento com a diminuição de tamanho ao longo dos anos. De acordo com especialistas, o processo é considerado natural, entretanto foi acelerado por ações do homem. O local é um dos principais pontos turísticos da região.
A duna do Pôr do Sol foi batizada com esse nome por ser frequentada por turistas que vão ao balneário cearense no final da tarde, para apreciar o sol poente.
A elevação de areia fica dentro do Parque Nacional de Jericoacoara, gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio). Nos anos 1970, a duna tinha 60 metros de altura e atualmente tem apenas seis metros de elevação, conforme o ICMBio.
Além do atrativo turístico, as dunas da região de Jericoacoara têm funções no meio ambiente. Elas são responsáveis por fazer a recarga de água para os aquíferos da região, locais subterrâneos onde são armazenados recursos hídricos para abastecimento de cidades.
“A areia do campo de dunas recebe água da chuva, que fica armazenada no subsolo. A água potável dos municípios da região vem do aquífero”, explica Kelly Cottens, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo. Ela é bióloga e analista ambiental, chefe do Parque Nacional de Jericoacoara.
O deslocamento de dunas de Jericoacoara em direção ao mar é um dos fenômenos que mais atrai biólogos e geógrafos. A ocorrência é maior no segundo semestre, época que os ventos ficam mais fortes. A tendência é que a duna do Pôr do Sol perca mais altura quando chegar o período.
“O vento empurra as dunas. E a duna do Pôr do Sol foi se deslocando junto com as outras e acabou encontrando o mar. Quando isso acontece, o processo erosivo é mais acelerado porque a onda bate e vai carregando a areia. A duna está no fim da sua jornada, é muito triste, mas isso é natural”, informa a gestora do ICMBio.
Existe a expectativa de que outras elevações de areia, que também estão em deslocamento, possam repor a duna do Pôr do Sol nos próximos anos. No entanto, a velocidade para esse suprimento pode diminuir em razão das ações humanas no ecossistema.
Já o professor de geografia Davis de Paula, da Universidade Estadual do Ceará, diz que processo acelerado da duna do Pôr do Sol está associado ao aumento do fluxo de turistas e à degradação ambiental na região. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ele avalia que as visitas a pé às dunas contribuem decisivamente para a redução do nível de areia.
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